SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que há dois casos da variante deltacron no Brasil, sendo um no Amapá e outro no Pará. Essa variante é uma recombinação das variantes delta e ômicron da Covid.

"O nosso serviço de vigilância genômica já identificou dois casos no Brasil: um no Amapá e outro no Pará. E nós monitoramos todos esses casos. Isso é fruto do fortalecimento da capacidade de vigilância genômica no Brasil", disse a jornalistas nesta terça-feira (15).

Queiroga disse que as medidas contra essa nova variante continuam as mesmas. "Essa variante é uma variante de importância e requer monitoramento [...] se eu tivesse que indicar uma medida, seria a aplicação da dose de reforço", ressaltou.

Segundo dados da rede Cievs (Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde), que reúne o sistema de vigilância do país, o caso do Amapá é de uma pessoa do sexo masculino de 34 anos, residente de Santana. Ele possui esquema vacinal completo.

Já o caso do Pará é de uma mulher de 26 anos, residente de Afuá. Ela também possui esquema vacinal completo.

"Até o momento, não há evidências que sustentem um impacto na transmissibilidade, imunidade e severidade em relação à nova variante. Em 11 de março de 2022, a recombinação AY.4/BA.1, chamada de Deltacron, é relatada como variante sob monitoramento pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) e ainda em avaliação pela OMS", aponta o documento.

O vírus recombinante vem circulando desde janeiro em diversas regiões da França e há detecções de genomas semelhantes na Dinamarca e nos Países Baixos. Tal evento não é, pelo menos até o momento, motivo de preocupação.

Em uma postagem no Twitter, no dia 8 de março, Maria Van Kerkhove, epidemiologista e líder técnica da OMS (Organização Mundial da Saúde) para Covid-19, afirmou que esse tipo de recombinação é esperado com a intensa circulação das variantes ômicron e delta e que a equipe da OMS está acompanhando e discutindo o assunto.

No fim de fevereiro, o tema já tinha sido discutido por especialistas em uma sessão de perguntas e respostas da OMS. Na ocasião, Kerkhove tranquilizou as pessoas quanto aos eventos de recombinação e explicou que esse processo é basicamente uma junção de "pedaços" de uma variante com "pedaços" de outra.

"Não quero assustar as pessoas com a ideia de recombinação", afirmou Kerkhove, em 22 de fevereiro. "Talvez comecemos a ver recombinações. Isso pode acontecer, mas pode ser um reflexo de uma melhor vigilância."

Apesar da chegada dessa nova cepa, a variante ômicron continua predominante no Brasil. A Fiocruz divulgou que ela correspondeu a 99,7% dos genomas sequenciados de fevereiro, ante 95,9% em janeiro e 39,4% em dezembro.

Os dados do relatório se referem ao período de 11 de fevereiro a 3 de março de 2022. Nesse período, foram sequenciados 2.971 genomas.

A publicação indica também que a circulação da subvariante da ômicron, a BA.2, detectada no país no início de fevereiro, é considerada baixa. Até o fechamento do relatório, foram registrados 21 genomas dessa linhagem.

Mesmo com o surgimento dessa nova variante no país, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, planeja rebaixar o status da Covid-19 de pandemia (quando há uma situação de emergência sanitária global) para endemia (estágio de convivência com o vírus, com número estável de casos e mortes).

Queiroga encomendou um estudo na pasta para avaliar essa possibilidade, que ainda está em andamento. Técnicos da pasta ficaram com a tarefa de acompanhar o impacto das festas de Carnaval na doença, além de outros indicadores, como cobertura vacinal, e entregar na segunda metade do mês uma análise sobre o cenário da Covid no Brasil.

A ideia já vinha sendo discutida no Ministério da Saúde, mas ganhou fôlego após o presidente Jair Bolsonaro (PL) apoiar publicamente a mudança de status da crise sanitária.

A Saúde deve decidir sobre a mudança até o fim deste mês.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), manifestou preocupação ao conversar com Queiroga sobre a possibilidade de o Brasil flexibilizar o estado de emergência sanitária decretado em decorrência da pandemia da Covid-19 em razão do aumento de casos na China.

Claudilson Bastos, professor de infectologia da Universidade Estadual da Bahia e do Instituto Couto Maia e secretário da Sociedade Baiana de Infectologia, disse que ainda não é o momento para a flexibilização. Isso porque os dados epidemiológicos ainda não são suficientes para considerar uma endemia.

Ele avalia que o ideal seria vacinar 80% da população para atingir a imunidade coletiva e alcançar os números suficientes para considerar uma endemia. Sobre a deltacron, acredita que não terá tanto impacto no país devido ao avanço da campanha de vacinação.

Ele acrescentou que as pessoas ainda devem manter os cuidados não farmacológicos, como uso de álcool em gel, distanciamento de um metro e o uso de máscaras em lugares fechados. Já em ambientes abertos a flexibilização já pode ser avaliada.