BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) - O presidente americano, Joe Biden, ordenou, nesta sexta-feira (3), que o Departamento de Justiça dos Estados Unidos revise o status de confidencialidade de documentos da investigação do FBI sobre os atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001, que mataram quase 3.000 pessoas.

Nos últimos meses, Biden tem sido pressionado por parentes de vítimas dos atentados, de resgatistas e sobreviventes para dar publicidade aos documentos -que, segundo o grupo, podem apontar uma suposta participação do governo da Arábia Saudita no ataque. Quinze dos 19 sequestradores dos aviões envolvidos na ação eram sauditas, assim como Osama bin Laden, morto em 2011, no Paquistão, por militares americanos.

"Quando me candidatei à Presidência, assumi o compromisso de garantir a transparência com relação à divulgação de documentos sobre os ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001", disse Biden, em comunicado nesta sexta. "À medida que nos aproximamos do 20º aniversário daquele dia trágico, estou honrando esse compromisso."

"Nunca devemos esquecer a dor duradoura das famílias e dos entes queridos das 2.977 pessoas inocentes que foram mortas durante o pior ataque terrorista em nossa história", disse Biden.

A ordem executiva presidencial é destinada ao Departamento de Justiça e a outras agências que participaram das investigações sobre o atentado. No documento, Biden ainda solicita a Merrick Garland, procurador-geral dos EUA, que divulgue, nos próximos seis meses, os documentos que forem desclassificados.

Em 2019, ainda no governo do republicano Donald Trump, o então procurador-geral William P. Barr declarou a um tribunal federal que os documentos relacionados aos ataques deveriam permanecer sigilosos, de forma a proteger a segurança nacional.

Ainda não está claro quais documentos virão à tona nem se o conteúdo deles atenderá, de alguma forma, às aspirações das famílias de vítimas. Um representante desse grupo, ao jornal The New York Times, porém, se disse confiante. "Estamos emocionados em ver o presidente forçando a liberação de mais evidências sobre as conexões sauditas com os ataques", afirmou Terry Strada, cujo marido, Tom, morreu no 11 de Setembro. "Isso parece um ponto de virada."

A ordem de Biden vem um dia depois de o governo americano receber uma carta, assinada por 3.500 familiares de vítimas, resgatistas e sobreviventes. No documento, o grupo ressaltava o desejo de que os documentos da investigação se tornassem públicos.

Para eles, o governo da Arábia Saudita -entre os principais aliados americanos no Oriente Médio- pode ter laços com os terroristas que sequestraram os quatro aviões usados nos atentados. O grupo suspeita que, à época, o FBI tenha mentido ou destruído evidências que estabeleciam essa ligação. "As circunstâncias tornam provável que um ou mais funcionários do FBI tenham cometido má conduta com a intenção de destruir ou esconder evidências para evitar sua divulgação", destacam.

Entre as provas solicitadas pelos autores da carta estão registros telefônicos e um vídeo de uma festa na Califórnia com a presença de dois dos sequestradores, gravado mais de um ano antes dos ataques.

O governo saudita sempre negou qualquer envolvimento nos ataques terroristas em solo americano. Uma comissão de investigação do governo dos EUA, encerrada em 2004, não encontrou evidências de que a Arábia Saudita tenha financiado diretamente a Al Qaeda, grupo responsável pelos ataques, mas deixou em aberto a possibilidade de autoridades do país terem participado do planejamento, isoladamente.

O governo americano, à época na gestão do republicano George W. Bush, acusou o Afeganistão de dar abrigo ao grupo terrorista, o que motivou a ocupação do país da Ásia Central pelos militares americanos -encerrada nesta semana.

Em 2001, o Afeganistão era governado pelo Talibã, grupo fundamentalista islâmico, que está novamente no poder.

No mês passado, familiares de vítimas do 11 de Setembro já haviam avisado Biden que ele não seria bem-vindo em eventos memoriais que marcarão o aniversário de 20 anos dos atentados caso não divulgasse os documentos solicitados.

Apesar da falta de evidências públicas concretas que apontem a relação dos sauditas com os atentados, familiares de 2.600 mortos e mais de 20 mil feridos processaram o país do Oriente Médio, pedindo indenizações de bilhões de dólares por danos causados. Ações semelhantes foram movidas por empresas e seguradoras.

A aliança da Arábia Saudita com os EUA passa por aspectos econômicos -os sauditas são grandes importadores de armas e um dos maiores exportadores de petróleo- e geopolíticos, principalmente em uma região marcada por tensões e conflitos.

Esses laços, porém, são alvo de frequentes críticas, principalmente por parte dos democratas, já que os sauditas são acusados de violações de direitos humanos, que incluem perseguição e até assassinato de críticos. Na campanha eleitoral, o então candidato Joe Biden prometeu linha dura com o governo da Arábia Saudita, apoiado pelo então presidente Donald Trump.

Em fevereiro, a CIA divulgou um relatório que responsabiliza o príncipe Mohammed bin Salman, herdeiro do trono e quem realmente dá as cartas no país, por ter ordenado o assassinato e o esquartejamento do jornalista saudita Jamal Khashoggi dentro do consulado saudita em Istambul, na Turquia, em 2018.

No mesmo dia, o secretário de Estado, Antony Blinken, anunciou restrições de vistos de 76 pessoas da Arábia Saudita que "teriam se envolvido diretamente em atividades contra dissidentes extraterritoriais". Apesar das constatações, Bin Salman não sofreu punições dos americanos.