Alfabetização científica ajuda no enfrentamento da pandemia, diz escritor
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terça-feira, 27 de julho de 2021
EVERTON LOPES BATISTA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Se você já se perguntou por que acumulamos fiapos de tecido tão compactados no umbigo, então Graham Lawton escreveu o livro certo para você. Em "A Origem de (Quase) Todas as Coisas", o jornalista de ciência mergulha nas principais teorias científicas sobre o começo das coisas que nos cercam, saciando o interesse dos mais curiosos.
"O objetivo era construir um livro amplo, que tivesse um apelo global, e acho que provavelmente conseguimos chegar a isso", diz o escritor em entrevista por videoconferência de sua casa, no Reino Unido. Depois de ser traduzido para quase todas as línguas europeias, "A Origem" ganha edição brasileira pela editora Seoman.
Lawton é repórter da revista de ciência britânica New Scientist, onde já foi chefe de redação. Com 65 anos de existência, a revista é uma das principais referências em jornalismo especializado na área. O livro foi lançado no Reino Unido pela própria revista em 2016.
Os textos que compõem a obra são, em parte, conteúdos publicados anteriormente na revista que ganharam uma nova roupagem -e gráficos atraentes. "Mas grande parte dos textos são originais, criados para o livro com o estilo de escrita da revista", explica o autor.
A maior parte do livro tem o tom direto e bem-humorado característico da New Scientist, e até temas mais complexos e espinhosos -como a origem da vida e do universo- são tratados com leveza e rigor científico.
"Quando você lida com assuntos muito importantes para as pessoas, como questões existenciais, ou a origem do universo e do planeta Terra, temos vários mitos de origem que estão cercados de valores sagrados, e as pessoas têm uma conexão espiritual com eles. Pode ser muito desafiador trabalhar com esses temas", diz o escritor.
"Mesmo em países mais seculares, como o Reino Unido, as pessoas não ficam muito confortáveis com esses assuntos", completa.
Desafiante também foi escolher o que deveria estar no livro. Lawton é formado em bioquímica no Imperial College de Londres, mas sua atuação como jornalista alcançou várias áreas da ciência. No processo, Lawton deixou de fora o futebol, uma de suas paixões: "Não podemos ter tudo", lamenta o autor que é um apaixonado pelo esporte.
A obra chega ao Brasil em um momento em que a demanda por informação científica cresceu ao longo da pandemia do coronavírus Sars-CoV-2. Termos e processos científicos que antes passavam despercebidos, são agora acompanhados extensivamente pela imprensa internacional e estão o tempo todo na cabeça da população.
Como reflexo desse movimento, a New Scientist foi comprada pela empresa que publica o Daily Mail, um popular jornal inglês, por 70 milhões de euros (cerca de R$ 430 milhões). O acordo foi feito no início deste ano visando os altos lucros que a revista deve dar nos próximos meses.
"Durante a pandemia, vimos uma inundação de artigos e teorias sem verificação. Então foi difícil navegar por toda essa informação. Uma parte do material era boa, outra era completa bobagem, e havia ainda coisas que ficavam no meio", diz. "Nosso trabalho como jornalistas de ciência foi selecionar o conteúdo bom, sólido e verificável."
Para o escritor, uma maior alfabetização científica da população, isto é, conhecimento sobre a ciência e seus processos, tornaria mais fácil o enfretamento da pandemia.
"Imagine uma pandemia sem ciência, como a da peste negra [século 14]. Estaríamos perdidos! Acho que as pessoas entenderam isso; o sucesso no desenvolvimento das vacinas mostra que a ciência é muito útil", afirma.
Uma maior transparência sobre o que é feito nos laboratórios deve ajudar a atrair mais pessoas para carreiras em ciência, diz o autor. "Precisamos mudar a cultura que diz que é preciso ser um gênio para entender a ciência", afirma.
Mas toda a exposição dos cientistas e da ciência pode ter um lado perigoso. Durante a pandemia, cientistas do mundo inteiro se voltaram para as redes sociais, como o Twitter, para divulgar e comentar resultados de pesquisa. Lawton diz que um dos resultados dessa interação é tornar as pessoas mais bem informadas. "Mas também há muita informação ruim no Twitter", afirma.
"Muitos jornalistas trocaram o jornalismo de verdade pelo Twitter. Em vez de entrar em contato com as fontes e fazer as perguntas, apenas procuram por algo no Twitter, e isso não é jornalismo", critica.
A ORIGEM DE (QUASE) TODAS AS COISAS
Preço R$ 69,90 (impresso, 256 p.); R$ 48,90 (ebook)
Autor Graham Lawton e New Scientist
Editora Seoman