SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A expectativa de participação do presidente Jair Bolsonaro na “motociata” prevista para 12 de junho (sábado) em São Paulo obrigou os organizadores a reprogramarem o evento, e já levam preocupação às autoridades do estado.

Oficialmente chamada de “Acelera Para Cristo”, é uma das atividades que foram pensadas para substituir a Marcha Para Jesus, maior ato evangélico do país, que foi cancelada por causa da pandemia.

Seria apenas mais uma manifestação entre tantas outras que a direita rotineiramente promove, se não fosse a decisão de Bolsonaro de comparecer.

A expectativa agora é de ao menos de 10 mil motoqueiros desfilando com o presidente pela cidade, superando atos semelhantes sobre duas rodas que já ocorreram em Brasília e no Rio de Janeiro. Alguns mais otimistas falam em 50 mil.

“Pode ser que dê um colapso no trânsito da cidade”, alerta um dos principais organizadores da motociata, o comerciante Jacskon Vilar.

Dono de uma loja de móveis no bairro do Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, ele teve de prestar esclarecimentos à polícia em março, após ter liderado um protesto em frente à casa do governador João Doria (PSDB), no bairro dos Jardins, contras as restrições ao comércio.

Segundo ele, já há confirmação de motoqueiros vindos do interior e litoral de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina.

A manifestação começa às 10h no Sambódromo do Anhembi e, pela programação inicial, termina na avenida Paulista, onde haverá um ato religioso e político, com trio elétrico.

Com o crescimento do evento, no entanto, os organizadores estão reavaliando transferir o local de encerramento para um espaço mais amplo, como a praça Charles Miller, no estádio do Pacaembu, ou a região em frente ao parque do Ibirapuera.

A dimensão da motociata está gerando uma dor de cabeça logística. Nesta semana, Vilar teve reuniões com a Polícia Militar e compareceu ao comando do Segundo Exército para discutir os detalhes da segurança de Bolsonaro e dos participantes.

Uma nova conversa com a PM está marcada para terça-feira (7) para fechar o trajeto e o esquema de segurança. Segundo Vilar, a corporação está sendo bastante prestativa, apesar de ser ligada a Doria, hoje um dos principais adversários de Bolsonaro.

“A PM está tranquila. Só o governador calça apertada que não deve estar”, afirma, em referência ao apelido dado pelos bolsonaristas a Doria.

A motociata já estava marcada antes dos atos da esquerda que ocorreram no final de semana na avenida Paulista, mas agora será vista, inevitavelmente, como uma resposta bolsonarista.

Também devem participar lideranças evangélicas, reunidas no Conselho de Pastores do Estado de São Paulo. Entidades de caminhoneiros prometem apoiar o ato, embora não pretendam levar seus veículos para a Paulista ou mesmo outro local que venha a ser definido, por falta de espaço.

A previsão de uma grande aglomeração foi discutida nessa semana em reunião entre autoridades do governo Doria, do Legislativo e Judiciário paulistas e do Ministério Público.

Se houver desrespeito às regras sanitárias, promotores poderão entrar com ações com base no artigo 267 do Código Penal (causar epidemia).

“Estamos atentos a todos os movimentos que podem gerar aglomeração. Se a população quer se manifestar, é seu direito, mas que se faça de forma segura. Se acontecer algo fora desse esquadro, os promotores poderão apurar responsabilidades”, disse o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mario Sarrubbo.

Uma questão iminente é se Doria vai seguir o exemplo de seu colega maranhense, Flávio Dino (PC do B), que autuou Bolsonaro por gerar aglomeração em visita recente ao estado.

Ao menos formalmente, os participantes da motociata terão a recomendação de usarem máscara.

“Tem que usar máscara, tem que andar conforme a lei”, diz Vilar, que pretende divulgar na semana que vem um vídeo com recomendações sanitárias para o evento. A dúvida é se os participantes, especialmente o presidente, vão segui-las.