BRASÍLIA, DF, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os irmãos Ciro Gomes (PDT), pré-candidato à Presidência da República, e Cid Gomes (PDT), senador pelo Ceará, foram alvo nesta quarta (15) de uma operação da Polícia Federal sobre suspeita de desvios de recursos públicos nas obras do estádio Castelão, em Fortaleza.

A PF cumpriu 14 mandados de busca e apreensão determinados pela Justiça, incluindo endereços dos irmãos Gomes, como parte de um inquérito iniciado em 2017, que contou com relatos de quatro delatores e que trata de acusações referentes ao período de 2010 a 2013.

A ação de uma corporação ligada a Jair Bolsonaro (PL) contra adversários políticos do presidente para tratar de suspeitas de quase uma década atrás uniu a esquerda em questionamentos ao Executivo, sob a justificativa de eventual perseguição política.

Após troca de ataques com petistas e outros setores da esquerda nos últimos meses, desta vez Ciro recebeu sinalizações públicas de apoio dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, do PT, a quem agradeceu, e de nomes como Guilherme Boulos, do PSOL.

Segundo nota da PF, as suspeitas que motivaram a operação são de "fraudes, exigências e pagamentos de propinas a agentes políticos e servidores públicos decorrentes de procedimento de licitação para obras" no estádio, entre os anos de 2010 e 2013. Lúcio Gomes, irmão de Ciro e Cid, também foi alvo de ação de busca e apreensão.

"Eu tenho absoluta segurança de que é ordem de Bolsonaro, tal a violência e arbitrariedade", afirmou Ciro ao jornal Folha de S.Paulo. Em redes sociais, ele disse que não ter mais dúvida de que o atual presidente "transformou o Brasil num Estado Policial que se oculta sob falsa capa de legalidade".

O presidenciável escreveu também não ter dúvida de que "esta ação tão tardia e despropositada tem o objetivo claro de tentar criar danos à minha pré-candidatura". Ele termina o texto dizendo que ninguém vai calar sua voz.

O juiz Danilo Dias Vasconcelos de Almeida, da 32ª Vara Federal do Ceará, determinou o afastamento do sigilo telefônico, bancário, fiscal e telemático dos irmãos e de outros alvos da operação.

Segundo os documentos, a investigação envolve a suspeita de pagamento de propinas a servidores públicos e agentes políticos do Governo do Ceará na gestão do então governador Cid Gomes.

De acordo com a PF, a fraude teria ocorrido para que a Galvão Engenharia obtivesse êxito no processo de licitatório para realizar reformas no estádio. O valor da concorrência foi de R$ 518 milhões, oriundos do BNDES.

Há ainda a suspeita, segundo a corporação, de que na fase de execução contratual tenham sido pagas vantagens indevidas para que o governo repassasse valores que estavam supostamente retidos.

A polícia fala na representação que há indícios de que a propina era paga muitas vezes disfarçada de doações eleitorais para os irmãos Gomes.

Dois advogados que ocuparam o cargo de procurador-geral do Ceará também foram alvos da operação. Eles são suspeitos de atuar no processo licitatório e promover uma blindagem aos políticos.

A apuração da PF contou com delações premiada de executivos da Galvão Engenharia. Os pagamentos de propina, diz a polícia, eram feitos em espécie tanto em um escritório de advocacia quanto na residência de um dos advogados investigados.

"Quero prestar minha solidariedade ao senador Cid Gomes e ao pré-candidato a presidente Ciro Gomes, que tiveram suas casas invadidas sem necessidade, sem serem intimados para depor e sem levar em conta a trajetória de vida idônea dos dois. Eles merecem ser respeitados", escreveu Lula em rede social.

Dilma Rousseff, que havia sido chamada em outubro pelo pedetista de "uma das pessoas mais incompetentes, inapetentes e presunçosas que já passaram pela Presidência", também saiu em sua defesa.

"Minha solidariedade ao senador Cid Gomes e ao pré-candidato Ciro Gomes. Suas casas foram invadidas, sem terem sido sequer intimados a depor. Como cidadãos brasileiros, merecem ser tratados com o respeito às leis vigentes ao país. Repudio o arbítrio e a perseguição a eles", escreveu.

"A operação de hoje contra Ciro e Cid Gomes tem cara e cheiro de perseguição política. Requentar um caso de 10 anos atrás para fazer uma operação midiática é o mesmo modelo que o lavajatismo utilizou desde os primórdios. Lawfare e perseguição devem ser condenados sem seletividade", reforçou Guilherme Boulos (PSOL).

De acordo com Ciro, a origem do inquérito é uma delação premiada de "uma pessoa que diz na própria delação que nunca falou comigo".

"O Brasil todo sabe que o Castelão foi o estádio da Copa com maior concorrência, o primeiro a ser entregue e o mais barato construído para Copas do Mundo desde 2002. Ou seja, foi o estádio mais econômico e transparente já feito para a Copa do Mundo", disse.

O pedetista afirmou ainda que foi arrolado como agente público apesar de não exercer cargos públicos desde 2010, quando cumpriu mandato de deputado federal.

"Não tenho nenhuma ligação com os supostos fatos apurados. Não exerci nenhum cargo público relacionado com eles. Nunca mantive nenhum tipo de contato com os delatores."

O senador Cid Gomes chamou a operação da PF de "molecagem". "O presidente Bolsonaro, que é um moleque maior, está aparelhando a Polícia Federal. Ele recrutou um medíocre, aliado de seus familiares, para dirigir a Polícia Federal (se referindo a Paulo Maiurino). Vou recorrer para ter de volta meu aparelho de telefone, meu Ipad, minha vida está ali ", disse Cid, em entrevista coletiva concedida na Assembleia Legislativa do Ceará.

Ele defendeu que os contratos para a reforma do Castelão foram feitos corretamente e que houve aprovação das contas pelos órgãos fiscalizadores, como o TCU (Tribunal de Contas da União).

Segundo a decisão judicial, a PF diz ter feito quatro medidas para verificar as informações dos colaboradores: batimentos dos fluxos dos pagamentos de propinas com as datas dos desembolsos efetuados pelo Governo do Ceará pela execução das obras contratadas; exame do teor dos emails apresentados pelos executivos da empresa; análise dos atos que compuseram o procedimento licitatório; análise das vinculações existentes entre agentes públicos que teriam proporcionado a vitória da construtora no certame da Arena Castelão e suas ligações com os irmãos Cid, Ciro e Lúcio Gomes.

Na terça (14), na primeira pesquisa Ipec depois da filiação de Sergio Moro ao Podemos e do início das articulações para a candidatura do ex-juiz ao Planalto, Lula aparece liderando com folga as intenções de voto da corrida eleitoral de 2022, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro.

No primeiro cenário de candidatos à Presidência, Lula tem 48% das intenções de voto, Bolsonaro, 21%, e Moro, 6%, empatado tecnicamente com Ciro, que tem 5%. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%.

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