SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com centenas de pessoas na fila por uma vaga, 19 capitais brasileiras estão com mais de 90% de ocupação nas UTIs públicas para pacientes graves da Covid-19, mesmo com a criação de 520 UTIs desde a semana passada. Os dados são de levantamento feito pelo jornal Folha de S.Paulo com prefeituras e governos estaduais na segunda-feira (29).

Cinco capitais já não têm vaga nenhuma disponível --Porto Alegre, Curitiba, Porto Velho e, pela pela primeira vez com ocupação máxima, Campo Grande e Rio Branco.

Na capital do Acre, os dois hospitais de referência para Covid-19 estão com 100% das UTIs ocupadas desde 26 de março. No Hospital de Clínicas de Rio Branco, a taxa de ocupação dos leitos clínicos era de 110%.

Apesar de a rede pública de saúde estar colapsada desde o início do mês, não foram criados leitos de UTI no estado. O médico Guilherme Pulici, que atua no Pronto-Socorro de Rio Branco, contou que a falta de médicos é um dos entraves.

"Esse é um problema histórico no Acre, que, com a pandemia, se agravou. As equipes estão sobrecarregadas", disse o médico, que relatou ainda que há escassez de insumos, como medicamentos e equipamentos de proteção.

Já em Mato Grosso do Sul, apesar de o estado ter reduzido a superlotação de hospitais, a ocupação de UTIs está em torno de 99%, com 177 pacientes aguardando vaga.

No Paraná, que abriu 113 vagas de UTI em uma semana, a ocupação segue em 92%, com 491 pessoas à espera de leito. A capital, Curitiba, enfrenta um dos piores cenários, com todas as UTIs ocupadas.

Essa situação levou Curitiba a estender o lockdown até 5 de abril. As duas primeiras semanas de lockdown trouxeram resultado, segundo a secretária de Saúde do município, Márcia Huçulak. "Muita gente diz que lockdown não funciona, mas a gente teve uma redução da taxa de replicação", disse ela. A taxa de transmissão do vírus caiu de 1,41 para 0,89.

Porto Alegre já completa cerca de um mês com superlotação de UTIs. A abertura de 30 leitos nos últimos dias não foi suficiente e há ainda dez pacientes sem vaga.

Mesmo com o sistema colapsado, o prefeito, Sebastião Melo (MDB), tentou reabrir o comércio, bares e restaurantes nos finais de semana, mas foi impedido pela Justiça, pois descumpriria o decreto estadual vigente.

Transferência Em Porto Velho, onde há dois meses não tem vagas de UTI, doentes continuam sendo transferidos para outras cidades. Nesta terça-feira (30), 88 pessoas esperavam na fila em todo o estado de Rondônia.

Santa Catarina também segue com cenário crítico de internações, com 98% das UTIs ocupadas, mesmo com a criação de 74 vagas na última semana. Há 363 pessoas aguardando por vagas. Na capital, Florianópolis, havia apenas um leito de UTI disponível nesta terça.

A criação de dez vagas também não foi suficiente em Goiânia. De 98% de ocupação na semana anterior, o índice chegou a 99% nesta semana na capital de Goiás, que tem 300 leitos intensivos na rede pública destinados a pacientes com Covid-19.

Mesmo cenário em Pernambuco, que, mesmo com novos leitos, segue com seu sistema de saúde em colapso. Em uma semana, 128 vagas foram criadas, mas a taxa de ocupação continuou em 97%. E, mesmo diante desse quadro, o estado inicia a partir desta quinta-feira (1) a reabertura das atividades econômicas. Escolas públicas e particulares reabrem no modelo presencial na próxima segunda (5).

Já o estado de São Paulo, pela primeira vez desde fevereiro, registrou uma pequena queda no total de internados com suspeita ou confirmação de Covid. A oscilação foi tímida, de 67 pessoas. No sábado (27), havia 12.983 internados em UTIs, contra 12.916 no domingo. No dia 29, houve nova alta em relação ao dia anterior, mas abaixo do pico de sábado.

Em São Paulo, do total de 31.041 pacientes, 12.946 estavam em terapia intensiva e 18.095 em enfermarias. As taxas de ocupação das UTI alcançaram 92,3% no estado e 92,6% na Grande São Paulo.

"Essa queda das internações em UTI é puxada para baixo pela Grande São Paulo - 56,8% do total de internados em UTIs no estado estão concentrados nestas regiões, 3,8% na Baixada Santista e 39,4% no interior", explica Wallace Casaca, coordenador da plataforma SP Covid-19 Info Tracker, criada por pesquisadores da USP e da Unesp com apoio da Fapesp para acompanhar a evolução da pandemia.

Se comparados os dias 22 e 29 de março, também observa-se alta nos leitos ocupados nas UTIs. Segundo a Secretaria Estadual da Saúde, no período, foram criados 662 leitos de UTI Covid-19 no estado, aumentando de 13.241 para 14.030.

Na cidade do Rio de Janeiro, a ocupação das UTIs também está acima dos 90% --nesta semana, atingiu 95%. A fila cresce continuamente: na capital saltou de 10 pacientes no início do mês para 172 nesta segunda. No estado, são cerca de mil pessoas, já com uma espera média de mais de 24h por transferência, registrada nesta terça.

O Distrito Federal enfrenta um dos piores momentos da pandemia, com 390 pessoas à espera de um leito de UTI e ocupação de 97,79% nesta terça.

Ao todo, há 430 leitos disponíveis pelo governo do Distrito Federal, sendo que só nove estão vagos. Desde a última semana, houve a criação de uma vaga e há a expectativa de três hospitais de campanha.

Após três semanas de medidas restritivas, parte das atividades voltou a funcionar na segunda. Entretanto, o toque de recolher de 22h às 5h continua.

Em Belo Horizonte, enquanto a rede privada opera com 104,7% de ocupação nas UTIs Covid, a rede pública tem ocupação de 96,8%, apesar da expansão de leitos.

No dia 24, o governo Romeu Zema (Novo) anunciou que a onda roxa, fase mais restritiva do plano que orienta a abertura de atividades, seria estendida até a Páscoa.

Segundo dados do governo da semana passada, a taxa de incidência de Covid-19 aumentou no estado, o que alavancou também as internações. No início da semana, a ocupação dos 2.899 leitos de UTI públicas reservados para a Covid era de 91,8%.

Na segunda pela manhã, 820 pacientes com suspeita ou infecção confirmada aguardavam internação em UTI no estado e a ocupação era de 91,8%. Na quarta-feira anterior, eram 714. Os números, segundo a Secretaria Estadual de Saúde, são dinâmicos e podem mudar.