Confronto em Jerusalém após protestos com milhares de pessoas deixa 184 feridos
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sexta-feira, 07 de maio de 2021
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após uma escalada das tensões durante o mês sagrado do ramadã, a polícia israelense e palestinos entraram em confronto nesta sexta-feira (7) na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, durante um protesto que pedia o fim de despejos em áreas em disputa com judeus.
Ao menos 178 palestinos e seis agentes israelenses ficaram feridos, de acordo com as equipes de resgate e a polícia. Na última sexta-feira do ramadã, dezenas de milhares de muçulmanos foram orar na mesquita de Al-Aqsa, considerada o terceiro templo islâmico mais importante do mundo.
A data coincide com a celebração do dia de Quds (nome árabe para Jerusalém), em que muçulmanos protestam para reafirmar o direito reivindicado por palestinos sobre a cidade. Houve atos lembrando a data também no Irã, no Iêmen e no Paquistão.
Como Israel retirou boa parte das medidas de distanciamento, uma vez que a vacinação avançou bastante no país, os fiéis puderam se aglomerar na mesquita e nos arredores dela. "Nosso povo permanecerá firme e paciente em suas casas, em nossa terra abençoada", disse o xeique Tayseer Abu Sunainah, no sermão.
Nessa toada, muitos dos participantes permaneceram no local após a oração para se manifestar contra a expulsão de palestinos que vivem em terras disputadas com colonos judeus. Os manifestantes levaram bandeiras e cantaram versos como "com nosso sangue e alma, vamos te redimir, Aqsa".
A polícia, por sua vez, usou jatos de água e veículos blindados para dispersar os manifestantes que se reuniam perto das casas de famílias ameaçadas de expulsão. "Se não nos juntarmos a este grupo de pessoas, a expulsão vai chegar à minha casa, à casa dela e à casa de todos os palestinos que vivem aqui", disse Bashar Mahmoud, 23, morador de um bairro vizinho. Pelos alto-falantes da mesquita, houve pedidos de calma e para que a polícia parasse de lançar granadas de efeito moral sobre os fiéis.
Segundo Wassem Bard, porta-voz da polícia de Israel, as forças de segurança apenas reagiram a ataques, já que, segundo ele, centenas de pessoas lançaram pedras, garrafas e outros objetos contra os agentes.
De acordo com a ONG Crescente Vermelho, ao menos um palestino foi ferido no olho por uma bala de borracha e outro foi atingido na cabeça por um projétil similar.
Jerusalém vive dias de tensão e protestos contra planos de retirada de famílias palestinas do bairro de Sheik Jarrah. Na madrugada desta sexta, 15 palestinos foram detidos em meio aos atos. Horas depois, houve novas manifestações na região. Na segunda (10), a Suprema Corte de Israel analisará um processo sobre despejos em Sheik Jarrah, onde a maioria dos moradores do bairro é formada por palestinos.
O local, porém, abriga um espaço sagrado para os judeus: a tumba de Simeão, o Justo, sumo sacerdote por volta do ano 300 a.C. O caso em questão envolve a retirada de quatro famílias palestinas, e o tribunal regional de Jerusalém decidiu, no início do ano, que os terrenos fossem devolvidos a famílias judias.
Pela lei de Israel, se judeus provarem que suas famílias viviam em Jerusalém Oriental antes de 1948, eles podem pedir a restituição de seus direitos de propriedade. A regra é muito contestada pelos palestinos.
O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos diz que os despejos violariam os compromissos internacionais de Israel em relação aos palestinos e pediu o fim das expulsões de moradores.
A União Europeia e os governos de Kuwait e Jordânia expressaram apreensão com a retirada dos moradores, e o governo dos EUA, que afirmou estar profundamente preocupado com as tensões em Jerusalém, pediu a suspensão de atos unilaterais, como a expulsão de famílias.
Já o governo de Israel disse que os palestinos estão "tratando uma disputa imobiliária entre partes privadas como uma causa nacionalista, para incitar a violência".
No fim de abril, a ONG Human Rights Watch publicou um relatório em que acusa o Estado de Israel de cometer crimes de apartheid e perseguição contra árabes e palestinos, o que, no direito internacional, equivale a crimes contra a humanidade. No documento com mais de 200 páginas, a ONG aponta restrições impostas à movimentação dos palestinos e a apreensão de terras para a construção de assentamentos em territórios ocupados desde a guerra de 1967 como exemplos dos crimes cometidos.