SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Patrícia Abravanel, 44, a filha número 4 do apresentador e dono do SBT Silvio Santos, 90, vem desde 2011 seguindo os passos do pai. Das cinco filhas do empresário, ela é a que herdou o carisma de Silvio Santos para apresentar programas de auditório.

Prova disso é que Patricia foi escalada para comandar parte do Programa Silvio Santos no lugar do pai, que se recuperava da Covid-19. Há também quem diga que ela é a substituta natural de Silvio, no futuro, quando ele não puder estar no palco. E o maior incentivador da carreira da apresentadora é mesmo o pai.

Muitos outros pais apoiam e incentivam os filhos a seguirem seus passos na profissão. O fotógrafo David Fernandes da Silva Santos, 33, diz que nunca imaginou fazer outra coisa na vida que não fosse fotografar.

Criança, ele acompanhava o pai, Sebastião Teixeira Santos, 55, nas igrejas para fotografar casamentos e batizados, e o ajudava carregando bolsa, luz e cabos. “Todo pai é herói do filho quando criança”, diz. Na adolescência, começou a trabalhar com o pai e fazia fotos como freelancer. “Quanto mais eu crescia, mais pegava gosto pela fotografia.”

David conta que sua casa era uma extensão do trabalho, onde conversava com o pai sobre cada sessão de fotos e também editava imagens, e tudo isso foi determinante na escolha da profissão. Hoje, é o pai que tem orgulho do filho.

“É muito legal vê-lo dar segmento à minha profissão. Ele estudou, foi para a Europa e fotografou em cruzeiros", diz Sebastião, que garante que nunca impôs nada ao filho. “Ele decidiu, gostou e começou a investir [na profissão], comprou equipamentos bons e fez cursos na área."

O corretor de seguros Edson José Sbarai, 69, é outro pai que influenciou o filho na escolha da profissão. Quando Rodrigo Sbarai ainda era adolescente, o levou para fazer cursos em todas as áreas de uma empresa na qual trabalhava. Depois, conseguiu uma oportunidade para o filho em uma corretora de seguros.

Desde 2001, pai e filho são sócios em uma corretora de seguros na região do Tucuruvi, zona norte de São Paulo. Eles também moram no mesmo prédio, vão trabalhar e almoçam juntos todos os dias. A filha de Rodrigo, que tem 11 anos, também participa da rotina da corretora.

“Eu digo que, quando ela completar 13 anos, eu me aposento e ela vem ficar no meu lugar", brinca. "De vez em quando ela vem aqui e fala que não precisamos levantar da cadeira para nada. Ela tira xerox e atende o telefone”, conta o avô.

Hoje com 43 anos, Rodrigo Sbarai afirma que o pai sempre lhe deu todo o suporte, e trabalhar com ele hoje é natural. “Meu irmão mais novo também é corretor de seguros", revela.

Raquel Pinheiro, 39, afirma que demorou anos para descobrir algo que o seu pai já sabia: que ela seria advogada. Antes de seguir a profissão do pai, da mãe e da irmã, ela se formou em publicidade e propaganda e teve uma carreira de sucesso durante 11 anos na área.

Ela morava em São Paulo e conta que, quando visitava a família no interior, os pais não davam bola para os comerciais que ela apontava na TV, dizendo que tinha participado da criação das peças --eles respondiam "legal" e continuavam a falar sobre direito.

“A minha família não sabia conversar sobre outra rotina. Eles nunca tiveram chefe, não era maldade não querer ouvir. Eu tinha que explicar o que eu fazia em comunicação e dizer que não era como o Nizan Guanaes ou Washington Olivetto”, brinca.

Raquel conta que decidiu mudar de carreira após um ultimato do pai. Ele disse que, se ela não assumisse a vocação para o direito, buscaria outro sucessor no escritório de advocacia. E a possibilidade de uma nova rotina foi o empurrão que faltava. “Não gosto de trabalhar até tarde, gosto de chegar no trabalho às 8h e sair às 17h. Se eu continuasse na publicidade nunca seria dona da minha vida.”

E foi assim que, aos 30 anos, Raquel abandonou a carreira e voltou para o interior de São Paulo para morar com os pais, fazer faculdade de direito e trabalhar no escritório da família. “No meu primeiro dia de trabalho tive a certeza absoluta de que era isso que eu queria fazer. Eu sou um poço de teimosia, penso e raciocino como advogada", afirma.

E confessa que é bom trabalhar com os pais, que têm experiência e com quem aprende muito. "É um aprendizado sem fim, antes de escrever uma petição eu peço a opinião dele”, diz ela sobre o pai, o advogado José Luiz Pinheiro, 71.

Para Pinheiro, a filha não queria enxergar a vocação para a profissão. “Ela nasceu advogada, qualquer coisa eu tinha que explicar muito bem, senão ela não aceitava e discutia tudo.” E diz acreditar que as conversas sobre trabalho durante os almoços em família acabaram afugentando a filha da profissão. Hoje, contudo, diz que vê a filha feliz e orgulhosa com a escolha. “Ela toca o escritório, eu sou só a fachada. Acho que eu que aprendo com ela”, diz o pai, orgulhoso.

SEM PRESSÃO

Psicólogos e especialistas em carreira dizem não ver problema quando um filho escolhe a mesma profissão dos pais, desde que não seja uma imposição para que sigam seus passos ou assumam negócios da família.

De acordo com a psicóloga Carolina Fantin, são vários os fatores que influenciam os filhos a escolherem (ou não) a carreira dos pais. “A exposição ao trabalho dos pais e a maneira como eles vivenciam a dinâmica do trabalho pode ser um dos fatores de influência, tanto positiva quanto negativa."

A profissional afirma que fazer pressão para que um jovem siga a carreira dos pais pode ser fonte de sofrimento. Segundo ela, o papel da família é orientar, dar suporte e apoio, para que o jovem possa fazer sua escolha livremente. “[Do contrário] esse sujeito vai abrir mão muitas vezes de algo que para ele faria mais sentido, que traria mais satisfação pessoal, mais engajamento profissional.”

Gustavo Leme, headhunter e diretor sócio da Tailor, empresa de recrutamento, também diz acreditar que a influência dos pais pode se dar de diversas maneiras. "O que eles fazem pode repelir ou aproximar [da profissão].”

Para Leme, o ideal mesmo é incentivar o filho a ser feliz. “O filho que tem que decidir [sua carreira], não o pai. Não deu certo, sai e recomeça.”

Leme também diz não ver problemas em pais que usam suas redes de contatos profissionais para ajudar os filhos a encontrarem uma colocação no mercado de trabalho. “Networking é saudável desde que seja pro bono [pelo bem].”