BRASÍLIA, DF, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governo mudou mais uma vez o diretor-geral da Polícia Federal no momento em que o órgão lida com inquéritos sensíveis para o presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados.

Foram confirmadas em edição extra do DOU (Diário Oficial da União) desta sexta-feira (25) a exoneração de Paulo Gustavo Maiurino e a escolha de Márcio Nunes de Oliveira.

Trata-se da quinta nomeação ao cargo na gestão Bolsonaro. O delegado Alexandre Ramagem, amigo da família do presidente, não chegou a assumir o posto por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal).

​A troca surpreendeu auxiliares palacianos e aliados. No governo, a escolha foi atribuída ao ministro da Justiça, Anderson Torres. A PF está sob sua alçada na pasta.

Nunes era, até então, secretário-executivo de Torres —ou seja, o número 2 da pasta. No Twitter, o ministro da Justiça disse que Maiurino irá assumir o comando da Secretaria Nacional de Política sobre Drogas.

Torres, que também é delegado, vinha sendo colocado como pré-candidato ao Senado ou à Câmara pelo Distrito Federal. Mas, recentemente, auxiliares passaram a admitir que talvez ele continue até o final do governo.

Bolsonaro é investigado em inquérito aberto no STF por suposta interferência na PF, com base em acusações feitas por Sergio Moro, ex-ministro da Justiça e potencial candidato ao Palácio do Planalto pelo Podemos.

A troca no comando da PF é uma demonstração de força do ministro, que entrou no governo em março do ano passado, quando André Mendonça deixou a pasta. Na ocasião, Mendonça voltou para a AGU (Advocacia-Geral da União) e hoje é ministro do Supremo.

Torres era secretário de Segurança Pública do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).

Hoje, o presidente é alvo de quatro inquéritos em andamento na PF. O chefe do Executivo demonstrou insatisfação com o trabalho da PF em diversas ocasiões.

"Tenho a PF que não me dá informações", afirmou Bolsonaro em reunião ministerial de 22 de abril de 2020. "E não dá pra trabalhar assim. Fica difícil. Por isso, vou interferir! E ponto final, pô!", disse ainda, momentos depois.

Policiais, entre eles os federais, são parte importante da base de apoio de Bolsonaro. O presidente tem dito que pode conceder reajuste a agentes, inclusive à PF, neste ano, enquanto outras categorias reclamam de salários defasados.

A PF ainda está sob holofote por operações e manifestação que atingem potenciais opositores de Bolsonaro nas eleições.

Neste mês, uma decisão de Maiurino de rebater declarações de Moro, ex-ministro e presidenciável, causou estranhamento entre a cúpula da pasta e a corporação,

O texto que empurrou a instituição para dentro do debate eleitoral não havia sido combinado com Torres, que foi surpreendido com a nota, segundo relatos.

Por meio de nota, a PF acusou Moro de mentir nas declarações que tem feito sobre o trabalho que o órgão desempenha nos últimos meses. A PF atacou também o ex-juiz por sua atuação na passagem no Ministério da Justiça.

Segundo o texto da Polícia Federal, Moro desconhece a corporação e não se envolveu quando teve oportunidade, ficando fora de todos os debates que tratavam de interesses dos servidores.

A nota provocou polêmica dentro e fora da corporação. Moro deixou o ministério em abril de 2020 ao acusar Bolsonaro de inferência na PF.

Além disso, a PF fez uma busca e apreensão em dezembro de 2021 contra o pré-candidato Ciro Gomes (PDT). Esta operação foi anulada no dia 22, por unanimidade, pela Quarta Turma do TRF-5 (Tribunal Regional Federal da 5ª Região).

Na época da operação, o presidenciável acusou a operação de ser uma perseguição política.

O ministro Torres não explicou a razão da mudança no comando do órgão. Nas redes sociais, apenas reconheceu o trabalho de Maiurino.

"Ao dr. Maiurino, meu reconhecimento pelo trabalho diário de reforçar o papel da PF como instituição autônoma sim, mas com respeito a preceitos fundamentais da corporação, como hierarquia e disciplina", escreveu o ministro nas redes sociais.

"Sua experiência profissional será fundamental à frente da Senad", afirmou ainda.

​Em abril de 2020, a saída de Maurício Valeixo do comando da PF, primeiro chefe do órgão na gestão Bolsonaro, foi estopim para empurrar o ex-juiz da Lava Jato para fora do governo.

Depois da tentativa frustrada de colocar Ramagem no cargo, o presidente nomeou o delegado Rolando Alexandre de Souza para a função. Já Maiurino assumiu em abril de 2021, quando Torres chegou ao Ministério da Justiça.

Como mostrou a Folha, a cúpula da PF vinha desde o ano passado sustentando internamente um discurso de preocupação com eventual exploração da atuação do órgão durante a campanha eleitoral.

Bolsonaro já demonstrou incômodo com a atuação da PF em algumas ocasiões, como por duas investigações que concluíram que Adélio Bispo agiu sozinho no atentado contra ele.

No fim de janeiro, o órgão também disse ter visto crime de Bolsonaro na atuação do presidente no vazamento de dados sigilosos de investigação de suposto ataque ao sistema do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

DIRETORES PF NO GOVERNO BOLSONARO

Maurício Valeixo

Indicado pelo então ministro Sergio Moro, ficou no cargo de janeiro de 2019 até abril de 2020, quando Moro pediu demissão. O delegado era um conhecido investigador na PF e foi o diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado durante a Operação Lava Jato. Também foi superintendente no Paraná

Alexandre Ramagem

Chegou a ser indicado por Jair Bolsonaro, mas teve a nomeação barrada por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal

Rolando de Souza

Após o problema com o STF, Souza foi indicado por Ramagem para ocupar o cargo e nomeado por Jair Bolsonaro. Ele ficou entre maio de 2020 até abril de 2021

Paulo Maiurino

O delegado foi indicado por Jair Bolsonaro em abril de 2021. Sem passagens por cargos importantes na PF, Maiurino chegou ao posto pelo bom trânsito político. Ele foi chefe da segurança do STF na gestão de Dias Toffoli

Márcio Nunes

Nomeado nesta sexta (25) era o secretário-executivo do Ministério da Justiça. Foi indicado pelo ministro da Justiça, Anderson Torres. De perfil discreto, o delegado passou por quase todos os níveis hierárquicos dentro da PF. Foi chefe de delegacia, de setor, de divisão e, antes de assumir o cargo na Justiça, era superintendente no Distrito Federal