ANGUILLARA VÊNETA, ITÁLIA (FOLHAPRESS) - Anguillara Vêneta acordou blindada nesta segunda (1º), já que a cidade localizada na região do Vêneto, no norte da Itália, que há uma semana vive a polêmica provocada pela concessão do título de cidadão honorário a Jair Bolsonaro, foi palco de atos contra e a favor da homenagem para receber o presidente.

Assim, o centro do município foi fechado, e a rua do local em que o líder brasileiro recebeu o título das mãos da prefeita Alessandra Buoso, ligada ao partido de ultradireita Liga Norte, bloqueada. Do lado de fora, dezenas de policiais, alguns dos quais enviados de Rovigo, fizeram a segurança nos protestos.

A honraria foi aprovada a toque de caixa por Buoso, que a justificou afirmando que "era uma homenagem aos italianos que haviam partido para o Brasil, uma homenagem às origens vênetas", uma vez que foi em Anguillara Vêneta, uma cidade de 4.000 habitantes, que o bisavô de Bolsonaro nasceu.

Antônio Spada, vereador da oposição, foi um dos primeiros a chegar. A jornalistas ele afirmou que a prefeita se contradiz, "pois apresentou outra proposta, dizendo que concederia a cidadania porque o presidente promove a história vêneta". "Mas Bolsonaro nunca falou nem mesmo sobre Anguillara".

Os manifestantes contrários ao líder brasileiro começaram a chegar por volta das 9h, no horário local, na praça Matteotti, espaço autorizado pela polícia para a realização do protesto. Mesmo debaixo de chuva fina, a italiana Gilberta Zanon, 78, fez questão de participar do ato. "O que a prefeita fez é algo obsceno. Como é possível dar um reconhecimento a uma pessoa que destrói os direitos dos outros?", disse ela.

Um outro grupo, de cerca de 20 pessoas pró-Bolsonaro, também chegou cedo e, sem perceber, uniu-se à manifestação contrária. Diene Matias, 58, que veio de Oderzo, a 130 km de Anguillara, estava entre eles.

Enquanto dizia que Bolsonaro é "o único político limpo e não corrupto", um idoso passou ao lado e lhe disse para voltar ao Brasil, "visto que adorava tanto o presidente". Matias chamou a polícia, que lhe avisou que aquela não era a manifestação da qual ela queria participar.

Do outro lado da praça, militantes do partido da Refundação Comunista gritavam frases como "Salvini cretino, Bolsonaro é assassino", em referência a Matteo Salvini, senador símbolo da ultradireita italiana e um apoiador da família do presidente brasileiro no país. Salvini deve se encontrar com Bolsonaro nesta terça (2), durante homenagem em Pistoia aos pracinhas que combateram na Segunda Guerra.

Durante uma hora, os movimentos sociais e as legendas que organizaram o ato -Partido Democrático, Refundação Comunista, CGIL, o maior sindicato dos trabalhadores da Itália, ANPI, que reúne membros da resistência italiana ao fascismo, além de organizações não governamentais- dividiram as indignações.

Simpatizantes do presidente começaram a chegar por volta das 11h. Cantando o hino nacional e vestidos com camisas da seleção brasileira, eles se espalharam pela cidade. Reuniram-se em frente à prefeitura e depois se deslocaram até a Villa Arca del Santo, onde o presidente recebeu o título de Buoso.

Bolsonaro chegou ao local por volta das 12h20. Após empurra-empurra entre manifestantes e profissionais da imprensa, o presidente saiu rapidamente do local para cumprimentar os simpatizantes, que gritavam "mito". Em meio à confusão, uma voz destoou: uma mulher gritou "genocida".

As manifestações contra a decisão da prefeita começaram já na sexta-feira, (29), quando alguns manifestantes ligados ao grupo ambientalista Rise Up 4 Climate Justice jogaram esterco na entrada da prefeitura e picharam a fachada com "Fora Bolsonaro". Para o grupo, "o presidente representa o modelo capitalista, predatório, destrutivo e colonialista contra qual lutamos".