Com depoimento de advogada, Aziz diz que CPI 'não encerra' trabalhos na próxima semana
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terça-feira, 28 de setembro de 2021
MÔNICA BERGAMO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A CPI da Covid não deve mais ser encerrada na próxima semana, como gostariam senadores governistas e até mesmo integrantes do G7, grupo de parlamentares de oposição e independentes que formam maioria na comissão.
Uma parte deles pressionava o senador Renan Calheiros (MDB-AL) a finalizar o relatório da CPI nos próximos dias.
O depoimento, nesta terça (28), da advogada Bruna Morato, que representa médicos que trabalharam na Prevent Senior e acusam a operadora de obrigá-los a receitar medicamentos do "kit Covid", no entanto, mudou o clima.
"Não encerra", afirmou o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), à coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, depois de questionado se a previsão de encerramento seguiria sendo a próxima semana.
Ele afirmou que uma reunião de senadores deve bater o martelo sobre o assunto, mas que a possibilidade é a de que os trabalhos sejam prorrogados.
Pelo regimento, a CPI pode funcionar até novembro. Mas a previsão é de que acabe em outubro.
O senador Renan Calheiros já adiou mais de uma vez a apresentação do relatório, diante de fatos novos surgidos na CPI.
Sobre o depoimento da advogada de médicos da Prevent, Renan afirma que "o caso é um dos mais estarrecedores até aqui. E, o que deu para perceber, a Prevent Senior fez esses experimentos macabros para agradar o presidente Bolsonaro e o ministério da Economia com fraudes, falsificações e experimentos inumanos. A Prevent rasgou o juramento de Hiporcátes e o Código de Nuremberg de uma só vez".
A advogada Bruna Morato afirmou à CPI que a operadora implementou uma política de "coerção" para induzir os médicos a receitarem o chamado "kit Covid", o que eles acabaram fazendo por medo de sofrerem retaliação.
Ela afirmou também que seu escritório, em São Paulo, foi invadido, em uma situação que definiu como "muito estranha".
"A Prevent Senior tem uma política de coerção, que ficou bem evidente após a denúncia. Na verdade, mais evidente ainda com o vazamento de alguns áudios [de médicos discutindo com diretores da operadora]. Todos os clientes [profissionais que ela representa] que resistiam [a receitar o "kit Covid"] foram demitidos da operadora, então existiam aqueles que já tinham sido demitidos e que achavam aquela situação repugnante. Outros, que ainda estavam na operadora, ainda lutam pelo bem-estar dos pacientes. Então, quando eles me procuraram, eles pediram que eu nem os identificasse para o próprio jurídico da empresa, porque eles sabiam que, se fossem identificados, eles seriam demitidos. E volto a dizer: são bons médicos", afirmou ela à CPI.
Em depoimento à CPI da Covid, a advogada Bruna Morato afirmou que a direção da Prevent Senior buscou aproximação com o chamado "gabinete paralelo", estrutura de aconselhamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para temas ligados à pandemia, fora do Ministério da Saúde. A defesa dos médicos cita que existiria um "pacto" e "estratégia" pró-cloroquina para evitar o fechamento da economia.
Bruna Morato afirmou que seus clientes relataram que havia uma preocupação da diretoria-executiva da Prevent Senior de se aproximar do Ministério da Saúde, para contornar as críticas que vinham sendo feitas pelo então ministro Luiz Henrique Mandetta.
"Durante essa aproximação, ele buscou o apoio, parece que tinha um médico, que era primo ou sobrinho do ministro Mandetta. Essa aproximação não teria dado certo", afirmou.
Os executivos da operadora então tentaram contato através de um "conjunto de assessores" que estariam auxiliando o presidente Jair Bolsonaro. Nesse contato, relataram os clientes da advogada, também foi informado que havia interesse do Ministério da Economia.
Ela citou no depoimento os nomes dos médicos Anthony Wong, Nise Yamaguchi e Paolo Zanotto.