Após crítica interna, Biden pressiona Netanyahu por desescalada em Gaza
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 19 de maio de 2021
LUCAS ALONSO E BRUNO BENEVIDES
BAURU E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A escalada de violência entre Israel e o grupo islâmico Hamas chegou ao décimo dia nesta quarta (19) sem perspectiva de cessar-fogo imediato, com a Faixa de Gaza mergulhada em crise humanitária e um saldo de ao menos 240 mortos.
A situação fez os Estados Unidos --principal aliado internacional do governo israelense-- pedirem publicamente a diminuição dos confrontos ainda nesta quarta, em uma mudança de atitude em relação aos dias anteriores.
O presidente Joe Biden acusado pelo seu próprio partido de falta de firmeza com Israel, falou por telefone com o premiê Binyamin Netanyahu pela quarta vez desde o início da crise atual e "comunicou ao primeiro-ministro que esperava uma desaceleração significativa hoje no caminho para um cessar-fogo".
Segundo comunicado da Casa Branca, "os dois líderes tiveram uma discussão detalhada sobre o estado dos eventos em Gaza, o progresso de Israel em degradar as capacidades do Hamas e outros elementos terroristas e os esforços diplomáticos em andamento por governos regionais e dos Estados Unidos".
Netanyahu, por sua vez, afirmou que aprecia o apoio de Biden ao direito de defesa de Israel, mas que vai "continuar esta operação até que seu objetivo seja alcançado: trazer de volta a paz e a segurança aos cidadãos de Israel".
"A cada dia estamos atingindo mais recursos das organizações terroristas, derrubando mais torres terroristas, atingindo mais esconderijos de armas", disse. "Não estamos parados com um cronômetro. Queremos atingir os objetivos da operação. As operações anteriores duraram muito tempo, então não é possível definir um prazo."
Em resposta ao apelo de Biden, o porta-voz do Hamas, Hazem Qassam, disse que quem busca restaurar a calma deve "obrigar Israel a encerrar sua agressão em Jerusalém e seu bombardeio a Gaza". Assim que isso acontecer, segundo Qassam, "pode haver espaço para falar sobre arranjos para restaurar a calma".
O pedido de Biden, porém, não foi acompanhado de uma mudança de postura dos diplomatas americanos na Organização das Nações Unidas. "Temos sido claros e consistentes de que estamos nos concentrando em intensos esforços diplomáticos contínuos para acabar com a violência e que não apoiaremos ações que acreditamos minar os esforços para diminuir a escalada", disse um porta-voz da missão diplomática dos EUA.
A declaração foi vista como uma resposta, ainda que indireta, à proposta de resolução apresentada pela França durante a quarta reunião do Conselho de Segurança da ONU para tratar da violência em Israel e Gaza. O texto propõe encerrar os conflitos e recebeu endosso de Egito e Jordânia --dois países de maioria muçulmana que são vizinhos de israelenses e palestinos.
Os EUA, porém, continuam se opondo a uma declaração pedindo o fim da violência por a considerarem inoportuna e ineficaz para acalmar a crise. "Nosso objetivo é chegar ao fim deste conflito. Vamos avaliar dia a dia qual é a abordagem certa", disse na terça a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki. "Discussões silenciosas e intensas nos bastidores são, taticamente, nossa abordagem neste momento."
Na segunda (17), Biden já havia expressado apoio a um cessar-fogo em outra conversa com Netanyahu, ao qual o premiê respondeu que a conduta de seu país seria "continuar atacando alvos terroristas".
De acordo com informações do jornal The New York Times, no entanto, Biden foi mais duro na conversa privada com o premiê israelense do que tem demonstrado em público, sugerindo que consegue resistir por pouco tempo à pressão internacional para cobrar de Israel o fim dos ataques.
O noticiário da TV israelense N12, citando fontes palestinas não identificadas, relatou que o Egito, por meio de "canais secretos", propôs que a luta entre Israel e Gaza terminasse na manhã desta quinta-feira (20), mesmo dia em que a Assembleia Geral da ONU também discutirá os conflitos.
Da Europa, o ministro alemão das Relações Exteriores, Heiko Maas, viaja nesta quinta para Israel e Ramallah, na Cisjordânia, onde terá reuniões com o intuito de acalmar a crise. Maas se reunirá com o chanceler israelense, Gabi Ashkenazi, e com o ministro da Defesa, Benny Gantz. Também está previsto um encontro com o presidente israelense, Reuven Rivlin, e, do lado palestino, com o primeiro-ministro Mohamed Shtayyeh.
O Itamaraty, que ainda não tinha se manifestado sobre os conflitos em Gaza, informou nesta quarta, pelo Twitter, que o chanceler Carlos França conversou por telefone com Ashkenazi e que ambos "falaram da escalada de tensões na região, da preocupação com a estabilidade no Oriente Médio e lamentaram a perda de vidas inocentes".
Segundo a publicação do Itamaraty, o "Brasil manifestou disposição de contribuir para os esforços de paz", durante as conversas em que "os ministros trataram também do interesse recíproco em aprofundar a parceria bilateral".
Na noite de terça-feira (18), 52 aviões da Força Aérea israelense lançaram 122 bombas em 25 minutos sobre cerca de 40 alvos subterrâneos que, segundo Israel, fazem parte do chamado metrô do Hamas --mais de 12 km de túneis por onde se deslocam os membros da facção palestina.
Ainda segundo os militares israelenses, aproximadamente 50 foguetes foram lançados da Faixa de Gaza em direção a cidades no sul do país, mas não houve relatos de danos ou feridos durante a noite.
Também foram identificados disparos com origem no Líbano. Segundo fontes libanesas, quatro foguetes foram lançados da região da cidade de Tiro, no sul do país, em direção a Israel, o que fez com que sirenes de alerta soassem em Haifa, no norte israelense, e em outras áreas a leste.
Militares israelenses afirmaram que um dos foguetes foi interceptado pelo escudo antimísseis e "o resto provavelmente caiu em áreas abertas". O país fez ainda novos disparos contra alvos no Líbano, embora não haja confirmação sobre quem teria organizado o ataque contra Israel.
Autoridades médicas palestinas disseram que 228 pessoas, incluindo 63 crianças, morreram nos dez dias de bombardeios aéreos que destruíram estradas, prédios inteiros e outras estruturas da Faixa de Gaza, o que agravou a escassez de alimentos e forçou mais de 52 mil palestinos a deixarem suas casas.
Do lado israelense, as autoridades contabilizaram 12 mortos, incluindo duas crianças. O país possui um avançado sistema de defesa contra mísseis e foguetes inimigos que, segundo os números oficiais, interceptou quase 90% dos mais de 3.750 projéteis disparados de Gaza e minimizou os danos do conflito.