SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A demissão de Milton Ribeiro do Ministério da Educação nesta segunda-feira (28) foi mais um caso de crise no governo de Jair Bolsonaro (PL) que acaba com a saída de um ministro.

Ribeiro sai para amenizar a pressão sobre o presidente. Ele se tornou alvo de grande pressão após a revelação de indícios de um esquema informal de obtenção de verbas envolvendo dois pastores sem cargo público.

Prefeitos apontam que uma espécie de balcão de negócios no MEC seria operado pelos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, ligados a Bolsonaro, e priorizava a liberação de valores para gestores próximos a eles e a prefeituras indicadas pelo centrão, bloco político de sustentação ao governo.

Relembre outros ministros demitidos em meio a crise no governo:

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GUSTAVO BEBIANNO

O titular da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, foi o primeiro ministro a ser demitido, em 18 de fevereiro de 2019.

Bebianno se tornou o centro de uma crise instalada no Palácio do Planalto depois que o jornal Folha de S.Paulo revelou a existência de um esquema de candidaturas laranjas do PSL para desviar verba pública eleitoral. O partido foi presidido por ele durante as eleições de 2018, em campanha de Bolsonaro marcada por um discurso de ética e de combate à corrupção.

O ex-ministro morreu na madrugada do dia 14 de março de 2020, aos 56 anos. Segundo amigos da família, ele sofreu um infarto em seu sítio, em Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro, e morreu por volta das 5h30 em um hospital da cidade.

RICARDO VÉLEZ RODRIGUEZ

Depois foi a vez de Ricardo Vélez Rodríguez ser demitido da Educação em 8 de abril de 2019. A saída dele ocorreu em meio a uma crise envolvendo disputas entre militares e seguidores do escritor Olavo de Carvalho. No lugar de Vélez, entrou Abraham Weintraub, da ala ideológica dos bolsonaristas.

Na época, Vélez disse que a imprensa passava uma imagem de que nada funcionava no MEC, o que, segundo ele, não seria verdade. "Mentira se combate com fatos", disse o ministro.

Weitraub durou 14 meses no cargo, em uma gestão coroada por controvérsias, insultos disparados contra os mais variados alvos, anúncio de projetos que não andaram, derrotas no Congresso, ausência de diálogo com redes de ensino e falta de liderança nos rumos das políticas públicas da área.

CARLOS ALBERTO DOS SANTOS CRUZ

O general Carlos Alberto dos Santos Cruz foi demitido do comando da Secretaria de Governo da Presidência da República em junho de 2019.

Desde que chegou ao Planalto, Santos Cruz se envolveu em seguidas crises com os filhos do presidente, além de um embate com o escritor Olavo de Carvalho, guru de Bolsonaro. A comunicação do governo era um dos principais pontos de disputa. ​

Após sua saída, o general divulgou uma carta com agradecimentos e desejou "saúde, felicidade e sucesso" a Bolsonaro "e seus familiares". O presidente, por sua vez, informou que a demissão "não afeta a amizade, a admiração e o respeito mútuo".

LUIZ HENRIQUE MANDETTA

Na pandemia, ​o ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde) foi demitido em abril de 2020 pelo presidente Jair Bolsonaro, após um longo processo de embate entre eles diante das ações de combate ao coronavírus.

A relação entre Bolsonaro e Mandetta estava desgastada por divergências na condução do combate à pandemia do coronavírus. Seu sucessor, Nelson Taich, pediu demissão a dois dias de completar um mês no cargo, em maio de 2020.

Em sua breve passagem pelo cargo, Teich teve seu poder como ministro minimizado pelo presidente Bolsonaro. A divergência sobre o protocolo do uso da cloroquina no combate ao coronavírus, porém, foi considerada a gota d'água para a queda dele.

SERGIO MORO

Antes dele foi a vez de Sergio Moro em abril de 2020.

Ao anunciar sua demissão do governo federal, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, apontou fraude no Diário Oficial da União no ato de demissão de Maurício Valeixo do comando da Polícia Federal e criticou a insistência do presidente Bolsonaro para a troca do comando do órgão, sem apresentar causas que fossem aceitáveis.

Moro afirmou que Bolsonaro queria ter acesso a informações e relatórios confidenciais de inteligência da PF. "Não tenho condições de persistir aqui, sem condições de trabalho." E disse que "sempre estará à disposição do país".

MARCELO ÁLVARO ANTÔNIO

No começo de dezembro de 2020, o presidente Bolsonaro demitiu o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio.

Pivô do esquema de candidaturas laranjas do PSL em Minas Gerais, caso revelado pela Folha de S.Paulo, Álvaro Antônio foi indiciado pela Polícia Federal sob suspeita dos crimes de falsidade ideológica eleitoral, apropriação indébita de recurso eleitoral e associação criminosa —com pena de cinco, seis e três anos de cadeia, respectivamente.

A decisão pela exoneração foi tomada após Álvaro Antônio ter enviado uma mensagem em um grupo interno do governo, acusando o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, de ser "traíra" e de negociar com o Congresso "a um preço altíssimo".

"Houve excesso, mas está resolvido. Infelizmente nós exoneramos o ministro Marcelo Álvaro Antônio, mas ele continua amigo nosso e no quê pudermos ajudá-lo, ajudaremos", disse Bolsonaro durante uma live um dia depois da demissão.

RICARDO SALLES

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, pediu demissão ao presidente Bolsonaro em junho de 2021.

Sua gestão foi marcada por ações contrárias ao objetivo da pasta, que é a preservação ambiental. Em dois anos e meio no cargo, enfraqueceu ou destruiu mecanismos de proteção das florestas, minimizou o impacto das queimadas, combateu quem fiscalizava infratores e reduziu a participação da sociedade civil na elaboração e implementação de políticas para o setor.

Salles pediu demissão quando virou alvo de inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) por operação da Polícia Federal que mira suposto favorecimento a empresários do setor de madeiras por meio da modificação de regras com o objetivo de regularizar cargas apreendidas no exterior. Joaquim Pereira Leite, secretário da Amazônia e Serviços Ambientais, foi nomeado como novo ministro.