BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira (27) que as Forças Armadas não cumpririam "uma ordem absurda" dada por ele. A declaração ocorreu no Palácio do Planalto, durante cerimônia alusiva aos mil dias de seu governo.

"As Forças Armadas estão aqui. Elas estão ao meu comando, sim, ao meu comando. Se eu der uma ordem absurda, elas vão cumprir? Não. Nem a mim nem a governo nenhum. E as Forças Armadas têm que ser tratadas com respeito", disse.

"Quando criaram a [pasta da] Defesa em 1999 não foi por uma necessidade militar, foi por uma imposição política, para tirar os militares deste prédio [Palácio do Planalto]", acrescentou o presidente.

"Alguns criticam que eu botei militar demais [no governo], mais até, proporcionalmente, do que os governos [militares] de Castello Branco a Figueiredo. Sim, é verdade, é meu círculo de amizade. Assim como de outros presidentes foram outras pessoas, era o círculo de amizades deles."

Ao longo dos últimos meses, Bolsonaro promoveu uma escalada de declarações autoritárias que geraram tensão entre opositores e governadores. Ele chegou a questionar a realização das eleições em 2022 e a afirmar que sua derrota na campanha pela reeleição só seria possível em caso de fraude.

Causou apreensão também a adesão de policiais militares ao bolsonarismo e declarações do presidente sobre as Forças Armadas. Em mais de uma ocasião neste ano, Bolsonaro usou a expressão "meu Exército", o que gerou críticas por ser interpretada como uma tentativa de politizar a instituição.

Ele também se referiu às Forças Armadas como “poder moderador" —apesar de decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) estabelecer que militares não têm essa atribuição.

Bolsonaro liderou manifestações de cunho golpista no feriado do 7 de Setembro. Na ocasião, o chefe do Executivo ameaçou o STF e o presidente da corte, ministro Luiz Fux, e disse que não mais cumpriria decisões do ministro Alexandre de Moraes. Dias depois, divulgou uma nota retórica em que fazia um recuo tático.

"Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar", afirmou à época no texto redigido com a ajuda do ex-presidente Michel Temer (MDB).

A mudança de tom de Bolsonaro após repetidos xingamentos a integrantes do STF desagradou grupos bolsonaristas, foi elogiada pelos presidentes do Senado e da Câmara, mas vista com ceticismo pelos magistrados.

Em julho, em conversa com apoiadores, Bolsonaro disse que "a fraude está no TSE" e atacou Barroso, a quem chamou de "idiota" e "imbecil".

"Não tenho medo de eleições, entrego a faixa para quem ganhar, no voto auditável e confiável. Dessa forma [atual], corremos o risco de não termos eleição no ano que vem", disse na ocasião.

Ainda na cerimônia desta segunda-feira, Bolsonaro criticou a decisão da CNN Brasil de demitir o jornalista Alexandre Garcia depois de o comentarista ter defendido, no quadro Liberdade de Opinião, tratamentos ineficazes para a Covid-19.

Bolsonaro tem um histórico de declarações defendendo esses remédios, como a hidroxicloroquina e ivermectina.

"Assistimos semana passada algo estarrecedor. Uma grande rede de televisão, num quadro conhecido como Liberdade de Opinião, um famoso jornalista foi demitido por sua opinião. Não tem coisa mais absurda do que isso. Para onde estamos caminhando?"

A demissão de Garcia, aliado de Bolsonaro, foi confirmada por comunicado da rede de televisão.

"A decisão foi tomada após o comentarista reiterar a defesa do tratamento precoce contra a Covid-19 com o uso de medicamentos sem eficácia comprovada", disse a nota.

O texto distribuído pela assessoria de imprensa do canal também afirmava que a CNN Brasil "reforça seu compromisso com os fatos e a pluralidade de opiniões, pilares da democracia e do bom jornalismo".