SÃO PAULO, SP, E BALNEÁRIO CAMBORIÚ, SC (FOLHAPRESS) - Caminhoneiros realizaram paralisações em trechos de rodovias em oito estados nesta quarta-feira (8), um dia após os atos de raiz golpista convocados pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Sem apoio formal de entidades da categoria, os motoristas são alinhados politicamente ao governo ou ligados ao agronegócio.

No fim da tarde, por volta das 17h30, foram registrados pontos de concentração na Bahia, no Espírito Santo, Paraná, Maranhão, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina, de acordo com o Ministério da Infraestrutura.

Em nota, a PRF (Polícia Rodoviária Federal) afirmou que a tendência de fim da mobilização é a 0h de quinta (9).

"Ao todo, já foram debeladas 67 ocorrências com concentração de populares e tentativas de bloqueio total ou parcial de rodovias durante as últimas horas", disse a PRF, em nota.

Em Santa Catarina, a PRF comunicou no fim da tarde desta quarta bloqueio em 22 pontos, atingindo praticamente todas as regiões do estado. A situação já começou a afetar a distribuição de combustíveis.

Até as 17h, cerca de 30 postos da região norte de Santa Catarina, onde fica Joinville, a cidade mais populosa do estado, relataram falta de gasolina e diesel nas bombas, segundo levantamento do Sindipetro-SC (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de Santa Catarina).

A região é abastecida por distribuidoras em Guaramirim e Itajaí, cidades com pontos de paralisação de caminhoneiros, e os postos estão sem receber combustíveis desde a manhã desta quarta.

Pontos da BR-163, principal rodovia para escoamento de grãos do Centro-Oeste, também concentravam caminhoneiros no fim do dia, o que deixou em alerta empresas ligadas à exportação.

A Anec (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais) disse à Reuters que os protestos não afetaram o escoamento. A administração portuária de Paranaguá (PR) afirmou que não havia sinais de caminhoneiros atrapalhando o fluxo de cargas para o porto durante a tarde. O IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás) disse que acompanha os "bloqueios pontuais".

Segundo o Ministério da Infraestrutura, os protestos "não se limitam às demandas ligadas à categoria". As principais pautas dos caminhoneiros hoje são preço do combustível e piso mínimo do frete.

"Não tem pauta caminhoneira na mobilização, é movimento ideológico", diz Joelmis Correia, do Movimento GBN (Galera da Boleia da Normatização Pró-Caminhoneiro). Segundo ele, há "neutralidade da categoria", para que cada motorista decida se quer protestar em apoio ao governo ou não. "Não há muito o que comemorar."

Na véspera dos atos bolsonaristas, o caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes, conhecido como Zé Trovão, que está foragido, publicou um vídeo nas redes sociais convocando manifestantes ao protesto em Brasília. Segundo motoristas ouvidos pela reportagem, ele tem alto poder de mobilização na categoria.

Trovão defendeu o impeachment de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e desafiou o ministro Alexandre de Moraes a prendê-lo.

Moraes decretou a prisão do caminhoneiro na sexta-feira (3). Ele é acusado de promover a incitação de atos violentos contra o Congresso Nacional e o STF.

Além do apoio ao governo, ruralistas tem três ações diretas de inconstitucionalidade no STF que ainda não foram julgadas pela corte. Elas questionam a política nacional de piso mínimo, implementada por meio de lei durante o governo Michel Temer (MDB), após a greve de 2018.

Desde antes de 7 de Setembro, a categoria já demonstrava divisão nos grupos de WhatsApp. As lideranças de movimentos organizados afirmaram que não iriam convocar caminhoneiros, como a Abrava e o CNTRC (Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas).

Mesmo assim, muitos motoristas ligados a transportadoras ou apenas apoiadores de Bolsonaro decidiram aderir. Caminhoneiros ligados ao agronegócio permaneciam em Brasília até a noite desta quarta.

No dia 3 de setembro, o CNTRC enviou ofício ao STF declarando "repúdio aos atos antidemocráticos, sobre as manifestações de ódio oriundas das publicações nas plataformas digitais que se agravaram com a organização para o dia 7".