RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Após a queda do comandante da Polícia Militar e de uma série de afastamentos na corporação, o secretário de Defesa Social de Pernambuco, Antônio de Pádua, também ofereceu o cargo nesta sexta-feira (4), seis dias após policiais atacarem manifestantes em ato contra o presidente Jair Bolsonaro, no centro do Recife.

O governador Paulo Câmara (PSB) nomeou para a posição o atual secretário executivo, Humberto Freire, que é delegado federal e fazia parte da equipe de Pádua desde o início de sua gestão.

Na terça-feira (1), o comandante da PM de Pernambuco, Vanildo Maranhão, já havia pedido exoneração do cargo. Ele foi substituído pelo coronel Roberto Santana.

Em nota, o governador afirmou que deu aos empossados a missão de não esquecer o episódio do último sábado (29), para que nunca se repita. "Os protocolos precisam ser revistos para que um comando de tropa na rua não possa se sentir autônomo a ponto de agir da maneira que agiu", disse Câmara.

No sábado, PMs do Batalhão de Choque começaram a atirar às 11h44 contra os manifestantes que seguiam de maneira ordeira por uma avenida do centro do Recife. Imagens mostram policiais atirando nos presentes quase à queima-roupa. Não há registros de agressões contra a força policial.

Duas pessoas perderam a visão de um olho após terem sido atingidas por tiros de bala de borracha que partiram da polícia.

A corregedoria da secretaria de Defesa Social apura a ocorrência de excesso policial e já afastou oito agentes investigados no caso.

O governo de Pernambuco ainda não informou quem deu a ordem para o ataque. Em entrevista à TV Globo nesta quarta-feira (2), Câmara disse que a orientação não partiu da cúpula da segurança estadual.

Na quinta-feira (3), Pádua afirmou à emissora que uma das hipóteses investigadas é de que a ordem tenha partido diretamente do campo operacional da PM.

Dois dias antes da manifestação, o Ministério Público de Pernambuco havia alertado o secretário sobre a necessidade de orientação do efetivo da Polícia Militar para evitar eventuais excessos no ato.

Pádua estava no centro de monitoramento de câmeras da secretaria no momento em que policiais atacaram os manifestantes. Neste local, é possível monitorar em tempo real todas as câmeras no estado.

Ao lado de Pádua, estava Humberto Freire, que o substituiu na chefia da pasta nesta sexta-feira. Quase uma hora depois do início da repressão policial no centro da capital, às 12h34, o secretário apareceu ao vivo em uma emissora de televisão ao lado do telão de monitoramento, apontando imagens na zona sul da capital e também na cidade de Olinda.

Nos bastidores, há rumores de que a violenta ação policial pode ter sido insuflada por um sentimento bolsonarista da tropa. Nas redes sociais, perfis não oficiais de batalhões da Polícia Militar comemoraram a ação.

Episódios em que policiais militares abusaram de suas funções para fazer valer posições favoráveis a Jair Bolsonaro acenderam o sinal de alerta entre líderes políticos acerca da tática do presidente para o ano eleitoral de 2022.

Na segunda-feira (31), um policial goiano parou um professor petista que trazia em seu carro uma faixa chamando Bolsonaro de genocida. Citando a contestada Lei de Segurança Nacional, criada na ditadura militar e já usada pelo governo federal contra críticos do presidente, o PM prendeu o professor.