SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em meio a uma tensa semana nas relações entre o Ocidente e a Rússia, Moscou intensificou a rotina de enviar aviões militares para testar a capacidade de reação dos adversários sobre o mar Báltico.

A região é um dos pontos de atrito mais agudos do mundo, com forças aéreas da Otan (aliança militar ocidental) e de países nórdicos aliados em contato direto com as russas.

Uma ação notável ocorreu no dia 9, quando o presidente Joe Biden desembarcou no Reino Unido para seu giro europeu, no qual encontrou-se com líderes do G7 e da Otan, finalizado na quarta (16) com a reunião de cúpula com o russo Vladimir Putin.

A situação chamou atenção de analistas, visto que usualmente cargueiros não têm escolta, e foi especulado se os russos não queriam justamente atrair os F-35 para analisar de perto suas características de voo próximas aos sensores de um de seus principais caças.

O americano F-35 é um avião com tecnologias furtivas ao radar e, após anos de desenvolvimento caríssimo e com atrasos, está em operação em diversas forças da Otan. É tido, apesar de seus problemas, como o caça mais avançado do mundo.

Os aviões italianos estão baseados desde abril na Estônia como parte da patrulha da Otan na região. O país e os outros Estados Bálticos, Lituânia e Letônia, são ex-repúblicas soviéticas membros da aliança, e não têm aeronáuticas próprias para fazer frente à intensa atividade russa ao seu redor.

Depois da anexação da Crimeia em 2014, a aliança montou uma força expedicionária para operar na região em nome da proteção de seus vulneráveis sócios.

Já na terça (15), um dia depois de Biden assinar o comunicado conjunto de líderes da Otan no qual a Rússia figura como a principal ameaça à segurança dos seus membros, houve uma interceptação mais dramática.

Dois bombardeiros supersônicos com capacidade nuclear Tu-160 deixaram suas bases no sul da Rússia e voaram até o Golfo da Finlândia, entrando no espaço aéreo neutro do mar Báltico escoltados por quatro caças, dois Su-35 das Forças Aeroespaciais e dois Su-27, um modelo mais antigo, da Frota do Báltico.

Ele voaram até a altura de Kaliningrado, o bastião russo entre a Lituânia e a Polônia, e fizeram o caminho de volta. No percurso, foram interceptados pelos mesmos F-35 italianos e por F-16 da Noruega, outro membro da Otan.

Além disso, a Suécia, que é neutra mas próxima da aliança, enviou um caça Gripen --o modelo mais recente do qual o Brasil está recebendo.

Tais ações ocorrem com frequência, mas houve um aumento significativo nos relatos do fim de 2020 para cá. Normalmente, são cerca de 300 interceptações ocidentais por ano, e a Otan mantém 60 caças prontos para ação no continente.

Com a tensão a partir da repressão da ditadura de Belarus contra a oposição em agosto passado e a concentração de tropas russas junto à fronteira da Ucrânia em abril deste ano, os russos anunciaram que iriam reforçar suas atividades no Distrito Militar Ocidental, que abarca a região do Báltico.

Segundo as Forças Aeroespaciais Russas, houve crescimento de incursões de aviões da Otan próximos ao espaço aéreo do país tanto na região como no mar Negro, onde operam principalmente aviões-espiões P-8 Poseidon.

Esse balé ocorre também entre forças americanas e aliadas no Pacífico, onde enfrentam a China com frequência, e no Alasca, onde ficam frente a frente com os russos. No Ártico, região que o Kremlin vê como sua, os EUA também têm feito incursões.

Além dos testes mútuos de prontidão e avaliação eventual do equipamento do rival, há a pressão política que acompanha tais ações.

O perigo, alertam especialistas, é o de choques não intencionais ou erros humanos que acabem levando a acidentes. No ano passado, uma missão conjunta russo-chinesa quase foi abatida na Coreia do Sul, por exemplo.

Link para ver o momento da interceptação: https://www.youtube.com/watch?v=NmBziN1pPpQ