Carlinhos Brown, Larissa Luz e Criolo exaltam música do gueto em show em Salvador
PUBLICAÇÃO
sábado, 27 de novembro de 2021
AMON BORGES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um show para exaltar a música feita por pretos e celebrar o Mês da Consciência Negra movimentou esta sexta (26) em Salvador. Pra viver e sentir o poder da música negra brasileira. Um passeio por ritmos e canções que vão te balançar. Sim, você, pode dançar, anunciou o músico baiano antes de, ao lado de Larissa Luz, entoar Alguém me Avisou, de Dona Ivonne Lara.
Brown e Larissa foram os músicos anfitriões com Rafa Dias, do grupo Àttøøxxá, que receberam no palco da Concha Acústica do Teatro Castro Alves outros tantos nomes no espetáculo Encontros Tropicais: Frequências do Gueto, que reuniu um público de cerca de 1.500 pessoas na capital baiana.
O time de artistas que subiu ao palco foi potente e capaz de fazer uma performance bonita e emocionante. O rapper Criolo, DJ Dan Dan, a atriz e cantora Jéssica Ellen, Banda Didá e talentos novos também periféricos como WD, participante do The Voice Brasil, a rapper Stefanie, Lukinhas e Rafa Porrada revisitaram décadas de sonoridade com samba, soul, rap, pagode e funk.
É muito importante contextualizar que os guetos devolvem ao Brasil talvez o que o Brasil não esperava, diz Carlinhos Brown em entrevista. E assim foi por pouco mais de duas horas desses artistas no palco, um show de representatividade e temas importantes exaltados.
A música brasileira é essencialmente negra, então é muito difícil fazer um apanhado disso tudo em um resumo de duas horas, afirmou Larissa Luz. Mas eu curti os recortes porque de uma forma geral a gente trouxe algo bem relevante. Acho que são momentos importantes politicamente e musicalmente da nossa história, do povo negro brasileiro.
Foram três blocos temáticos apresentados pela atriz Nara Gil, que deu vida à DJ Afroblack, em referência à personagem DJ Black Boy do seriado brasileiro da década de 1980 Armação Ilimitada.
O samba foi o ponto de partida. Carlinhos Brown e Larissa Luz cantaram temas clássicos do ritmo bem brasileiro e de origem marginalizada. Alguém me Avisou e Sonho Meu, de Dona Ivone, Enredo do Meu Samba, de Jorge Aragão, e Zé do Caroço, de Leci Brandão foram algumas das músicas que ganharam releitura.
A segunda parte do show migrou para a black music dos anos 1970 e 1980, com o soul, a disco e sons eletrônicos que tomaram as pistas de dança. Cassiano, Tim Maia e Jorge Ben Jor foram foram lembrados. Neste momento do show, a convidada Jéssica Ellen participou com Larissa Luz em Nem Vem que Não Tem, emendando versos de Coleção, de Cassiano.
Brown ao cantar A Namorada trouxe o debate das relações homoafetivas. O casamento homoafetivo é realidade. E Você não precisa ser gay para ser a favor do outro, diz. A namorada tem namorada, mas o namorado também tem namorado, ressaltou. Na sequeência, deu espaço na sequência para o jovem cantor WD, participante do The Voice Brasil. Com sua música Eu Sou, ele passa a mensagem de amor próprio, especialmente para pessoas negras.
Além de uma releitura desses clássicos, o show traz discurso, corpo, vivência e traz a periferia para o centro, a história do gueto para o centro, afirma Larissa Luz.
Já o terceiro e último bloco desembarcou nos anos 1990 e trouxe temas mais atuais, dando espaço a uma série de ritmos: funk carioca, pagode, rap, trap e afrobeats. Surgiram no cenário os convidados Criolo, DJ Dan Dan, Banda Didá e novos talentos como Stefanie, Lukinhas e Rafa Porrada, que foram convidados por Devassa na série Criatividade Tropical: Abre as Portas para o Gueto para uma música gravada com Iza, a Na Atividade.
O trio Stefanie, Lukinhas e Rafa Porrada soltaram a voz em Rap do Silva e Rap da Felicidade, além de Na Atividade, música em parceria com Iza e fruto da série Criatividade Tropical: Abre as Portas para o Gueto, projeto também da Devassa.
A iniciativa de um grande show é vista com ânimo pelos artistas. Toda a ação que é na direção de exaltar o poder, a história, a cultura do povo preto e elevar a autoestima desse povo é libertador e ao mesmo tempo coloca o nosso povo em outro lugar, diz Larissa Luz em entrevista ao Lineup no camarim após o show.
Dá uma sensação de aquilombamento, de união, de pertencimento. A consciência da potência que a gente é quando a gente se junta me emociona muito. Não existe outro caminho para a gente vencer isso tudo a não ser se juntando, afirma a cantora baiana, mas que vive em São Paulo.
A rapper Stefanie se emocionou ao falar da ocasião em entrevista antes do evento. Todos reunidos aqui mostra que a gente tem força, que a gente não desistiu e que não vai desistir. Eu sou uma mulher preta, mãe e que canta rap. Eu passei muita coisa para chegar até aqui e eu consegui.
Isso é muito imporatnte. Esse tipo de evento já acontece nas favelas, nas periferias. Mas com essa visibilidade, com apoio de uma grande marca, ainda é raro, afirma Jéssica Ellen.

