BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Após a tentativa frustrada do Palácio do Planalto de fazer as pazes com o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se encontrou, na quinta-feira (14), com o ex-AGU (Advogado-Geral da União) André Mendonça e reafirmou apoio para a sua indicação ao STF (Supremo Tribunal Federal).

Mendonça foi ao Planalto na quinta acompanhado pelo presidente da Frente Parlamentar Evangélica, deputado Cezinha da Madureira (PSD-AM). Eles também se encontraram com o ministro Ciro Nogueira (Casa Civil), que recentemente participou de uma articulação por um plano B para a vaga no tribunal.

"De fato o André Mendonça se reuniu com o presidente, que reiterou que tem chance zero de retirar o nome dele da indicação. Chance zero", disse Cezinha à reportagem.

"O Ciro nunca trabalhou contra o André. O Davi esticou a corda e os senadores estão chateados, porque ficaram expostos. Tudo isso fortalece o André", continuou o parlamentar.

O encontro com o presidente ocorreu no mesmo dia em que era esperada uma reunião de Bolsonaro com Alcolumbre.

Bolsonaro oficializou a escolha de Mendonça para a vaga do ex-ministro Marco Aurélio em 13 de julho, mas desde então o senador não pautou a sabatina na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). O colegiado presidido por Davi é o passo inicial da tramitação de Mendonça.

Na segunda-feira (11), Alcolumbre esteve com o também senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ). De acordo com interlocutores, ficou combinado que Flávio tentaria viabilizar uma reunião com o presidente.

Entretanto, o encontro com Bolsonaro não aconteceu. A conversa com Flávio foi dura e a nota divulgada posteriormente por Alcolumbre repercutiu mal no Planalto.

"Reafirmo que não aceitarei ser ameaçado, intimidado, perseguido ou chantageado com o aval ou a participação de quem quer que seja", disse o senador no comunicado. Foi a primeira vez, desde o início do processo, que ele falou publicamente sobre o caso.

A avaliação de Bolsonaro e de ministros é que Alcolumbre, presidente da CCJ, esticou a corda a tal ponto que angariou a hostilidade dos demais senadores. A indicação do ex-AGU está parada na comissão há mais de três meses.

Segundo interlocutores, a situação de Mendonça de fato já esteve bastante ruim no Senado. Mas, recentemente, eles começaram a ver uma mudança postura que --dizem-- tem favorecido o ex-AGU.

Alcolumbre passou a ser cobrado por outros senadores para pautar a sabatina.

Para auxiliares do presidente, Alcolumbre perdeu o timing para derrotar Mendonça. Eles avaliam que o momento de maior fragilidade foi às vésperas do 7 de Setembro, quando o chefe do Executivo participou de manifestações de raiz golpista.

Há cerca de duas semanas, quando o governo já vislumbrava a dificuldade de um desfecho para o impasse, auxiliares presidenciais e ministros, entre eles Ciro, deram início a uma busca de um plano B para a indicação.

Segundo relatos, o chefe do Executivo teria autorizado a movimento.

Como o jornal Folha de S.Paulo mostrou, um dos nomes que circulou foi o do presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), Alexandre Cordeiro de Macedo. Outro foi o presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Humberto Martins. Apesar de já ter passado da idade máxima para ser indicado à corte, ele conta com a simpatia de pesos-pesado, como Flávio Bolsonaro.

Além de não terem conseguido encontrar um nome de consenso, a articulação chegou ao conhecimento dos evangélicos, que rapidamente se mobilizaram contra.

O presidente prometeu indicar um ministro "terrivelmente evangélico" para o Supremo e o segmento é hoje quem mais atua pela aprovação de Mendonça no Senado.