SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Ao menos 70 pessoas morreram em um ataque a uma prisão em uma área controlada por grupos rebeldes no Iêmen, disseram equipes de resgate nesta sexta-feira (21), após uma série de bombardeios que atingiram Saada, no norte do país, durante a noite.

O número de mortos ainda tende a aumentar, segundo grupos de ajuda humanitária na região. Os socorristas começaram a retirar corpos dos escombros da prisão e a empilhar cadáveres desmembrados, segundo imagens divulgadas pelos rebeldes houthis.

A província de Saada é controlada pelos rebeldes houthis, grupo apoiado pelo Irã que conseguiu tomar a capital e derrubar o presidente do país em 2015, mas é combatido por uma coalizão militar de países da região liderada pela Arábia Saudita. Esta é, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas) a crise humanitária mais grave do mundo.

Durante a noite, outro bombardeio da coalizão atingiu a cidade portuária de Hodeida, um posto rebelde no oeste do país, interrompendo o sinal de internet no país.

Segundo a ONG Save The Children, pelo menos três crianças morreram nesse ataque. "Aparentemente, elas estavam brincando em um campo de futebol próximo quando os mísseis caíram", disse Gillian Moyes, diretora do braço iemenita da organização.

O hospital da cidade recebeu cerca de 200 feridos e disse que está sobrecarregado e não pode receber mais pacientes, informou a organização Médicos Sem Fronteiras. "Ainda há muitos corpos no local do atentado e muitos desaparecidos", disse Ahmed Mahat, chefe da delegação da entidade no país.

A agência oficial de imprensa saudita informou que a coalizão militar lançou "bombardeios destinados a destruir a capacidade das milícias houthis de agir em Hodeida", contra um "centro de pirataria e crime organizado". O porto de Hodeida é uma área estratégica por onde transita a ajuda humanitária ao Iêmen e é um bastião fundamental no conflito.

Essa escalada do conflito no Iêmen ocorre depois que os rebeldes houthis sequestraram um navio com bandeira dos Emirados no Mar Vermelho no início de janeiro. A coalizão então ameaçou bombardear os portos controlados pelos rebeldes se o navio não fosse liberado.

Na segunda-feira (17), milícias houthis lançaram um ataque de drones sem precedentes a instalações petrolíferas em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, deixando três mortos e seis feridos. Desde então, a coalizão militar intensificou ataque aéreos contra os houthis.

O Conselho de Segurança da ONU condenou o ataque houthi aos Emirados Árabes Unidos em um comunicado divulgado nesta sexta-feira, em que destacou "a necessidade de responsabilizar os agentes, organizadores, financiadores e patrocinadores desses atos repreensíveis de terrorismo e levá-los à justiça". Os Emirados Árabes Unidos se juntaram ao conselho neste mês como membro temporário.

O assessor presidencial dos Emirados, Anwar Gargash, afirmou que o país exerceria o direito de se defender, em comunicado enviado ao emissário dos Estados Unidos, Hans Grundberg, que foi publicado pela agência estatal WAM.

Os Emirados desempenharam um papel fundamental no estabelecimento, treinamento e armamento das chamadas "forças da Brigada dos Gigantes", grupos qye permitiram que as forças do governo recapturassem uma província no sul do Iêmen que era controlada pelos rebeldes.

Questionada sobre os ataques aéreos nesta sexta-feira, a embaixadora dos Emirados Árabes Unidos, Lana Nusseibeh, disse a repórteres: "A coalizão se compromete a cumprir a lei internacional e a resposta proporcional em todas as suas operações militares".

Segundo a ONU, a guerra no Iêmen deixou 377 mil mortos entre vítimas diretas e indiretas desse conflito que já dura sete anos. O atual conflito no Iêmen remonta a 2014, quando rebeldes xiitas do grupo houthi se insurgiram e tomaram o controle da capital, Sanaa, forçando a renúncia do então presidente Abd Rabbu Mansour Hadi, em janeiro de 2015.

Dois meses depois, uma coalizão militar de países do Golfo, liderada pela Arábia Saudita e com apoio logístico e de inteligência dos Estados Unidos, começou a atacar os grupos rebeldes. Em setembro daquele ano, Hadi voltou atrás em sua renúncia e passou a "governar do exílio".

Os houthis apoiavam a volta ao poder do ex-ditador Ali Abdullah Saleh, que comandou o país de 1978 a 2012 --quando foi um dos líderes a cair na Primavera Árabe. Em dezembro de 2017, porém, Saleh rompeu com os insurgentes e foi morto dois dias depois. Hoje, a guerra no Iêmen se transformou em uma espécie de conflito por procuração, opondo Irã, que apoia os houthis, e Arábia Saudita, que lidera a coalizão que ataca os rebeldes.