BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - O Parlamento do Peru concedeu o voto de confiança ao quarto gabinete ministerial do presidente esquerdista Pedro Castillo nesta quarta-feira (9) no último dia permitido para que a questão fosse decidida. O pedido se deu com 64 votos a favor, 58 contra e duas abstenções.

O anúncio da nova composição do Conselho de Ministros foi feito há exatos 30 dias, com a indicação de Aníbal Torres para o cargo de premiê. Nas outras nomeações feitas por Castillo, Torres ocupava a pasta da Justiça.

Esse novo gabinete foi formado apenas uma semana depois do terceiro, encabeçado por Héctor Valer, que se tornou alvo de críticas depois que a imprensa revelou agressões do político à filha e à ex-mulher em 2016 --acusações que ele nega.

Torres fez um discurso de quase três horas ao Congresso em defesa da gestão de Castillo para pedir o voto de confiança ao novo gabinete. Ele enfatizou o andamento da campanha de vacinação contra a Covid no país (73% da população já está com o primeiro ciclo vacinal completo) e o aumento salarial dado a professores, mas ressaltou que "ainda falta muito por fazer em termos de segurança".

Os congressistas de oposição atacaram Torres por não citar a corrupção em seu discurso. O tema voltou a ser central no mais recente episódio da crise política na administração federal, sendo um dos argumentos a basear uma nova moção de vacância --afastamento pelo Parlamento, diferente do impeachment-- que acaba de chegar ao Congresso, ainda sem data para ser votada.

O pedido cita uma acusação de lavagem de dinheiro e de encontros fora da agenda oficial com empresários interessados em obter vantagens em obras públicas.

"Não é possível que o senhor [Torres] venha propor conciliação entre os partidos em um cenário em que o presidente tem se mostrado cada vez mais um homem corrupto", disse Eduardo Salhuana, do partido direitista Aliança para o Progresso, na sessão que começou nesta terça-feira (8).

Outro opositor, Jorge Montoya, questionou a escolha dos ministros, afirmando que "Castillo indicou pessoas despreparadas para postos-chave como a agricultura e a pesca". Já Silvana Robles, do governista Perú Libre, afirmou que o "cenário já é bastante incerto" para que "rejeitemos novamente outro gabinete".

A oposicionista Karol Paredes, do Ação Popular, criticou o premiê por não falar da necessidade de haver mais mulheres para o Conselho de Ministros --são três indicadas, apenas contra 16 homens. "Precisamos ter pelo menos 50% de mulheres no gabinete."

Do lado de fora do Congresso, manifestantes do partido de Castillo pediam a aprovação da equipe. Houve denúncias de agressões a jornalistas que cobriam os atos.

A lei peruana exige que todo o Conselho de Ministros seja renomeado quando um novo primeiro-ministro é indicado, embora nomes possam ser ratificados. No quarto gabinete, dos 19 nomes que o compõem, 6 haviam sido trocados em relação ao terceiro, além do premiê.

Nas eleições ocorridas no primeiro semestre do ano passado, Castillo derrotou por uma pequena margem Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori, e desde que assumiu o cargo passa por grande instabilidade política.

Foram dois pedidos de impugnação do pleito, a renúncia do chefe das Forças Armadas pouco antes da posse, em julho, e um primeiro pedido de vacância, rejeitado em dezembro.

O presidente também sofre com atritos dentro de seu próprio partido. Facções mais à esquerda do Perú Libre criticam o mandatário por indicar nomes considerados moderados. O primeiro premiê indicado após a eleição, Guido Bellido, respondia a processos por corrupção e apologia ao terrorismo, por haver elogiado o Sendero Luminoso, guerrilha cujo conflito com o Estado peruano deixou mais de 70 mil mortos.