SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Bolsas das principais economias globais dispararam nesta sexta-feira (25), sobretudo na Europa. O pacote de sanções relativamente brandas à Rússia anunciado na véspera pelo presidente americano Joe Biden, assim como a tomada da capital ucraniana Kiev por tropas russas, levaram investidores a acreditar em um desfecho rápido para a crise e sem consequências econômicas devastadoras.

O mercado financeiro do Brasil também reverteu em grande parte os efeitos mais pesados da aversão de investidores ao risco nos últimos dias. Depois de uma abertura em queda, a Bolsa de Valores fechou com ganho de 1,39%, a 113.998 pontos. O dólar, porém, encerrou o dia com expressiva valorização frente ao real. A moeda americana subiu 0,99%, a R$ 5,1550.

A recuperação de mercados emergentes, como o do Brasil, tende a ser mais difícil porque eles são considerados mais arriscados em momentos de incertezas, mesmo que existam fundamentos que indiquem possibilidades de ganhos elevados, segundo Fernanda Mansano, economista-chefe da plataforma de investidores TC.

Em uma cesta de 24 moedas emergentes, o real oferecia o pior retorno à vista frente ao dólar, considerando os dois fechamentos diários desde o início da guerra. A moeda brasileira também era a única com um resultado negativo importante nesse intervalo (-0,66%). O rublo russo tinha a maior valorização, de 2,82%. Nesse recorte de dois dias, real e rublo ocupam posições inversas em relação às suas colocações no ranking dos retornos acumulados desde o início do ano.

"As moedas emergentes pioraram muito no primeiro dia de guerra, mas hoje devolveram essas perdas, menos o real. Investidores estão mais defensivos em relação ao Brasil devido ao feriado prolongado que teremos pela frente. Como não haverá negociação nos próximos dias e a situação é imprevisível, eles estão se defendendo", disse Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest.

Devido ao Carnaval, a B3, a Bolsa de Valores do Brasil, só retomará os pregões na tarde da próxima quarta-feira (2).

Em Nova York, o índice de referência S&P 500 subiu 2,24%, impulsionado principalmente pelos ganhos das grandes empresas acompanhadas pelo indicador Dow Jones, que avançou 2,51%. A Bolsa de tecnologia Nasdaq teve valorização de 1,64%.

Após fortes baixas na quinta-feira (24), os mercados de ações europeus dispararam nesta sexta. Londres, Paris e Frankfurt fecharam com ganhos de 3,91%, 3,55% e 3,67%, respectivamente. A Bolsa de Moscou saltou 20,04%, depois de uma queda histórica de mais de 30% na véspera.

Na Ásia, a maior parte dos mercados fechou no azul, com destaque para o ganho de 1,95% da Bolsa de Tóquio.

A virada positiva dos mercados havia começado ainda na véspera, quando bolsas dos Estados Unidos saíram do vermelho após o anúncio das sanções à Rússia.

Biden bloqueou negócios das maiores empresas da Russia nos bancos dos EUA, mas permitiu a manutenção de atividades comerciais relativas ao setor de energia, como a exploração e produção de combustíveis, e de alimentos.

A escassez de combustíveis que poderia ser provocada por limitações a esse segmento resultaria em uma aceleração ainda maior da inflação global, obrigando o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) a elevar juros americanos acima do esperado pelo mercado. Bolsas americanas enfrentam correções neste ano devido à expectativa de um aperto monetário.

No mercado internacional de petróleo, o barril do Brent recuava 0,70%, a US$ 98,39 (R$ 505,60), no início da noite.

"A ausência de sanções às companhias de petróleo russas e a promessa de Biden de não enviar tropas aliviou as tensões", disse Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura.

Outro ponto avaliado como positivo pelo mercado foi a sinalização do Kremlin, após cercar a capital ucraniana, de que está disposto a negociar. Segundo o porta-voz Dmitri Peskov, o presidente russo Vladimir Putin aceita enviar uma delegação a Minsk (Belarus) para discutir "a neutralidade da Ucrânia".

Diversos itens do segmento de materiais básicos refletiam uma certa redução da pressão. Os contratos futuros do trigo, cuja produção russa é das mais relevantes, recuaram cerca de 8%, após terem acumulado ganhos de 16,26% nos últimos três dias.

Ao final do dia, o índice da agência Bloomberg que acompanha o mercado de commodities caía 2,57%, após quatro altas diárias.

Entre os insumos mais relevantes para o comércio global e, em especial para o Brasil, o minério de ferro não acompanhava as baixas das commodities. Em vez disso, subia 1,09%, considerando o índice de contratos futuros da Bloomberg.

Rússia e Ucrânia são produtores importantes de pelotas de minério, uma variação da matéria-prima utilizada na produção de aço.

A mineradora brasileira Vale, uma das principais produtoras globais de minério de ferro, disparou como a empresa com maior peso positivo no Ibovespa nesta sexta. As ações da companhia subiam 5,41% no final do pregão.

Além da expectativa de valorização do minério com a crise na Ucrânia, a companhia havia anunciado na véspera o maior lucro da história do Brasil, de R$ 121 bilhões.

Ainda no setor de aço e metalurgia, CSN e Gerdau saltaram 6,81% e 4,86%, respectivamente. Completavam a lista de destaques positivos da Bolsa as petroleiras privadas 3R Petroleum (5,64%) e PetroRio (3,86%). A estatal Petrobras subiu 1,83%.

Analistas alertam, porém, que o alívio momentâneo observado nesta sexta não representa o fim da volatilidade nos mercados em meio a um conflito com resultados imprevisíveis.

"Não acho que esse período altamente volátil já esteja chegando ao fim", disse Daniel Egger, diretor de investimentos da St.Gotthard Fund Management. "No momento, temos que nos concentrar no que está acontecendo em Kiev", declarou em entrevista ao The Wall Street Journal. "E eu diria que, definitivamente, as sanções à Rússia ainda podem ser intensificadas."