WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - A Virgínia, cujo resultado da eleição ao governo do estado costuma apontar os rumos da política dos EUA, terá disputa apertada entre o republicano Glenn Youngkin e o democrata Terry McAuliffe.

Na noite desta terça-feira (2), os canais de TV CNN e MSNBC afirmaram que a diferença entre os candidatos nas pesquisas de boca de urna é tão pequena que não permite indicar um vencedor.

Por isso, os veículos não divulgaram os resultados totais, apenas as votações divididas em grupos. Na pesquisa da MSNBC, por exemplo, Youngkin obteve 55% dos votos entre homens, e McAuliffe, 53% de preferência entre as mulheres. Ainda segundo o levantamento, o republicano foi mais votado por eleitores brancos (62%), enquanto o democrata liderou entre negros (88%) e latinos (69%).

As urnas foram fechadas às 19h (20h em Brasília), e a apuração oficial começou em seguida. O resultado final pode levar dias, pois serão aceitos votos enviados pelo correio postados até esta terça e que cheguem às autoridades eleitorais até sexta-feira (5). Assim, caso haja uma margem muito estreita entre os dois candidatos, a conclusão da disputa pode depender da apuração completa.

Caso Youngkin vença a eleição, essa será a primeira vitória eleitoral republicana de peso desde que o partido perdeu o pleito presidencial de 2020. No ano passado, o presidente Joe Biden ganhou no estado por uma margem de dez pontos percentuais. Um revés para os democratas também acumularia mais um problema para o presidente. Além da queda de popularidade desde a caótica retirada do Afeganistão, dois pacotes trilionários de investimentos estão parados no Congresso, em grande parte devido à falta de consenso entre membros do próprio partido.

Youngkin, 54, é ex-presidente do grupo financeiro Carlyle, no qual trabalhou por 25 anos. Ele deixou a empresa no fim de 2020 e meses depois se lançou em campanha. Nascido em Richmond, capital da Virgínia, conseguiu uma bolsa na Rice University, do Texas, por jogar basquete, e chegou a disputar a liga universitária americana. Depois de se formar, começou a carreira no mercado financeiro em 1990 e entrou no Carlyle em 1995. Na empresa, construiu uma fortuna estimada pela Forbes em US$ 440 milhões.

Na campanha, o republicano apostou no perfil de empresário que não é político e se colocou como defensor de valores cristãos e do direito dos pais de intervir no conteúdo ensinado nas escolas, uma maneira de tirar do currículo escolar temas como preconceito racial e livros que descrevem cenas de sexo, assim como outros assuntos que sejam considerados com carga política ou ideológica.

Youngkin também é contra a vacinação obrigatória contra a Covid a funcionários e prometeu reduzir impostos, afrouxar regras trabalhistas para gerar empregos e reforçar o ensino de matemática.

"Nos últimos oito anos, estados vizinhos têm crescido até 120% mais rapidamente do que a Virgínia. No meu mundo, se seus competidores crescem 120% a mais, você é demitido. Os democratas deveriam ser demitidos", disse ele, num comício em Richmond, ecoando o bordão de Trump no programa "O Aprendiz".

Youngkin recebeu apoio público do ex-presidente, mas buscou não se associar à figura dele, para não afugentar eleitores independentes. Steve Bannon, ex-estrategista de Trump, fez um comício em apoio ao candidato, no qual o ex-líder dos EUA participou por telefone —o próprio Youngkin não compareceu.

Já McAuliffe, 64, começou a campanha com boa vantagem sobre o rival, mas chegou à reta final da disputa em empate técnico nas pesquisas. Uma vitória por margem estreita mostraria que os democratas deverão enfrentar dificuldades nas próximas eleições legislativas de meio de mandato, no final de 2022. Atualmente, o partido comanda Câmara e Senado, mas com vantagem muito pequena.

Filho de um político democrata, McAuliffe nasceu em Syracuse, no estado de Nova York, e começou a empreender ainda na adolescência. Além de fazer carreira no setor bancário, investiu em áreas como telecomunicações e carros elétricos e se envolveu em negócios um tanto controversos, como a venda de uma empresa com sede em Bermudas que viria a falir na sequência, deixando 12 mil desempregados.

Veterano, ele governou a Virgínia entre 2014 e 2018 e elegeu seu sucessor. Próximo da família Clinton, gerenciou a campanha de Hillary pela candidatura democrata à Presidência em 2008.

Na campanha atual, McAuliffe prometeu manter direitos civis, como o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo gênero, e combater a desigualdade racial. Também se comprometeu a gerar mais empregos e melhorar a educação pública, além de ampliar o acesso à saúde.

Devido à importância do pleito, os principais nomes do partido foram até o estado participar de comícios do candidato democrata, incluindo o presidente Joe Biden, a vice Kamala Harris, o ex-presidente Barack Obama e Stacey Abrams, democrata da Geórgia célebre pela luta pelo direito ao voto.

Nos discursos nos eventos eleitorais, eles indicaram que uma derrota significaria vitória do trumpismo e o risco de perda de direitos, como o aborto, como têm ocorrido em estados comandados por republicanos.

A ELEIÇÃO

A Virgínia aumentou as possibilidades de votar de forma antecipada neste ano. Além da participação pelo correio, diversos postos de votação ficaram abertos ao longo de seis semanas. A mudança buscou ampliar o comparecimento dos eleitores, que costuma ficar abaixo de 50% nos pleitos locais.

Em geral, a eleição para governador no estado indica para que lado a balança política americana está pendendo. Em 2008, Obama conquistou a Casa Branca com uma vitória marcante e viu, no ano seguinte, os democratas perderem o governo da Virgínia. Em 2010, então, os republicanos venceram de forma abrangente as chamadas "midterms", eleições legislativas de meio de mandato, e retomaram o poder no Congresso, travando boa parte das propostas do então presidente nos anos seguintes

Em 2017, deu-se o contrário: os democratas venceram na Virgínia um ano depois de Trump chegar ao poder e, no ano seguinte, reconquistaram o controle da Câmara nas "midterms". Como o pleito que elege o governador no estado ocorre durante o primeiro ano de mandato do presidente escolhido no ano anterior, a disputa acaba se tornando um termômetro da avaliação naquele momento do ocupante da Casa Branca.

Também nesta terça, Nova Jersey seleciona quem comandará o estado. O democrata Phil Murphy busca a reeleição, contra o republicano Jack Ciattarelli. Pesquisas apontavam Murphy mais de dez pontos à frente.

Há também votações para o governo de grandes cidades, como Atlanta, Boston e Nova York, onde vitórias democratas são esperadas. Eric Adams, ex-policial e presidente —equivalente a subprefeito— da região do Brooklyn, deve se tornar o segundo prefeito negro a comandar Nova York e manter o domínio democrata.

O partido governa a cidade de forma contínua desde 2002. Pesquisas o mostram com 40 pontos percentuais de vantagem sobre o republicano Curtis Sliwa, um apresentador de rádio.

Em Boston, há uma disputa incomum entre duas mulheres não filiadas a partidos. Michelle Wu abriu vantagem de 30 pontos nas pesquisas e deve vencer Annissa George. As duas atuam no conselho municipal —equivalente à Câmara de Vereadores— e receberam o apoio de democratas, que governam a cidade desde os anos 1930. A atual prefeita, Kim Janey, endossou a candidatura de Wu.

Em Atlanta, a atual prefeita, a democrata Keisha Bottoms, decidiu não disputar a reeleição. Agora, há 14 candidatos na disputa e três democratas negros são apontados como favoritos: o ex-prefeito Kasim Reed e os conselheiros municipais Andre Dickens e Felicia Moore.

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