SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Cinco deputados dos Estados Unidos fizeram uma visita a Taiwan nesta sexta-feira (26) em meio às tensões entre Washington e Pequim, que considera a ilha uma província rebelde e acusa os americanos de interferirem em assuntos internos da China.

Os militares chineses, por sua vez, fizeram patrulhas no Estreito de Taiwan, repetindo o exercício feito no início do mês, por ocasião da visita de outra delegação americana em Taipé.

Segundo o comando do Exército de Libertação Popular, foram organizadas forças navais e aéreas em estado de prontidão de combate na região.

"As ações relevantes são necessárias para lidar com a situação atual no Estreito de Taiwan. Taiwan faz parte do território da China e defender a soberania nacional e a integridade territorial é a missão sagrada de nossos militares", disse o comunicado das Forças Armadas chinesas.

O Ministério da Defesa de Taiwan, por sua vez, disse que ao menos oito aeronaves chinesas, incluindo dois bombardeiros H-6 com capacidade nuclear, voaram para a zona de defesa aérea da ilha, embora bem longe do continente.

Em uma reunião com a presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen, o líder da delegação de congressistas americanos, Mark Takano, descreveu a ilha como uma "força do bem" e disse que, sob administração de Tsai, os laços com os EUA tiveram a maior produtividade em décadas.

Segundo Takano, os deputados estão na região para lembrar aos parceiros e aliados que a responsabilidade compartilhada de manter o Indo-Pacífico livre e seguro está mais forte do que nunca. Antes de visitar a ilha, a delegação passou por Japão e Coreia do Sul.

"Nosso compromisso com Taiwan é sólido como uma rocha e permaneceu firme à medida que os laços entre nós se aprofundaram", disse o deputado. "Taiwan é uma história de sucesso democrático, um parceiro confiável e uma força para o bem no mundo", acrescentou.

Comentários desse tipo tendem a irritar a China, para quem Taiwan é um assunto ultrassensível. Os EUA, assim como a maior parte dos países, não tem relações diplomáticas com a ilha, mas são o seu mais importante financiador internacional e fornecedor de armas.

Pequim intensificou a pressão militar e política sobre Taiwan para reprimir possíveis reivindicações de soberania. A presidente prometeu manter a paz com a China, mas disse que a ilha se defenderá se for atacada.

"Em termos da situação regional à qual vocês estão prestando atenção, Taiwan continuará a intensificar a cooperação com os Estados Unidos a fim de defender nossos valores compartilhados de liberdade e democracia e para garantir a paz e estabilidade na região", disse Tsai à delegação americana.

A visita ocorre poucos dias depois de o presidente dos EUA, Joe Biden, convidar Taiwan para uma cúpula virtual sobre democracia no próximo mês. A China ficou de fora.

O grupo americano é formado por Takano, do Partido Democrata, por seus colegas de legenda Colin Allred, Sara Jacobs e Elissa Slotkin e pela republicana Nancy Mace.

"Quando se soube da nossa visita, meu gabinete recebeu uma mensagem contundente da embaixada da China me dizendo para cancelar a viagem", disse Slotkin, em uma publicação no Twitter.

Mace relatou pedido semelhante de autoridades chinesas, que exigiram o cancelamento da viagem. "Não o fizemos", escreveu a republicana junto de uma foto em que aparece ao lado do jato da Força Aérea dos EUA que a transportou até Taipé.

"Acabamos de pousar na República de Taiwan", acrescentou, usando o termo mais comum entre os defensores da independência da ilha.

O Ministério das Relações Exteriores da China havia descrito a última visita dos americanos à ilha como "uma mão perdida", uma metáfora que faz referência aos jogos de cartas. Desta vez, Zhao Lijian, porta-voz da pasta, condenou a visita dos deputados americanos e a avaliou como uma violação do princípio de unidade do território chinês.

"O fato de indivíduos políticos dos EUA desafiam desenfreadamente o princípio de uma só China e encorajarem as forças de 'independência de Taiwan' despertou a forte indicação de 1,4 bilhão de chineses", disse Zhao, acrescentando que a unidade entre Taipé e Pequim é uma "tendência histórica imparável".

Taiwan é mencionada uma única vez nas 15 páginas da resolução histórica após a mais recente plenária do Partido Comunista Chinês. O texto reafirma a sólida posição do regime em relação à ilha. "Opomo-nos firmemente às atividades separatistas que buscam a 'independência de Taiwan'. Opomo-nos firmemente à interferência estrangeira", diz a resolução.