SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - O cantor Caetano Veloso, de 79 anos, irá liderar no dia 9 de março uma grande manifestação artística contra o chamado "combo da destruição", um pacote de projetos de lei de interesse do governo federal que deve ser analisado pelo Senado Federal.

O movimento será formado por artistas, ativistas e militantes. Em entrevista ao Metrópoles, Caetano contou quando começou a pensar "de forma racional" nas questões ambientais: "A primeira vez que pensei na questão de forma racional foi quando li, em 1968, o livro de Claude Lévi-Strauss Tristes Trópicos. Lá tem uma reflexão sobre os mares estarem se enchendo de lixo produzido por humanos - e uma visão pessimista da enormidade da população humana no planeta", disse ele.

Caetano ainda comparou a época em que foi preso ao lado de Gilberto Gil, com as ações do governo atual:

"Gil e eu fomos presos em dezembro de 1968, logo após o AI-5. Ficamos na cadeia até fevereiro de 1969. O atual governo nasceu de uma revisão absurda da história da ditadura militar. O sujeito que veio a se tornar presidente dedicou seu voto favorável ao impeachment de Dilma ao torturador Ustra. Seu vice disse, em entrevista televisiva pré-eleição, que Geisel foi único que errou. Entendi que ele detesta o projeto de abertura que, confirmando uma profecia de Glauber Rocha, Geisel pôs em prática. Não gosto nem de Delfim dizendo que votaria de novo pelo AI-5. Sou democrata, embora não mais um liberal democrata. Acho que o Brasil tem de tornar os atos do poder público igualitários e criativos e parar com o deslumbre pelas forças privadas. Precisa curar-se do delírio neoliberal. O governo que temos agora não tem paralelo com a ditadura, tem saudade dela, paixão pela deformação do poder público. É o avesso do que devemos ser".

Por fim, o artista disse que acredita e deseja que Jair Bolsonaro não vença as eleições neste ano: "Parece provável que Bolsonaro perca. Mas não é certo. De todo modo, mesmo que ele saia, a sociedade brasileira precisa mostrar-se mais forte do que a neurose coletiva que alimenta o bolsonarismo".