Após ser socorrido por professora, bebê ferido em Saudades tem alta da UTI
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quarta-feira, 05 de maio de 2021
THAIZA PAULUZE
<p>SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Quando a professora Aline Biazebetti, 27, ouviu os gritos de socorro vindo da creche Aquarela, em frente à sua casa e onde entraria para dar aula horas depois, pensou que alguma criança havia se machucado, sofrido uma queda ou um choque elétrico. Tudo passou pela cabeça da docente, menos um ataque a faca.
</p><p>Ela só entendeu o que estava acontecendo em Saudades (SC) quando puseram em seu colo um bebê. Com o menino ensanguentado, rosto e pescoço cortados, ela pediu carona a quem passava de carro para chegar ao hospital, que fica a 300 metros da escola. Foi ignorada.
</p><p>O pai de Aline então tirou o próprio carro da garagem. Do pronto-socorro da cidadezinha, a criança foi levada de helicóptero ao Hospital Regional do Oeste, em Chapecó, a 70 km dali. Em estado grave, o bebê foi operado nesta terça-feira (4); um dia depois, teve alta da UTI e foi para a enfermaria clínica. Estável, ele foi transferido para o Hospital da Criança, também em Chapecó.
</p><p>Foi só então que a professora Aline se deu conta que tinha salvado o menino, de 1 ano e 8 meses.
</p><p>"Ele não chorava, não tinha reação nenhuma, estava pálido, assustado. Mas a boca dele borbulhava, só depois fui saber que era porque o pulmão dele tinha sido perfurado", conta ela. "Se eu não o tivesse levado, ele teria morrido nos meus braços. Ainda bem que deu certo. Me conforta um pouco."
</p><p>Ela ainda não conseguiu falar com os pais da criança.
</p><p>Sua casa virou o primeiro posto de acolhimento dos outros guris e profes, como os catarinenses os chamam carinhosamente. A família toda ajuda a acalmá-los.
</p><p>Por minutos, conta, o ataque não deixou mais vítimas. Isso porque às 10h é o horário do lanche dos pequenos, que saem da sala e se reúnem num mesmo espaço.
</p><p>Agora, Aline diz que sente uma mistura de tristeza e medo. Não quer retornar para a classe.
</p><p>"Vai ser bem difícil voltar lá. Eu era amiga da Keli [professora de 30 anos que foi morta]. Se fosse à tarde, eu poderia ter morrido. Ele quebrou o vidro da sala em que dou aula. Eu tentaria salvar os 'piázinhos'", diz ela.
</p><p>No dia em que foi ao velório e enterro das colegas e crianças, Aline também conseguiu ir à universidade apresentar seu TCC para se formar em pedagogia, inspirada pela irmã, que também trabalha na área. O tema? "Ludicidade na educação infantil".
</p><p>"Como eles são bebês, torço para que não lembrem do que aconteceu", diz a professora.</p>