RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A inflação ganhou força ao longo da pandemia de Covid-19 e alterou hábitos de consumo de parte da população brasileira. O índice oficial que mede o avanço dos preços no país é o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

No acumulado de 12 meses até fevereiro, o indicador teve alta de 10,54%, conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), responsável pela pesquisa. A seguir, entenda o que compõe o IPCA e como o índice é calculado.

OBJETIVO E COMPOSIÇÃO

A intenção do IPCA é mostrar a variação dos preços para o consumidor de uma ampla cesta de produtos e serviços mês a mês. Calculado pelo IBGE desde 1980, o IPCA capta a inflação para famílias com rendimento de 1 a 40 salários mínimos.

Ao total, 377 subitens (produtos e serviços) são avaliados pelo levantamento. O IBGE define a composição do IPCA a partir da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), que aponta o que as famílias consomem e o peso de cada gasto no orçamento. Os dados mais recentes da POF são de 2017 e 2018.

Os produtos e serviços contemplados pelo IPCA estão divididos em nove grupos. São os seguintes: alimentação e bebidas, habitação, artigos de residência, vestuário, transportes, saúde e cuidados pessoais, despesas pessoais, educação e comunicação.

Os pesos de cada grupo são atualizados mês a mês, de acordo com o movimento dos preços. Segundo os dados de fevereiro, o segmento de transportes é aquele com maior impacto no cálculo do índice: 21,75%.

Esse grupo abrange produtos como os combustíveis, que dispararam na pandemia. O segundo maior peso no IPCA é de alimentação e bebidas (20,83%). Habitação aparece na sequência (16,08%).

CÁLCULO DO IPCA E INFLAÇÃO PESSOAL

Para levantar as informações do IPCA, o IBGE analisa preços verificados em 10 regiões metropolitanas do país (Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre), além de Brasília e dos municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís e Aracaju.

A coleta é feita tanto de maneira presencial quanto de forma online. Até uma apuração automatizada, por meio de robôs, é usada na hora de levantar valores de passagens aéreas e transporte por aplicativo, conforme o pesquisador do IBGE Pedro Kislanov, gerente do IPCA.

Para chegar ao índice geral de inflação, o instituto utiliza uma média ponderada dos preços, levando em consideração as variações mensais. Assim, famílias com características diferentes podem sentir o avanço dos bens e serviços de maneiras variadas, explica Kislanov.

"O IPCA abrange 377 subitens. Uma pessoa que anda de carro vai sentir mais o aumento da gasolina do que uma pessoa que não tem carro, por exemplo", diz.

"Um casal com filhos tem determinados gastos que um casal sem filhos não tem. Cada consumidor tem sua própria percepção sobre a inflação", acrescenta.

O QUE MOTIVA A ALTA DOS PREÇOS

Segundo analistas, uma combinação de fatores levou o IPCA para a faixa dos dois dígitos no acumulado de 12 meses.

Ao longo da pandemia, houve aumento dos preços administrados, como combustíveis e energia elétrica, carestia de alimentos e rupturas na cadeia global de insumos industriais.

No Brasil, a pressão inflacionária foi intensificada pela desvalorização do real. O dólar, que impacta itens como combustíveis, subiu em meio à turbulência política protagonizada pelo governo Jair Bolsonaro (PL).

No acumulado de 12 meses, o grupo de transportes, influenciado por subitens como a gasolina, é aquele com a maior alta de preços até fevereiro (18,26%). Em seguida, aparece o grupo habitação (14,61%).

RELAÇÃO COM JUROS

Como é considerado o índice oficial de inflação do país, o IPCA serve de referência para a meta de inflação perseguida pelo BC.

Em uma tentativa de conter o avanço dos preços, a autoridade monetária vem subindo a taxa básica de juros no Brasil, a Selic, que alcançou 10,75% no começo de fevereiro. Apesar disso, a inflação deve encerrar 2022 acima da meta, conforme as projeções do mercado financeiro.

Neste ano, o centro da medida de referência é de 3,50%. A tolerância é de 1,5 ponto percentual para baixo ou para cima, o que significa teto de 5%. Caso o IPCA fique acima disso, como previsto pelo mercado, o país terá o segundo ano consecutivo de estouro da meta.

DIFERENÇAS FRENTE A OUTROS ÍNDICES

O IPCA guarda diferenças em relação a outros índices do próprio IBGE. Calculado pelo instituto desde 1979, o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), por exemplo, concentra-se na inflação sentida pelos brasileiros com renda menor.

É que esse indicador reflete o avanço dos preços para famílias com rendimento entre um e cinco salários mínimos. Assim, serve de referência para correção de benefícios sociais e do salário mínimo.

Já o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), também divulgado pelo IBGE, difere do IPCA apenas no período de coleta dos números.

A variação do IPCA é calculada ao longo do mês de referência. Enquanto isso, o IPCA-15 é apurado entre a segunda metade do mês anterior e a primeira metade do mês de referência da divulgação.

Ou seja, o IPCA-15 é conhecido antes do que o IPCA. Por isso, sinaliza uma tendência para os preços.