Ataques no metrô de Nova York acendem alerta sobre aumento da violência
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quarta-feira, 26 de janeiro de 2022
GUARULHOS, SP (FOLHAPRESS) - Apenas no início deste ano, dois casos de passageiros empurrados nos trilhos do metrô da cidade de Nova York, nos Estados Unidos, ganharam projeção nacional e acenderam o alerta vermelho para a violência no transporte público, um problema que, segundo mostram os números, vem crescendo.
Michelle Alyssa Go, 40, cidadã asiático-americana, morreu após ser empurrada nos trilhos do trem na estação Times Square em 15 de janeiro. O agressor da gerente sênior da consultoria Deloitte é Simon Martial, 61, homem que vive nas ruas da cidade e foi acusado de assassinato em segundo grau. O crime gerou comoção e levou centenas a participarem de uma vigília por Michelle na semana passada.
Pouco menos de uma semana depois, neste domingo (24), um homem de 62 anos sofreu ferimentos leves em uma das pernas depois de ser empurrado nos trilhos em uma estação de Lower Manhattan. Seu nome não foi divulgado, e tampouco o agressor, que fugiu do local, foi identificado pela polícia nova-iorquina.
Os dois casos acontecem em meio a um cenário de crescente violência no sistema metroviário da cidade, o que pressiona as autoridades por medidas que promovam a segurança pública. Relatório divulgado pela Autoridade Metropolitana de Transportes (MTA, na sigla em inglês), nesta segunda-feira (24), mostra que os assassinatos nesse ambiente cresceram 33% em 2021 em comparação com o ano anterior.
Oito pessoas foram mortas no metrô de Nova York no último ano, duas a mais que em 2020. A cifra é a maior desde 2005, quando cinco foram assassinados. Número ainda mais expressivo é o de agressões: 461 foram relatadas em 2021, sendo que em 30 desses casos a vítima foi empurrada nos trilhos. O dado representa um aumento de 30% em relação ao ano anterior e se trata do maior desde 1998, quando 418 agressões foram contabilizadas.
Por dia, 4,8 episódios de violência ocorreram em estações da cidade mais populosa dos EUA. A conta inclui assassinatos e agressões, bem como casos de roubo e estupro. Pelo menos oito pessoas foram abusadas sexualmente no sistema de metrô, e 529 foram roubadas.
Outro cálculo de autoria da MTA e publicado pelo jornal americano The New York Times ilustra que, somente nos três primeiros meses de 2021, ocorreram 1,63 crimes como esses no metrô para cada milhão de passageiros. O número é superior aos 1,48 crimes por milhão de passageiros do mesmo período de 2020 e ainda maior que a média de 1 crime por milhão no primeiro trimestre de 2019.
Especialistas, no entanto, sinalizam que o aumento do número de passageiros no último ano, quando parte das restrições sanitárias para conter a pandemia foi afrouxada, deve ser levado em conta para analisar o crescimento da violência no transporte público.
Ao site noticioso Business Insider, John DeCarlo, criminologista da Universidade de New Haven, de Connecticut, lembrou que o aumento das taxas de vacinação e o retorno ao trabalho presencial devem ser colocados na balança. "O número de passageiros é maior, e, em criminologia, um dos fatores mais importantes é a densidade populacional. Se há mais pessoas, haverá mais crimes."
Cerca de 74,6% dos resistentes de Nova York já receberam as duas doses do imunizante contra a Covid, segundo dados oficiais atualizados. Entre os adultos, a parcela de pessoas com esquema vacinal completo chega a 85%. Já entre as crianças, fica em 50%.
A violência no transporte público se desdobrou em mais um problema com o qual o recém-eleito prefeito da cidade, o democrata Eric Adams, terá de lidar nos meses iniciais de gestão. Segundo prefeito negro a comandar a cidade, ele disse no domingo que promoverá parcerias entre policiais e profissionais de saúde mental para mitigar o que chamou de distúrbio no sistema de metrô.
"Não podemos esperar que alguém execute uma ação perigosa", disse. "Quando você vê uma pessoa perigosa no metrô, imediatamente profissionais de saúde serão mobilizados e ela receberá os devidos cuidados e será removida do espaço", continuou o Adams.
O democrata, um ex-capitão da polícia nova-iorquina, também anunciou um pacote maior descrito como um plano para acabar com a violência armada em Nova York. A medida envolve o envio de equipes adicionais de agentes públicos a 30 das 77 delegacias da cidade.
Nova York registrou 488 assassinatos no último ano, um aumento de 5,6% em relação a 2020. Os tiroteios, que somaram 1.532 em 2020 -o dobro que no ano anterior-, aumentaram 2% em 2021, de acordo com estatísticas mais recentes da cidade.