GUARULHOS, SP (FOLHAPRESS) - Protagonista de uma aliança cada vez mais estreita com os russos, a China criticou nesta quarta-feira (23) os Estados Unidos pelo que descreveu como um comportamento de "jogar lenha na fogueira" da crise acesa no Leste Europeu, em torno das fronteiras ucranianas.

O comentário, feito por uma porta-voz da chancelaria chinesa, vem um dia após o governo de Joe Biden anunciar novas sanções contra Moscou devido ao reconhecimento de duas autoproclamadas repúblicas separatistas russas do leste da Ucrânia. Há mais de um mês, Washington alardeia que uma invasão do país seria iminente.

"Os Estados Unidos não deixaram de vender armas para a Ucrânia, aumentando a tensão e criando pânico", disse Hua Chunying a repórteres locais. "Alguém que joga lenha na fogueira e acusa os outros assume uma postura imoral e irresponsável."

Questionada sobre a possibilidade de a China impor sanções aos russos como retaliação ao avanço pelo território ucraniano, assim como o fizeram não apenas os EUA, mas também países europeus, Japão e Austrália, ela descartou quaisquer chances. "[Sanções] nunca foram uma forma eficaz de resolução de conflitos", declarou.

As falas sobem um pouco o tom da diplomacia chinesa em relação ao conflito. Pequim havia emitido um comunicado discreto pedindo contenção a todos os envolvidos na confusão​. Quando o Conselho de Segurança das Nações Unidas se reuniu na última segunda (21), a representação chinesa limitou-se a dizer que Pequim acolhe e encoraja todos os esforços para uma solução diplomática da crise.

Já nesta terça (22), durante entrevista coletiva, outro porta-voz da chancelaria disse que a China estava monitorando de perto a evolução da situação na Ucrânia e que a posição do país é de respeito às preocupações de segurança de qualquer nação. "A situação na Ucrânia está piorando, e a China, mais uma vez, pede a todas as partes que exerçam a diplomacia e resolvam as diferenças com diálogo."

Wang Wenbin, o porta-voz da ocasião, disse ainda que o conflito na região está diretamente relacionado ao atraso para a implementação efetiva do acordo de Minsk 2, de 2015, que apresentou uma fórmula para reintegrar à Ucrânia as regiões separatistas apoiadas pela Rússia.

A escalada na crise do Leste Europeu também mantém Taiwan alerta. Autoridades da ilha temem que Pequim possa aproveitar a janela de oportunidade aberta pelo fato de o Ocidente estar concentrando esforços diplomáticos no conflito ucraniano para aumentar a pressão sobre Taiwan, que se considera um país independente, ainda que seja descrito pelo regime chinês como uma província rebelde.

A presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen, ordenou nesta semana que os militares e as forças de segurança da ilha intensifiquem a vigilância, permaneçam alertas para atividades militares na região, e reforcem as equipes de prontidão para um possível combate.

A líder disse, durante reunião de um conselho criado no mês passado para pensar a questão, que a situação da ilha e da Ucrânia são "fundamentalmente diferentes". Ainda assim, expressou empatia pela situação da Ucrânia em razão da ameaça militar russa.

O chanceler taiwanês, Joseph Wu, afirmou em duas ocasiões, à mídia internacional, que a ilha observa de perto movimentos de Pequim para entender se o regime chinês aproveitaria a crise ucraniana para atacá-los. Analistas são céticos quanto a essa possibilidade e argumentam que Taiwan tem uma importância estratégica maior que a da Ucrânia, o que exige que um conflito militar ali seja muito mais calculado.

Questionado sobre o assunto, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China disse que "Taiwan não é a Ucrânia", descartando possibilidade de movimento por parte de Pequim semelhante ao que tem sido feito por Moscou.

Na sequência, porém, retomou o argumento chinês histórico ao afirmar que a ilha pertence à China. "Taiwan sempre foi uma parte inalienável da China", disse. "Trata-se de um fato histórico, legal e indiscutível."