RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - Pedro Bandeira, que comemora 80 anos nesta quarta-feira, dedicou boa parte de sua vida à educação. Seus livros, como os da série "Os Karas", venderam 28 milhões de exemplares, boa parte deles comprados pelo Ministério da Educação para serem distribuídos gratuitamente a alunos de escolas públicas.

Em entrevista, Bandeira, também crítico do PT, afirmou, ao revisitar sua carreira, que a educação brasileira regrediu desde que Jair Bolsonaro assumiu a presidência e pôs no comando dos ministérios profissionais sem formação técnica.

"A educação jamais foi prioridade no Brasil, mas regredimos. O ministro da Educação, Milton Ribeiro, diz que criança tem que sentir dor para aprender. Já não tem mais general para pôr, então estão colocando coronel, tenente, capitão. Isso nos prejudica, porque os professores são treinados para perseguir os alunos, dizer que eles são fracos porque são preguiçosos, sem considerar a vida miserável que muitas crianças têm. Isso vem de longe. Foi um trabalho de gerações que fez o Brasil ser analfabeto. A elite trabalhou duro para que a gente fosse atrasado."

Prova da incompetência do Ministério da Educação, o escritor diz, é a caçada a Paulo Freire, um dos principais alvos ideológicos de Bolsonaro e de sua equipe. Morto há 25 anos, Freire, que acreditava que a educação é uma ferramenta contra opressão, é tido como referência mundo afora por ter criado técnicas de educação que "respeitam a fraqueza e o potencial de cada aluno", como define Bandeira.

"O mundo inteiro tem Paulo Freire como um deus da educação, mas no Brasil ele é um demônio", diz Bandeira. "O Brasil não voltou atrás. Voltar atrás é eleger Collor, Jânio Quadros. Fomos além. Provamos que o poço tinha um fundo muito maior até chegar no lodo. E a chance de reeleição do cara [Bolsonaro] é muito forte. O povo alemão, cultérrimo, aplaudia aquele bigodudo psicótico. No Brasil, parece que tudo estava resolvido e que ia voltar o outro [Lula], mas agora parece que não. Ele [Bolsonaro] sabe manipular."