SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) - A empresária Flora Gil, que toca o camarote Expresso 2222 ao lado do marido, o cantor Gilberto Gil, anunciou que um dos mais disputados espaços do Carnaval de Salvador não entrará em operação no ano que vem mesmo se a realização da festa for autorizada pelo poder público.

Sobre a decisão de não abrir o camarote com 22 anos de tradição no circuito Dodô (Barra-Ondina), a produtora disse à Folha de S.Paulo não se sentir segura para festejar e que não quer "contribuir para contaminar mais pessoas".

A resolução foi tomada pouco tempo depois de a família Gil voltar de uma turnê no último dia 8, após 18 apresentações, durante 50 dias de viagem pelo Europa, que vê os casos de coronavírus explodirem após a flexibilização das medidas de restrição contra a propagação do vírus.

Com a medida, Flora se antecipa a quaisquer que sejam as deliberações do governador da Bahia, Rui Costa, e do prefeito de Salvador, Bruno Reis (DEM), que têm sido pressionados por empresários do ramo do entretenimento quanto a uma definição a respeito do calendário.

Na Bahia, cerca de 2 milhões de pessoas deixaram de completar o ciclo vacinal com as duas doses do imunizante contra o coronavírus. Quando acrescidos aqueles que precisam tomar a dose de reforço, o número chega a aproximados 3 milhões de pessoas.

Confira a entrevista.



PERGUNTA - Como é que vocês chegaram a essa decisão de não abrir o camarote Expresso em 2022?

FLORA GIL - Tive muita dúvida se deveria seguir ou não com a produção do camarote no Carnaval de Salvador. É um imenso desafio tomar a decisão correta. Mas meu coração e minha intuição falaram mais forte. Vendo as notícias que chegavam a toda hora, não me senti segura para festejar, para aglomerar neste momento.

P. - Qual o posicionamento de vocês sobre a realização da festa no Brasil?

FG - Cada um é responsável pela sua decisão. A minha foi e está sendo não fazer festa para não contribuir para contaminar mais pessoas.

P. - Caso o percentual de vacinados com as duas doses chegue a mais de 80% da população, como defendem alguns especialistas, há chance (ou tempo) de rever a posição?

FG - Não consigo rever essa posição, porque é fundamental de 5 a 6 meses de pré-produção para o projeto (do camarote) estar pronto.

P. - Recentemente, vocês fizeram uma grande turnê pela Europa, o que difere do Carnaval, caso aconteça, no Brasil?

FG - A diferença maior em alguns países, além da apresentação obrigatória do passe sanitário comprovando a vacina, foi a diminuição do público presencial com os teatros quase todos com espaços de acesso controlado. Quase sempre havendo restrições e medidas e serem obedecidas pelo público. Até certo ponto, a mascará se tornou um hábito. O uso vem sendo mantido por muita gente mesmo onde já foi flexibilizado.

P. - Então, a posição de vocês tem base no aumento do número de casos em países que flexibilizaram as medidas de restrição?

FG - Tem, sim.

P. - Há planos de realizar shows pelo Brasil antes do Carnaval?

FG - Sim. Agora em dezembro faremos dois shows em SP (São Paulo), na Sala SP, em um projeto de Gil com orquestra com público reduzido. No verão da Bahia, provavelmente, Gil deve fazer um ou dois shows. No RJ (Rio de Janeiro), temos algumas datas agendadas. Mas tudo agora mesmo pode estar por um segundo, como o próprio Gil diz na canção, que eu gosto muito, chamada "Tempo Rei".