WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou novas sanções contra a Rússia nesta terça-feira (22), em resposta às ações do líder russo Vladimir Putin contra a Ucrânia.

O americano disse que a nova rodada de medidas impedirá o governo da Rússia de fazer transações financeiras envolvendo títulos de sua dívida com empresas dos EUA e da Europa.

"Estamos implantando sanções na dívida soberana da Rússia. Isso significa que estamos cortando o governo russo das finanças ocidentais. Ele não poderá mais levantar dinheiro no ocidente e não poderá negociar seus títulos em nossos mercados e em mercados europeus", discursou Biden, na Casa Branca.

As punições também incluem duas grandes instituições financeiras da Rússia: os bancos Vnesheconombank (VEB) e Promsvyazbank (PSB), junto a suas 42 subsidiárias. As duas instituições possuem juntas US$ 85 bilhões em ativos, segundo estimativa do governo americano, e são parte da engrenagem que ajuda a financiar as operações militares do país. Elas não poderão mais fazer negócios com os EUA e seus ativos em território americano serão congelados.

Houve também sanções contra cinco integrantes da elite russa, além de seus familiares, por terem relação com casos de corrupção e por terem se beneficiado de relações com o Kremlim, segundo o governo americano.

O governo americano tem planos de ampliar as medidas caso a situação piore. "Nenhuma instituição financeira da Rússia está segura. Se a invasão [da Ucrânia] prosseguir, estamos prontos para tomar medidas adicionais contra as maiores instituições da Rússia, incluindo o Sberbank e o VTB, que juntos tem quase US$ 750 bilhões em ativos, ou mais da metade do total da Rússia inteira", disse um alto funcionário da Casa Branca, sob anonimato.

No discurso desta terça, Biden descreveu as ações de Putin como uma violação flagrante da lei internacional. "Quem, em nome de Deus, Putin pensa que lhe dá o direito de declarar novos 'países' em territórios que pertencem a seus vizinhos?", questionou o presidente, em referência à decisão tomada por Putin nesta segunda de reconhecer a independência das províncias de Lugansk e Donetsk, no leste da Ucrânia, e enviar tropas em apoio aos separatistas.

"Para colocar isso de modo simples, a Rússia simplesmente anunciou que está retirando um grande pedaço da Ucrânia. Ele está montando uma racionalização para tomar mais território pela força. Este é o começo da invasão da Ucrânia", disse Biden, reiterando o discurso que ele próprio, bem como diplomatas e porta-vozes do governo americano, ecoa há semanas.

"Ele atacou diretamente o direito da Ucrânia de existir. Ele indiretamente ameaçou territórios antes sob controle da Rússia, incluindo nações que hoje são democracias prósperas e membros da Otan. Ele explicitamente ameaçou guerra a menos que suas demandas extremas sejam atendidas", disse Biden.

"A Rússia levou suprimentos de bolsas de sangue e equipamentos médicos para uma posição na fronteira. Você não precisa de sangue a menos que planeje começar uma guerra", afirmou o democrata.

O presidente afirmou ainda que as medidas anunciadas por Putin são uma forma de defesa, não de ataque. "Não temos intenção de lutar contra a Rússia", disse, acrescentando que ainda há caminhos para uma saída diplomática da crise —embora as negociações nesse sentido não estejam rendendo frutos.

Biden também reforçou que imporá novas sanções se a Rússia continuar agindo contra a Ucrânia, e que seguirá dando assistência militar a Kiev e a outros países da região.

Na segunda (21), o presidente americano havia assinado uma ordem executiva para impedir cidadãos e empresas americanas de fazerem negócios com as regiões separatistas da Ucrânia, assim como a importação de produtos vindos dali. A ordem abre exceção para envio de ajuda humanitária à região.

O presidente também disse estar trabalhando para evitar que o conflito entre Rússia e Ucrânia gere problemas para a economia americana. "Quero limitar a dor que os americanos estão sentindo na bomba de gasolina. Isso é crítico para mim", prometeu.

A decisão de legitimar a demanda dos grupos rebeldes em Lugansk e Donetsk, além de ser o gatilho para a imposição de sanções pela Casa Branca, ocorreu em um discurso duro do presidente russo. Durante o pronunciamento, Putin disse que a Ucrânia "nunca foi um Estado verdadeiro" e hoje é uma "colônia de marionetes" dos EUA.

Desde novembro, Putin tem concentrado tropas em exercícios militares em torno do país vizinho —150 mil soldados, pelo menos, segundo os EUA. Moscou nega que irá invadir o país, mas após reconhecer os territórios rebeldes determinou que tropas russas o ocupem numa missão de "força de paz". A questão é até onde estes militares irão: se ficarão apenas nas áreas já sobre controle rebelde ou se os ajudarão a conquistar mais partes da Ucrânia.

A segunda opção configuraria, na prática, uma invasão do país vizinho —o que serviria para Biden e outros líderes ocidentais como uma validação do discurso de que essa sempre foi a verdadeira intenção de Putin.

Nesta terça (22), o russo disse que não vai enviar imediatamente tropas para as duas autoproclamadas repúblicas. O movimento, no entanto, visa pressionar ainda mais Kiev a aceitar os termos impostos pela Rússia para dar um fim à crise na região.

Putin verbalizou suas exigências ao governo ucraniano durante uma entrevista coletiva em Moscou. Disse que Kiev pode ajudar a encerrar a crise se desistir de tentar aderir à Otan (aliança militar ocidental), centro público de suas queixas, e se for "desmilitarizada" —ele voltou a falar que o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, quer armas nucleares, aproveitando uma fala infeliz do ucraniano sobre o tema.

Apesar das ações recentes, a Rússia tem dito que ainda está disposta a negociar para resolver a crise de forma pacífica —embora as alternativas diplomáticas cada vez mais pareçam estar se esgotando.

Também nesta terça, a Otan fez críticas à Rússia. "Moscou continua a alimentar o conflito no leste da Ucrânia ao prover apoio financeiro e militar aos separatistas. E também está tentando encenar um pretexto para invadir a Ucrânia de novo", disse o norueguês Jens Stoltenberg, secretário-geral da entidade.

"Isso mina a soberania e a integridade territorial da Ucrânia, erode os esforços em direção à resolução do conflito, e viola os Acordos de Minsk, dos quais a Rússia faz parte", acrescentou, citando o compromisso que sustentava um precário cessar-fogo na região, desde 2015.

Os EUA já haviam imposto sanções à Rússia nos últimos anos. Em 2014, após a anexação da Crimeia, mais de 700 indivíduos russos foram alvo delas, segundo levantamento do Congresso dos EUA. Há também punições similares a setores e instituições, por razões diversas, como envolvimento em ataques digitais, desrespeito a direitos humanos e desrespeito a outras sanções.

As sanções funcionam como uma lista de restrição: quem é incluído nela fica impedido de fazer negócios com outras entidades. E outras pessoas e empresas que realizarem operações com os nomes restritos podem também sofrer sanções.