Bolsa fecha em leve alta e dólar fica estável após atingir R$ 5,50 (1)
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quarta-feira, 06 de outubro de 2021
CLAYTON CASTELANI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa de Valores brasileira fechou em leve alta nesta quarta-feira (6), depois de passar todo o pregão em baixa devido à tensão do mercado com a escalada da inflação e o crescimento baixo que afetam o mundo, além dos riscos específicos do Brasil.
O Ibovespa, índice de referência da Bolsa, subiu 0,09%, a 110.559 pontos, após ter recuado à mínima de 108.179 ainda na abertura do mercado.
O dólar, que chegou a superar R$ 5,50 pela manhã, recuou à tarde até fechar perto da estabilidade, com ligeiro avanço de 0,01%, a R$ 5,4860.
A recuperação dos negócios domésticos acompanhou a virada do mercado acionário dos Estados Unidos que, após uma abertura em queda, fechou em alta, com investidores mais otimistas pela perspectiva de congressistas democratas e republicanos chegarem a um acordo para evitar o calote da dívida do governo.
O principal republicano do Senado dos EUA, Mitch McConnell, disse que seu partido apoiará uma extensão do teto da dívida federal até dezembro. Isso evitaria um calote histórico com o potencial de gerar graves impactos econômicos.
Os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram 0,30%, 0,41% e 0,47%, respectivamente.
De acordo com o gestor da Galapagos Capital Ubirajara Silva, o mercado teve uma sessão bem volátil, pressionado na primeira etapa por preocupações com a inflação no exterior e queda de mais de 1% do S&P 500, mas revertendo o movimento com a melhora em Nova York após notícias sobre as discussões do teto fiscal nos EUA.
A ligeira alta da Bolsa brasileira também contou com a ajuda da recuperação das ações da Vale, segundo Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.
Os papéis da mineradora subiram 2,82% porque, segundo o analista, estavam baratos em relação ao setor, considerando que a demanda por minério de ferro permanecerá alta no curto prazo.
Apesar das altas desta quarta, a volatilidade seguirá presente devido a um horizonte cheio de incertezas graças à escalada generalizada de preços, o que tem forçado bancos centrais de países desenvolvidos a discutirem a elevação das taxas de juros básicos.
Nos Estados Unidos, a inflação tem ampliado a expectativa de que a taxa de juros básicos, que hoje está perto de zero, seja elevada a partir de 2022.
Ruim de modo geral para as Bolsas, a alta de juros em economias sólidas tem ainda mais impacto em países emergentes, situação agravada no Brasil por um cenário fiscal preocupante.
A curva de juros futuros nos Estados Unidos já está na casa de 1,5% e, com uma economia considerada sem risco remunerando melhor, o risco do Brasil é precificado em algum lugar, e isso aparece no dólar e na Bolsa, diz Rachel de Sá, chefe de economia da Rico.
A dificuldade do governo em fechar o Orçamento de 2022 e a pressão pelo aumento de gastos com a aproximação das eleições do próximo ano são, segundo a economista, os principais motivos de preocupação do mercado em relação ao Brasil.
Em comentário a clientes, o diretor de investimentos da TAG Investimentos, Dan H. Kawa, destacou que o Brasil está entrando neste ambiente mais desafiador no exterior em situação bastante delicada e frágil.
Um dos elementos internos de forte pressão sobre a inflação é a alta no preço dos combustíveis, que tende a se intensificar com o atual cenário de aumento na cotação do petróleo.
Na última segunda-feira (4), o preço do petróleo alcançou o maior valor em três anos porque os países membros da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e aliados decidiram não aumentar o atual nível de produção.
O barril do Brent, referência para o mercado, caiu 2,17%, a US$ 80,77 (R$ 445,01). A alta acumulada no ano, porém, é de quase 56%.
Para tentar aliviar essa pressão, nesta terça-feira (5), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), propôs a partidos da base e da oposição um acordo segundo o qual o ICMS (imposto estadual) incidiria sobre o preço médio dos combustíveis nos últimos dois anos para reduzir o valor da gasolina.
Os governadores, porém, já sinalizaram que são contra a proposta, reforçando o clima de embate entre Brasília e estados, o que piora o cenário político interno do país.
De acordo com Rachel de Sá, independentemente de qual medida está em discussão, o fato de a Petrobras estar no foco de agentes políticos amplia o temor de intervenções na estatal.
Os papéis da empresa (PETR4) caíram 2,65% neste pregão, sendo o segundo maior volume de negociações do dia, pesando significativamente no resultado da Bolsa.
Os preços dos combustíveis já estão abaixo do mercado internacional devido à alta do petróleo, diz a analista.
Desde 2017, a Petrobras adota o PPI (preço de paridade de importação), sistema que vincula os preços praticados pela companhia à cotação internacional do petróleo.
A elevação do preço do petróleo ocorre em um momento de aumento da demanda por insumos necessários à geração de energia, situação fortemente influenciada pela redução da produção de carvão mineral na China, segundo Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group.
O gigante asiático segue firme em seu propósito na substituição da queima de combustíveis fósseis por fontes limpas, como a eólica e a solar.
Durante a pandemia, porém, cadeias de abastecimento do mundo todo foram prejudicadas e, em um cenário de escassez generalizada, faltam também componentes para equipamentos necessários à expansão de turbinas eólicas e placas de células fotovoltaicas, por exemplo.
Na Europa, um outono mais frio também aumentou a demanda por energia, pressionando os preços do gás natural.
Desabastecimento e alta da energia, em um momento de retomada econômica nos países desenvolvidos com a pandemia perdendo força devido à vacinação, são os principais elementos da inflação mundial.
Situação agravada porque um quadro inflacionário ligado à escassez também impede o crescimento, lançando sobre o mercado o temor de uma estagflação.
ESTRANGEIROS TIRAM R$ 4,8 BI DA BOLSA EM SETEMBRO
O fluxo de capital estrangeiro na Bolsa de Valores brasileira foi negativo em R$ 4,8 bilhões em setembro, segundo relatório da XP Investimentos divulgado nesta quarta-feira (6).
O saldo mensal voltou a ser negativo, em comparação com o mês anterior, que registrou um saldo positivo de R$ 8,5 bilhões. O saldo de 2021 ainda é positivo, com alta de R$ 71,8 bilhões.
Para evitar a perda de mais investidores e trazer de volta aqueles que saíram, o país precisa solucionar a trajetória os riscos fiscal e político, recuperar o crescimento da economia, contar com um cenário positivo para as commodities e os mercados emergentes, segundo o relatório da XP assinado pelo seu estrategista-chefe, Fernando Ferreira, e pela estrategista Jennie Li.
Os analistas ainda apontam que para um cenário favorável ao capital estrangeiro é necessário que as empresas brasileiras ampliem as iniciativas ESG, que consideram aspectos ambientais, sociais e de governança nas análises de investimento.
Os investidores pessoas físicas também tiraram mais dinheiro do mercado de ações do país em setembro. A queda mensal foi de 4,3% na posição total dos investidores pessoas físicas, o equivalente à redução de R$ 23,4 bilhões. O total investido por esse grupo passou de R$ 537,2 bilhões para R$ 513,9 bilhões.
Ainda assim, na comparação de setembro com a posição no final de 2020 (R$ 452,6 bilhões), houve um aumento de 13,5%.
O cenário de piora da economia brasileira foi renovado nesta quarta com a divulgação do fraco desempenho do comércio.
O volume de vendas do setor varejista do país caiu 3,1% em agosto, na comparação com julho, revelou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A retração é a maior para agosto desde o começo da série histórica, em 2000. O desempenho ficou bem abaixo das expectativas do mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg esperavam elevação de 0,6% nas vendas.
O resultado é mais um sinal das dificuldades do país em retomar o crescimento, situação que tende a piorar devido à necessidade do Banco Central em elevar os juros básicos para conter a inflação.
Em relatório divulgado nesta quarata, o Citi projetou que os riscos fiscais domésticos são provavelmente o principal fator para a desvalorização da moeda brasileira, e com a perspectiva de que o ambiente global para mercados emergentes fique menos benigno, o real deve encerrar este ano em R$ 5,47 por dólar.
Há pouco menos de duas semanas, o banco estimava taxa de câmbio de R$ 5,33 por dólar no término de 2021.
Segundo o Citi, a divisa brasileira já tem sido negociada em patamares subvalorizados desde o início da pandemia de Covid-19, uma vez que, "com exceção do prêmio de risco, todas as outras variáveis estão em níveis que deveriam ter ajudado uma valorização do real".
Entre esses fatores, o relatório apontou a alta dos preços das commodities, os patamares mais baixos do índice do dólar atingidos durante a pandemia e o aumento recente do diferencial de juros entre Brasil e economias avançadas.
Isso, por sua vez, sugere que "riscos domésticos relacionados principalmente a incertezas fiscais podem ser a grande força mantendo o real desvalorizado", escreveram no documento Leonardo Porto (economista-chefe do Citi no Brasil), Thais Ortega e Paulo Lopes (economistas).