BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos França, defendeu o presidente Jair Bolsonaro (PL) por ter expressado solidariedade à Rússia dias antes da guerra na Ucrânia e criticou as sanções unilaterais impostas a Moscou após a deflagração do conflito.

As declarações foram dadas em sessão do Senado voltada a discutir a crise no Leste Europeu. Questionado sobre a viagem de Bolsonaro, França disse que a prática da diplomacia brasileira é "promover a paz". Acrescentou ainda que a visita havia sido muito planejada e que "estavam dadas as condições" para que ela fosse realizada, em particular após a visita anterior de ministros brasileiros a Moscou.

O ministro disse ainda que conversou com seu homólogo ucraniano, Dmitro Kuleba, e que este teria transmitido uma noção "tranquilizadora do cenário", indicando que não havia risco de conflito iminente. Vladimir Putin deu a ordem de invadir a Ucrânia oito dias depois do encontro com Bolsonaro.

O chanceler ainda rebateu as críticas ao presidente, em particular feitas pelos Estados Unidos. "Não julgamos adequado que qualquer país possa fazer uma interpretação das declarações do nosso chefe de Estado", argumentou França. "Entendo que a ideia de confiabilidade, de solidariedade, como o presidente falou, tem o sentido de solo, firme, confiável, [mostra] o Brasil como um parceiro confiável da Rússia dentro dos princípios que nós respeitamos".

Para o ministro, as sanções econômicas aplicadas contra a Rússia são inapropriadas. Em sua visão, as consequências das medias devem resguardar, em médio prazo, os países desenvolvidos e recair mais sobre nações em desenvolvimento do que sobre a própria Rússia.

"O Brasil não está de acordo com a aplicação de sanções unilaterais e seletivas. Essas medidas, além de ilegais perante o direito internacional, preservam concretamente os interesses urgentes de alguns países, como o fornecimento de petróleo e gás a nações europeias", disse.

França acrescentou que está tentando marcar uma reunião com integrantes do governo americano para discutir a possibilidade de reduzir as sanções que impactam na comercialização de fertilizantes --essenciais para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro.

Sem mencionar medidas específicas, o ministro afirmou que as penalizações constituem uma perigosa ameaça ao sistema de comércio internacional, o que pode ter impacto na economia de todo o mundo. "A aplicação dessas sanções seletivas por parte de certos países praticamente inviabiliza, no curto prazo, a realização de pagamentos em operações de exportação e importação com a Rússia."

França também criticou ações que visam expulsar Moscou de órgãos internacionais. "O Brasil tem sido claramente contrário a essas iniciativas, em consonância com nossa posição tradicional em favor do multilateralismo e do direito internacional, que deve incluir todas as nações com base no princípio da igualdade soberana dos países", argumentou.

O governo federal defende, segundo o chanceler, que o foro adequado para tratar de um acordo de paz seja a Organização das Nações Unidas (ONU). Assim, a postura do Itamaraty estaria sendo condizente com o histórico do Brasil perante conflitos internacionais.

"O Brasil defende posições que correspondem à nossa tradição diplomática: cessar-fogo imediato; proteção de civis e de infraestrutura civil; acesso desimpedido a serviços humanitários; e a pronta solução política da questão, baseada nos Acordos de Minsk, aceitos em 2015 por ambas as partes hoje em conflito", afirmou.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), participou da sessão e lamentou os efeitos que a guerra deve ter sobre o Brasil. Em sua visão, o país "sofrerá com a falta de fertilizantes, provocando ruídos em um setor vital para a economia nacional: a agricultura".

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, também participou do encontro e demonstrou temor com os impactos que o conflito entre os dois países produzirá na economia brasileira.

"A nossa preocupação é enorme com os preços, com o preço dos fertilizantes, de que a Rússia e a Belarus são nossos grandes parceiros exportadores. E hoje nós temos aí uma preocupação com nitrogênio e produtos de potássio de que o Brasil tanto precisa para a sua produção", disse.