<p>RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) usou uma distribuição de alimentos feita pela Ceagesp, nesta quarta-feira (29), em Araraquara, para novamente criticar restrições como o lockdown. A cidade paulista, administrada por um prefeito do PT, foi a primeira a adotar a medida e, desde então, viu os índices de novos casos, internações e mortes provocadas pela Covid-19 despencarem.

</p><p>Bolsonaro foi às redes sociais e compartilhou vídeo com imagens que mostravam um comboio pronto para deixar São Paulo e partir para Araraquara, distante 273 quilômetros, para a entrega de cerca de 200 toneladas de alimentos a entidades e a moradores em situação de vulnerabilidade social.

</p><p>"Nesse momento, comboio parte da Ceagesp rumo a Araraquara/SP, levando alimentos para aqueles vitimados pela política do 'fique em casa que a economia a gente vê depois'", disse o presidente, que parabenizou o presidente da Ceagesp, coronel da reserva Mello Araújo, permissionários, Exército e Polícia Militar paulista pela ação.

</p><p>A afirmação de Bolsonaro foi feita horas antes de o país atingir a marca de 400 mil mortes provocadas pela pandemia da Covid-19, 100 mil delas em apenas 37 dias, num cenário que inclui a insistência do presidente em investir em remédios sem eficácia contra a doença e a demora na aquisição de vacinas.

</p><p>Há cinco dias, Araújo disse em redes sociais que era necessário solidariedade para sair da pandemia e, sem citar nome, criticou o prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT).

</p><p>"Peço a todos que puderem ajudem ao próximo vamos para Araraquara essa semana, povo ficou fechado, PREFEITO acabou com sua cidade, vamos levar um pouco de esperança para mais de 20 entidades e para muitos que estão em situação crítica."

</p><p>A ação social foi feita em parceria com comerciantes e os alimentos foram transportados com apoio do Exército e da PM, ainda durante a madrugada, até o armazém da Ceagesp na Vila Xavier, em Araraquara.

</p><p>Houve uma fila com cerca de 2.000 pessoas, formada ainda durante a madrugada, para o recebimento dos alimentos (frutas, verduras, legumes e cestas básicas) destinado às famílias de baixa renda.

</p><p>A ação da Ceagesp já ocorreu anteriormente em cidades como Potim e Aparecida, além de comunidades indígenas, mas, segundo a companhia, ocorreram após pedidos das prefeituras ou de políticos locais.

</p><p>A prefeitura diz não ter feito nenhuma solicitação nesse sentido. A Ceagesp alega que atendeu pedido feito por um grupo de empresários da cidade e da população.

</p><p>Araraquara se tornou símbolo em São Paulo do avanço da variante brasileira da doença.

</p><p>Entre o fim de janeiro e março, UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) ficaram com 100% de ocupação e pacientes da cidade chegaram a ser transferidos para hospitais distantes até 389 quilômetros devido ao crescimento vertiginoso de casos, internações e óbitos causados pela doença.

</p><p>Com esse cenário, a prefeitura decidiu decretar lockdown em 21 de fevereiro, com severas restrições nos sete primeiros dias, que incluíram o fechamento de supermercados, postos de combustíveis e até mesmo de caixas eletrônicos nos bancos.

</p><p>A medida gerou protestos de um grupo de comerciantes e, no primeiro fim de semana de vigência, quatro bancos foram arrombados por clientes que queriam sacar dinheiro nos terminais de autoatendimento.

</p><p>Dois meses após a decretação do lockdown, a cidade viu os novos casos caírem 65% (de 189 para 65 por dia, em média). O total de mortes desde o início da pandemia está em 385, três das quais registradas nas últimas 24 horas, de pacientes com idades entre 62 e 67 anos, com comorbidades.

</p><p>A Prefeitura de Araraquara não comentou o assunto. A ação da Ceagesp chegou ao conhecimento da administração local por meio de postagens em redes sociais e, segundo relatos à reportagem, não foi feito nenhum pedido pela Ceagesp sobre as pessoas em condição de vulnerabilidade social cadastradas em órgãos públicos.</p>