WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - Ativistas de extrema direita convocaram atos para este sábado (18), em Washington e em outras cidades dos EUA, para reclamar do tratamento dado aos invasores do Congresso, que eles consideram injusto.

Os protestos geram o receio de que ocorram novas cenas de confronto como as de 6 de janeiro, quando apoiadores do ex-presidente Donald Trump invadiram o Capitólio para tentar impedir a certificação da vitória de Joe Biden nas eleições e fazer com que o republicano seguisse no cargo de modo ilegal.

Com cinco mortos e centenas de feridos, a invasão terminou sem que seus objetivos fossem atingidos. Desde então, o FBI tem sido duro nas investigações e já prendeu mais de 600 participantes da insurreição.

Os acusados estão sendo indiciados por diversas razões, de acordo com o nível de envolvimento nas cenas de violência e no planejamento da ação. Ao menos 185 foram processados por atacar ou impedir a ação de agentes de segurança, incluindo 55 que usaram armas perigosas no ataque, mais de 550 foram autuados por entrar em um prédio federal sem autorização e 40, por conspirar para obstruir um procedimento do Congresso. Até o começo de setembro, seis réus haviam sido condenados.

O FBI continua investigando um conjunto de mais de 200 mil pistas recebidas de cidadãos, para identificar mais ativistas que tenham participado dos atos de alguma maneira, e segue em busca de mais denúncias.

O ato deste sábado, batizado de "Justice for J6" (justiça por 6 de Janeiro), expressará apoio aos acusados de participar da invasão e lembrará a morte de Ashli Babbitt, ativista baleada por um policial. A conduta do agente, que passou a sofrer ameaças de grupos de extrema direita, foi considerada adequada pela polícia.

O protesto é organizado pelo grupo Look Ahead America, liderado por Matt Braynard, ex-colaborador de campanha de Trump que diz ter como missão fazer com que as vozes de trabalhadores dos EUA sejam ouvidas. Braynard, para quem os detidos são "presos políticos", pediu que os novos atos sejam pacíficos.

O grupo enviou uma queixa à Comissão de Direitos Humanos da ONU para questionar a forma como os ativistas estão sendo tratados e pedir sanções. Num comunicado, clamou "aos governos ao redor do mundo" para impor restrições de viagem a Biden, ao secretário de Justiça, Merrick Garland, ao diretor do FBI, Christopher Wray, e a outras autoridades "envolvidas nesta violação grosseira aos direitos humanos".

Trump, por sua vez, deu apoio ao protesto, reforçando a narrativa de tratamento supostamente injusto aos invasores. "Nossos corações e mentes estão com as pessoas processadas de modo tão injusto por relação com o protesto de 6 de janeiro sobre a eleição presidencial manipulada", escreveu na quinta (16).

A cúpula republicana, por outro lado, tem buscado se afastar dos atos. Os líderes do partido na Câmara e no Senado disseram que nenhum parlamentar da legenda deve participar dos protestos, embora alguns deles tenham criticado os processos contra invasores nos últimos meses.

Entre os democratas, como esperado, críticas duras. Nancy Pelosi, presidente da Câmara, acusou os participantes de "voltarem para celebrar as pessoas que saíram para matar" em 6 de janeiro.

Por isso, autoridades americanas divulgaram alertas de segurança nesta semana e tomaram medidas para reforçar o policiamento, como a reinstalação de grades ao redor do Congresso --a barreira havia sido colocada pouco depois da invasão e ali ficou por vários meses.

Apesar dos avisos, a expectativa é a de que a dimensão dos atos deste sábado seja bem menor do que a do protesto de janeiro. O DHS (Departamento de Segurança Interna) estimou, a partir de análises de redes sociais, pedidos de autorização para manifestações na rua e reservas de hotéis, que a manifestação em Washington, marcada para acontecer em uma praça em frente ao Capitólio, reúna cerca de 700 pessoas.

Ainda assim, há o temor de que parte dos ativistas leve armas de fogo, o que amplia o risco de confrontos e fez o governo da capital espalhar avisos no comércio para que frequentadores chamem a polícia caso vejam pessoas armadas em lugares públicos. Regulações locais restringem o porte de armas nas ruas.

O sábado em Washington terá vários outros eventos, como um jogo de futebol americano e outro de beisebol, um show do cantor Harry Styles, com ingressos esgotados, e uma festa de rua que ocupará 11 quarteirões. As autoridades afirmam que a cidade dará conta de tantas atividades.

Nas últimas semanas, houve ao menos duas tentativas de ataque em Washington. Em 19 de agosto, um homem parou uma van perto da biblioteca do Congresso e disse ter uma bomba, o que era uma mentira --ele se rendeu depois de algumas horas. Na segunda (13), um supremacista branco armado com um facão foi detido perto do Comitê Nacional Democrata.

Os órgãos de governo americano dizem estar mais preparados para lidar com ações políticas de cunho violento do que em janeiro e que um dos sinais disso é o investimento maior em preparação e troca de dados entre as agências e órgãos de segurança. "A informação estava lá fora, mas você tinha de procurar em vez de esperar que a trouxessem a você", disse Melissa Smislova, subsecretaria de inteligência, à NBC.