BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central manteve o plano de reduzir o ritmo do aperto monetário e elevou a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual, passando de 10,75% para 11,75% ao ano, nesta quarta-feira (16).

A decisão veio em linha com as projeções do mercado financeiro. Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que a maioria dos analistas consultados esperava elevação de 1 ponto na Selic, mesmo com a deterioração nas expectativas de inflação.

O colegiado do BC se reuniu nesta semana em meio a um cenário desafiador para o processo de desinflação diante dos novos choques decorrentes da guerra entre Rússia e Ucrânia, como a alta dos preços dos combustíveis.

O forte recuo das cotações do petróleo na terça (15), abaixo de US$ 100 (R$ 515,85) pela primeira vez em cerca de um mês, explicitou a volatilidade que atinge os mercados. Em 6 de março, o barril chegou a bater a máxima de US$ 139,13 (R$ 706,11).

O contexto é marcado por incertezas, e os efeitos no Brasil dependerão da duração do conflito no Leste Europeu.

Diante disso, a autoridade monetária mostrou cautela e, apesar da piora do ambiente inflacionário nas últimas semanas, não alterou sua estratégia.

Em fevereiro, o colegiado havia sinalizado a redução da magnitude de ajuste da taxa básica de juros depois de promover elevações de 1,5 ponto percentual na Selic nas últimas três reuniões.

Em dois dígitos, a taxa de juros está agora no maior patamar desde abril de 2017, ainda no governo de Michel Temer (MDB), quando os juros eram de 12,25% ao ano.

O ciclo do aperto monetário encontra-se em estágio avançado no Brasil. Esta foi a nona elevação consecutiva da Selic, com alta acumulada de 9,75 pontos percentuais. O aumento dos juros no país é o maior entre as principais economias ao redor do mundo.

Em março do ano passado, a Selic estava em 2% ao ano, menor patamar histórico, e cinco meses depois, já entrava em território contracionista (que freia a atividade econômica e a inflação).

Esse é também o maior ciclo de aperto desde a criação do sistema de metas para inflação, em 1999, quando a taxa básica subiu de 25% para 45% ao ano.

O choque de juros é uma resposta do BC às sucessivas revisões para cima das expectativas de inflação para o próximo ano.

Na segunda (14), a pesquisa Focus mostrou que a mediana da inflação projetada pelos economistas para este ano subiu de 5,65% para 6,45%, distanciando-se mais ainda do teto da meta fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).

O objetivo a ser perseguido pela autoridade monetária neste ano é de 3,5%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Se as projeções se confirmarem, o teto da meta será estourado pelo segundo ano consecutivo.

Em fevereiro, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) registrou alta de 1,01%, número acima das expectativas do mercado, que esperava elevação de 0,95%. No acumulado de 12 meses, o indicador de inflação chegou a 10,54%.

iante das intensas pressões inflacionárias, economistas revisaram suas projeções para a taxa terminal da Selic. Para 2022, esperam que os juros fechem o ano a 12,75%. Em 2023, a expectativa é de 8,75% ao ano.

O Copom volta a se reunir nos dias 3 e 4 de maio, quando o colegiado do BC passa a olhar integralmente para a meta de 2023 em suas decisões sobre os juros, dada a defasagem nos efeitos da política monetária na economia.