SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em meio à explosão de novos casos de Covid-19 na Alemanha, cresceu no país a apreensão com a proximidade do inverno no hemisfério norte, quando as ocorrências de doenças respiratórias sobem tradicionalmente.

Em apelo para que a população se vacine contra a doença, o ministro da Saúde Jens Spahn afirmou nesta segunda (22) que "provavelmente no final do inverno, como às vezes se diz com cinismo, quase todos estarão vacinados, curados ou mortos."

A fala fez referência à regra que restringe a presença em espaços públicos fechados a pessoas vacinadas, curadas ou com teste negativo -o ministro substituiu o último termo por "mortos". Na Alemanha, 70,4% da população tomou a primeira dose da vacina, e 67,9% as duas doses, mas os números estão estagnados há semanas.

Com novos recordes diários de contaminação pela doença, a primeira-ministra Angela Merkel alertou para uma "situação dramática" e disse que o país precisará adotar medidas mais rígidas de restrição --em declarações que repercutiram mal nas bolsas europeias.

"Estamos em uma situação altamente dramática. O que está em vigor agora não é suficiente", disse Merkel a líderes do partido alemão CDU (União Democrata-Cristã), do qual ela faz parte, em reunião nesta segunda, de acordo com dois participantes.

O aumento de restrições na vizinha Holanda provocou uma série de protestos com violência no último fim de semana, que foram rechaçados pelo primeiro-ministro, Mark Rutte, nesta segunda.

"Isso foi pura violência disfarçada de protesto", disse o político. "Há muita inquietação na sociedade porque temos enfrentado os problemas da Covid-19 há muito tempo. Mas nunca aceitarei idiotas usando violência pura só porque são infelizes."

Mais de 100 de pessoas foram presas no fim de semana após protestos em diferentes cidades, que se manifestavam contra a exigência de vacinação para frequentar estabelecimentos públicos. Grupos de jovens atearam fogo a objetos e lançaram pedras contra a polícia, que chegou a abrir fogo contra manifestantes em Rotterdam. Em Haia, os manifestantes atingiram uma ambulância que levava um paciente para o hospital.

A associação holandesa de profissionais de saúde, V&VN, alertou que o país está se encaminhando para o pior cenário, com falta de leitos de UTI. Nesta segunda, as autoridades contabilizaram 23 mil novas infecções em 24 horas, o segundo maior número desde o início da pandemia.

A polícia e os manifestantes entraram em confronto também nas ruas de Bruxelas no domingo, com policiais disparando canhões de água e gás lacrimogêneo contra os manifestantes, que atiraram pedras e bombas de fumaça.

Em Viena, 40 mil pessoas foram às ruas contra as restrições impostas pela Áustria, que passaram a valer a partir desta segunda, com o fechamento de cafés, restaurantes, bares, teatros e lojas não essenciais por 10 dias e limitação dos motivos pelos quais a população pode sair de casa nesse período. Foi o primeiro lockdown entre os países na União Europeia desde que começou a campanha de vacinação.

O governo austríaco também anunciou que tornará obrigatória a vacinação a partir de 1º de fevereiro, em meio à desconfiança de parcela da população quanto aos imunizantes, visão encorajada pelo Partido da Liberdade, de extrema direita, o terceiro maior no parlamento.

"É como uma prisão de luxo. Definitivamente, a liberdade é limitada e, para mim, não é muito bom psicologicamente", disse Sascha Iamkovyi, 43, empresário que trabalha no setor de alimentos, descrevendo seu retorno ao confinamento. "Foi prometido às pessoas que, caso se vacinassem, poderiam levar uma vida normal, mas agora isso não é verdade."

Cerca de um terço dos austríacos não foram vacinados, uma das taxas mais altas da Europa Ocidental. O governo conservador da Áustria havia imposto um lockdown aos não vacinados na última semana, mas as infecções diárias continuaram aumentando ainda acima do pico anterior, e um lockdown total foi decretado para esta semana.