Ata do Copom reforça que pressão da inflação é temporária
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terça-feira, 11 de maio de 2021
LARISSA GARCIA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A ata do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central reafirmou, nesta terça-feira (11), que a escalada de preços observada nos últimos meses é temporária. A autoridade monetária ponderou, contudo, que a pressão inflacionária deve se manter elevada no curto prazo.
O diagnóstico vem sendo repetido nas decisões do Colegiado desde setembro, quando os preços começaram a subir no país, puxados principalmente por alimentos e combustíveis.
A avaliação do BC foi publicada no mesmo dia em que o resultado do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de abril foi divulgado. O indicador registrou alta de 0,31% no mês, em ritmo menor que o observado nos meses anteriores.
Em 12 meses, a inflação acumulou avanço de 6,76%, acima do teto da meta fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) para 2021, de 3,75% com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo o limite é de 5,25%.
O BC afirmou que, com exceção do petróleo, os preços internacionais das commodities continuaram em alta, o que impactou as projeções para alimentos e bens industriais.
"Além disso, a transição para patamares mais elevados de bandeira tarifária de energia elétrica deve manter a inflação pressionada no curto prazo. O Comitê mantém o diagnóstico de que os choques atuais são temporários, mas segue atento à sua evolução", trouxe o documento.
Na última reunião, em 4 de maio, o Copom elevou a taxa básica de juros (Selic) em 0,75% ponto percentual, a 3,50% ao ano, conforme indicado na decisão de março.
No comunicado, o BC sinalizou nova alta na mesma magnitude em junho, para 4,25%.
O controle da inflação é a principal atribuição da autoridade monetária. Para isso, o BC define a meta da taxa básica de juros.
Quando a inflação está alta, o Copom sobe os juros com o objetivo de reduzir o estímulo na atividade econômica, o que diminui o consumo e equilibra os preços. Caso contrário, o BC pode reduzir juros para estimular a economia.
No comunicado, o BC subiu em 0,1 ponto percentual a expectativa de inflação para este ano, mas reduziu no mesmo nível a projeção para o próximo.
Na análise feita com a taxa de juros da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de US$ 5,40, as projeções são de 5,1% para 2021 e 3,4% para 2022.
O cenário supõe que a Selic se eleve para 5,50% ao ano em 2021 e para 6,25% ao ano em 2022. As expectativas para a inflação de preços administrados, segundo o texto, são de 8,4% para 2021 e 5% para 2022.
Segundo o relatório Focus desta semana, no qual o BC divulga as projeções do mercado, mesmo após a alta nos juros, os economistas continuaram elevando as expectativas de inflação para 2021, que estão em 5,06%.
Na semana passada, as estimativas estavam em 5,04% e em 4,85% há um mês. De acordo com o levantamento, os analistas esperam que a Selic termine o ano a 5,50%.
"A ata do Copom não trouxe grandes informações adicionais à nossa avaliação sobre a reunião. O texto publicado hoje acabou corroborando com nossa avaliação de que a Selic deverá ser conduzida até 5,0% ao ano, uma vez que a autoridade explicitou o que significa o termo normalização parcial", analisou o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.
"É evidente que o juro neutro estimado no por nós e pela autoridade é suscetível à diversos fatores, principalmente ao fiscal, amplamente apontado com um risco por todo o mercado. Assim, caso um descalabro fiscal expressivo e, principalmente, perene, venha a ocorrer pelo congresso juro neutro sobe, tornando o alvo da autoridade mais elevado para Selic", completou o analista.
Para José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, a ata mostrou preocupação com uso da expressão "normalização parcial" de juros, o que pode dererminar a velocidade e a magnitude da elevação da Selic nas próximas reuniões.
Segundo ele, há dois horizontes relevantes para a condução da política monetária: a volta à normalidade tendo como base nas posturas adotadas pelo BC antes da pandemia (em referência a um ciclo normal) e em qual patamar a taxa Selic levaria a inflação para a meta passada a crise.
"A comunicação do Copom embaralhou o divisor entre os dois horizontes, como é próprio do retorno da análise para a prática, e sugere retorno à Selic real a algo como 4,5% em um primeiro movimento e a 6,0% em um segundo movimento", afirmou o economista.
Para Gonçalves, zerar a Selic real atualmente (descontada a inflação) significa elevá-la a 4,0% ao ano, nível que ainda seria estimulativo.
"Para levar a taxa real a seu nível neutro, a taxa nominal deveria ir a 7,0% hoje. O Copom parece ter buscado sinalizar algo abaixo desse nível como teto do primeiro movimento, uma vez que considera 'apropriada uma normalização parcial da taxa de juros, com a manutenção de algum estímulo monetário ao longo do processo de recuperação econômica'", analisou.