SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Cartazes com a frase "Eles querem mais veneno na sua comida" e a foto de sete parlamentares brasileiros --o presidente da Câmara, a ministra da Agricultura e integrantes da bancada ruralista-- foram colados em muros de São Paulo e de Brasília nesta quarta-feira (9).

A intervenção apelida o grupo de "bancada do câncer" e é parte de protesto de um grupo de ativistas ambientais contra a votação do requerimento de urgência do projeto de lei 6.922 de 2002, que foi aprovado na tarde desta quarta-feira (9) na Câmara dos Deputados.

Com a aprovação da urgência, o projeto está em votação em plenário sem passar pelas comissões onde o conteúdo controverso da proposta seria mais amplamente debatido.

Ao centro do painel está a foto do presidente da casa, Arthur Lira (PP-AL) ladeada pela deputada licenciada e ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM), que já foi relatora do projeto em 2018, quando recebeu a alcunha de "musa do veneno", e pelo atual relator do chamado "pacote do veneno", o deputado federal Luiz Nishimori (PL-PR).

Decorados com o desenho de crânios sobre dois ossos cruzados, símbolo de venenos, os cartazes trazem ainda as fotos dos deputados Evair de Mello (PP-ES), Domingos Savio (PSDB-MG), Sérgio Sousa (MDB-PR) e Aline Sleutjes (PSL-PR), todos classificados como "deputados do câncer".

Segundo o grupo de ativistas, Arthur Lira recebeu lugar de destaque porque, como presidente da Casa, comanda a pauta de votação.

Segundo organizações da sociedade civil, o PL 6.922, conhecido como "pacote do veneno", coloca o Brasil na contramão do mundo em relação ao uso de pesticidas.

Seus críticos apontam que o projeto flexibiliza diversos aspectos da política do país em relação a agrotóxicos, do processo de aprovação do uso de novas substâncias a seu monitoramento e fiscalização por parte de órgãos da saúde, como a Anvisa, e do meio ambiente, como o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente).

Na visão do governo e dos apoiadores do PL, as mudanças aumentarão a concorrência e promoverão a entrada no mercado de produtos mais modernos, menos tóxicos e de menor custo para produtores.

Desde 2019, o governo Bolsonaro liberou cerca de 1.500 novos agrotóxicos, o que representa 40% de todo o registro da história do país. Naquele ano, foram vendidas no Brasil 620 mil toneladas de agrotóxicos, segundo boletim do Ibama. Desse total, 38,3% são ''altamente'' ou ''muito perigosos'', e 59,3%, ''perigosos''. O restante, 2,4%, ''pouco perigosos''.

Glifosato, o agrotóxico mais utilizado no país, por exemplo, foi associado à morte de 503 crianças por ano no Brasil, segundo estudo realizado pela Universidade Princeton, Fundação Getúlio Vargas e Insper. Segundo o estudo, o uso do glifosato na cultura da soja corresponde a uma alta de 5% na mortalidade infantil em municípios do Sul e Centro-Oeste que recebem água de regiões sojicultoras.

O Brasil é o terceiro país que mais usa agrotóxicos em números absolutos, depois de China e EUA, segundo dados da FAO, agência da ONU para alimentação e agricultura.

Segundo um porta-voz dos ativistas responsáveis pela intervenção, que preferiu não se identificar, é preocupante ainda a situação dos agricultores, que têm contato maior com as substâncias durante o trabalho.