SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A reação do PSDB de São Paulo ao veto de 92 prefeitos e vices nas eleições prévias presidenciais do partido iniciou um novo capítulo na guerra interna tucana.

Apoiadores do governador João Doria (SP) afirmam que houve os mesmos problemas em filiados no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais e na Bahia -diretórios aliados ao gaúcho Eduardo Leite.

Já apoiadores de Leite passaram a afirmar que querem levar o caso dos 92 paulistas ao conselho de ética do partido, sob acusação de fraude do diretório de São Paulo.

Na segunda (1º), a comissão de prévias do partido determinou que nenhum dos prefeitos e vices paulistas que estavam no centro das suspeitas poderão votar no processo de seleção interno.

Em resposta, o PSDB-SP pediu à comissão que outros 34 filiados do partido no RS, em Minas e na Bahia também não possam votar.

Assim como os integrantes vetados em São Paulo, a maioria dos 34 filiados nesses outros três estados tiveram um registro de filiação na Justiça Eleitoral com data retroativa. Por exemplo, se cadastraram em agosto, mas informaram que estavam filiados desde abril.

Em número menor, há casos também que admitem filiação após o prazo limite em que poderiam votar nas prévias, mas mesmo assim queriam votar.

As regras do pleito interno estabelecem que apenas quem se filiou ao partido até o dia 31 de maio está apto a votar nas prévias presidenciais do PSDB.

A lista do PSDB de São Paulo gerou reações dos diretórios de apoiadores de Eduardo Leite.

"A irresponsável afirmação de que houve cadastramentos em outros estados, agora que SP foi punido, é mais uma mentira e uma tentativa de fazer cortina de fumaça para esconder fato grave, confirmado e decidido pelo conselho das prévias que mandou anular os votos dos fraudadores", disse o presidente do PSDB-MG, Paulo Abi-Ackel.

O presidente do PSDB-RS, Lucas Redecker, disse em nota que o presidente do diretório paulista, Marco Vinholi, tenta "criar uma cortina de fumaça em cima da comprovação de irregularidades cometidas nas filiações em massa de prefeitos e vices". Segundo ele, "isso é fraude".

Em resposta, Vinholi disse também em nota que os 34 casos nos três estados "são idênticos aos de São Paulo". "Comprovamos oficialmente os cadastros com as certidões do próprio TSE (Tribunal Superior Eleitoral)", disse.

"Democracia se faz com respeito, isonomia e justiça para todos. Cortina de fumaça faz quem quer apontar dedo sem discutir o mérito da questão", acrescentou.

A lista apresentada pelo PSDB de São Paulo tinha, inicialmente, 32 casos. Foram acrescentados mais dois nesta quarta (3).

Diferentemente da lista de 92 prefeitos e vices, essa relação dos outros três estados inclui filiados em geral, sem mandato, que têm menos peso na votação das prévias do que prefeitos e vices.

Um dos citados na nova lista é o presidente municipal do PSDB em Itamarandiba (MG), Celso Abdala, filiado em 2 de outubro.

Procurado pela reportagem, ele diz que sabe do impedimento e que não irá votar. "É claro que eu pretendia votar, mas não tem como eu votar porque minha filiação é recente, e a regra que eles estabeleceram veta isso" afirma Abdala.

"[Mas] Quando as pessoas me ligam aqui fazendo pesquisa, eu declaro apoio ao Eduardo Leite. Aqui no nosso partido, aqueles que estão aptos a votar, vão votar no Eduardo Leite", diz.

O primeiro turno das prévias do PSDB está marcado para o dia 21 de novembro. Além de Doria e Leite, também concorre o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio, que corre por fora.

A disputa no PSDB já levou aliados de Doria até a levantarem desconfiança sobre o sistema de votação do pleito, que acontecerá de forma eletrônica, por meio de um aplicativo.

Nos bastidores, pessoas próximas ao governador paulista diziam nas últimas semanas que o formato não é confiável e pode haver manipulação. Sugeriram como alternativa voltar à maneira antiga, com uso de cédulas.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, publicações de prefeitos em redes sociais reforçaram as suspeitas sobre as datas de filiação ao PSDB devido às menções de datas posteriores às informadas à Justiça Eleitoral. Além disso, um dos mandatários afirmou à reportagem ter assinado a ficha de filiação somente no dia 22 de outubro.