<p>BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Firme na defesa de pautas de interesse do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) reforça a tropa de choque do Planalto no Congresso ao passo que coleciona atritos com colegas na Câmara e no Senado. Até mesmo integrantes do núcleo militar do governo já se queixaram da deputada.

</p><p>Mesmo após a perda do posto de vice-líder na Câmara, ela assumiu a frente de um tema sensível para o bolsonarismo, o meio ambiente, em um estilo que usou para tentar defender o presidente na CPI da Covid no Senado.

</p><p>A deputada seguiu fiel escudeira do presidente, mesmo após Bolsonaro ter destituído ela e mais sete bolsonaristas da função de vice-líderes, em setembro do ano passado, para aumentar o espaço e o prestígio de congressistas do centrão.

</p><p>À reportagem Zambelli afirmou que, mesmo diante de julgamentos negativos, irá tomar decisões que considera positivas para o país e para o governo. "Esse tipo de crítica não me fará mudar de ideia", disse.

</p><p>Em março, a deputada ganhou uma função de destaque na Câmara. Presidente da Comissão de Meio Ambiente, tem pautado projetos alinhados à política de Bolsonaro na área.

</p><p>Um exemplo é o texto que permite a atuação de militares na fiscalização ambiental. De autoria do deputado Coronel Tadeu (PSL-SP), o projeto inclui Polícias Militares e Corpos de Bombeiros no Sisnama (Sistema Nacional do Meio Ambiente).

</p><p>Na lei que trata de sanções penais, o deputado colocou os agentes de segurança na lista de autoridades competentes para lavrar autos de infração ambiental e instaurar processos administrativos.

</p><p>O relator, o deputado Coronel Chrisóstomo (RO), também do PSL, deu parecer favorável ao texto. A proposta tem sido contida a duras penas pela oposição.

</p><p>Segundo o deputado Zé Vitor (PL-MG), a ideia é enfrentar irregularidades ambientais. "Inclusive os estados e municípios têm um papel fundamental nessa fiscalização, não só o governo federal", disse.

</p><p>Na semana passada, Zambelli pôs em pauta outra proposta polêmica: o reconhecimento da vaquejada como atividade desportiva. O texto foi aprovado no colegiado, com maioria governista, e agora está na Comissão do Esporte.

</p><p>"A vaquejada, talvez para nós não seja tão comum, mas o pessoal do Norte, Nordeste, onde é uma questão cultural, estava pedindo a regulamentação de uma PEC [Proposta de Emenda à Constituição] que foi aprovada há alguns anos. É uma demanda do setor", disse Zé Vitor.

</p><p>Em 2016, o STF (Supremo Tribunal Federal) declarou a prática inconstitucional ao julgar uma lei do Ceará. Nas competições, peões a cavalo perseguem um boi e tentam derrubá-lo, puxando o animal pelo rabo.

</p><p>No ano seguinte, o Congresso reagiu e aprovou uma emenda constituicional para tirar os entraves à atividade. O texto prevê que não são cruéis práticas esportivas com animais consideradas manifestações culturais.

</p><p>Defensor das propostas encampadas por Zambelli, Zé Vitor disse ainda não ter percebido qualquer manobra da colega para conduzir a pauta de forma autoritária. A avaliação, porém, é contestada por membros do colegiado, como o deputado Camilo Capiberibe (PSB-AP).

</p><p>"Desde que a presidente tomou posse, se inverteu completamente a prioridade da comissão, que é tratar de desenvolvimento sustentável e do meio ambiente", afirmou. "Debater a inclusão da vaquejada como esporte não é prioridade no momento que a gente está vivendo."

</p><p>Capiberibe disse que Zambelli não tem interesse em debater os problemas ambientais. "Ela capturou a pauta da comissão para executar a política do [ministro Ricardo] Salles."

</p><p>Segundo ele, a deputada conseguiu postergar o comparecimento do ministro do Meio Ambiente à comissão para depois da Cúpula de Líderes sobre Clima, realizada no dia 22. Salles falou ao colegiado nesta segunda-feira (3) sobre medidas contra o desmatamento e cortes no orçamento. Ele foi blindado por bolsonaristas, não respondeu sobre apreensão de madeiras e atacou o PT.

</p><p>"É a tropa de choque que está lá [na comissão]. Você vê a presença do governo ali e uma ação coordenada", disse Capiberibe.

</p><p>O vice-líder do Cidadania, Daniel Coelho (PE), afirmou ser preocupante o que aliados de Bolsonaro fizeram no colegiado. "Temos agora na comissão o terraplanismo ambiental."

</p><p>Coelho é o autor do pedido de CPI na Câmara para investigar a conduta de Salles no episódio da apreensão de madeira no Pará. Zambelli gravou um vídeo ao lado do ministro durante visita ao local. "Infelizmente, madeira perdida", disse.

</p><p>Mas não é só na Câmara que Zambelli tenta proteger o governo. Diante da possibilidade de Renan Calheiros (MDB-AL) ser escolhido relator da CPI da Covid, ela entrou com uma ação popular pedindo que o senador fosse impedido.

</p><p>A medida provocou irritação na Casa vizinha. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), afirmou que a escolha do relator cabia ao Legislativo. Disse ainda que não admitia a interferência de um juiz.

</p><p>A decisão, além de ter sido ignorada pelo Senado, foi derrubada pouco depois pelo TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), em Brasília.

</p><p>Para assessores presidenciais, o impedimento de Renan assumir a relatoria era claramente ilegal e teve como único efeito indispor ainda mais o senador com Bolsonaro. &#8203;

</p><p>A avaliação de integrantes da cúpula militar é que Zambelli se precipitou ao ter ingressado com a medida judicial. Para eles, a deputada deveria ter entrado em contato antes com o Planalto para consultar se seria a melhor estratégia política.

</p><p>Na tentativa de apaziguar os ânimos do relator, o presidente já tinha procurado o ex-presidente José Sarney (MDB) e o governador de Alagoas, Renan Filho (MDB-AL). O esforço de aproximação, porém, não obteve êxito.

</p><p>Com a instalção da CPI, Renan foi indicado relator. Agora, Bolsonaro aposta no presidente nacional do PP, Ciro Nogueira (PI), integrante do colegiado e amigo do alagoano, para minimizar o mal-estar.

</p><p>À reportagem a deputada afirmou que a decisão de ingressar com pedido para que Renan não relatasse a CPI da Covid foi dela, sem interferência do Planalto. "Eu não sei por que a iniciativa incomodou alguém. Eu fiz porque achei correto e não tive incentivo algum", disse.

</p><p>Sobre o projeto de reconhecimento da vaquejada como atividade desportiva, Zambelli afirmou que essa é uma demanda antiga de nordestinos e nortistas, que vinham cobrando o Legislativo.

</p><p>Ela disse ainda que a proposta de atuação de policiais militares na fiscalização ambiental não significa um processo de militarização, uma vez que Ibama e ICMBio continuarão em operação.&#8203;

</p><p>"Não estamos militarizando o Ibama ou o ICMBio. Nós estamos colocando mais forças em torno da fiscalização contra o desmatamento ilegal. A polícia não é feita para reprimir crimes? Então por que ela não pode reprimir o crime ambiental?", questionou.

</p><p></p>