SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governo do Peru anunciou nesta segunda-feira (31) a revisão do número de mortes registradas por Covid-19, elevando a cifra a 180.764 óbitos, quase o triplo do divulgado anteriormente —69.342 até este domingo (30). De acordo com o governo, parte da explicação para um índice tão inferior deve-se à falta de testes para a confirmação se uma pessoa morreu por causa do vírus ou por alguma outra causa.

A mudança ocorreu porque um grupo técnico criado em abril por especialistas peruanos e de órgãos internacionais, como a OMS, recomendou a alteração dos critérios de contabilização após determinar que "a metodologia atual tem duas limitações que geram subnotificações".

A partir de agora, o balanço contará como mortes por Covid-19 as que atenderem a sete critérios estabelecidos, entre os quais o de "casos prováveis", que "apresentam vínculo epidemiológico com infecções confirmadas". Ainda serão considerados óbitos devido à pandemia os "casos suspeitos de Covid-19 que apresentem quadro clínico compatível com a doença". Assim, além dos registros de mortes ocorridas até 60 dias depois de testes de detecção, serão contabilizadas, por exemplo, as vítimas cujas radiografias, tomografias ou ressonâncias magnéticas são compatíveis com casos de Covid-19.

O Peru tem sido uma das nações mais atingidas pela pandemia de coronavírus na América Latina, o que superlotou hospitais e gerou falta de tanques de oxigênio em centros médicos. Especialistas havia muito alertavam que o verdadeiro número de mortos estava sendo subestimado nas estatísticas oficiais.

Com o número anterior de mortos, o Peru ostentava a 13ª maior taxa de mortalidade na pandemia em todo o mundo, com 2.103 mortes por milhão de habitantes, segundo contagem da agência de notícias AFP a partir de cifras oficiais. Após a atualização, passa a ser o país com a maior taxa de mortalidade do mundo, com 5.484 mortes por milhão de habitantes, bem à frente das 3.077 mortes do segundo colocado, a Hungria. Com 33 milhões de habitantes, o país andino registra mais de 1,9 milhão de infecções.

"Achamos que é o nosso dever tornar públicas essas informações atualizadas", disse a presidente do Conselho de Ministros do Peru, Violeta Bermudez, em uma entrevista coletiva sobre a revisão. "Graças ao trabalho desta equipe [...] teremos números mais exaustivos que serão muito úteis para monitorar a pandemia e para tomar as medidas adequadas para a enfrentá-la."

As cifras atualizadas estão em linha com os chamados números de mortes em excesso, que os pesquisadores usaram no Peru e em outros países para medir uma possível subnotificação.

O índice de mortes em excesso mede o número total de óbitos durante um período de tempo e o compara com o mesmo período pré-pandemia. Em março, o governo do México admitiu que a cifra de mortes por Covid-19 no país era 60% maior do que a divulgada oficialmente.

Em fevereiro, a condução da crise sanitária no Peru derrubou duas ministras, que se envolveram em escândalos relacionados à campanha de vacinação contra a Covid-19 no país. Pilar Mazzetti, que chefiava a pasta da Saúde, pediu demissão depois de um jornal de Lima publicar reportagem segundo a qual o ex-presidente Martín Vizcarra havia sido vacinado em outubro, semanas antes de sofrer um impeachment.

Dias depois, foi a vez de Elizabeth Astete, ministra das Relações Exteriores, pedir para sair. Ela admitiu ter furado a fila ao receber, em 22 de janeiro, uma dose da vacina de um "lote remanescente".

"Apresentei ao presidente da República minha carta de demissão do cargo de ministra das Relações Exteriores", disse Astete em um comunicado publicado em seu perfil no Twitter, no qual afirma que abrirá mão de receber a segunda dose do imunizante.

À época, o presidente interino, Francisco Sagasti, não poupou críticas às ex-subordinadas. “Fico indignado e furioso com esta situação que põe em perigo os esforços de muitos peruanos”, disse ele a uma emissora de TV.

O próximo presidente do país será decidido no domingo (6), na disputa de segundo turno entre Keiko Fujimori e Pedro Castillo. Segundo a última pesquisa de intenção de voto, publicada no domingo (30), os dois aparecem em empate técnico.

Realizado pelo instituto Ipsos, o levantamento mostra Castillo com 51,1% dos votos, e Keiko, com 48,9%. A margem de erro é de 2,5 pontos percentuais.