SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - No afã de conquistar um público mais jovem, as novelas têm apostado em narrativas mais serializadas, que as distanciam do aspecto mais folhetinesco consagrado no Brasil. Não vai ser assim com "Além da Ilusão", que estreia nesta segunda-feira na faixa das 18h da Globo.

Segundo o diretor artístico Luiz Henrique Rios, a trama, que tem como principal tema o amor romântico, é a do folhetim clássico. "Sempre digo que a Alê [Alessandra Poggi, autora] faz uma novela sem medo de ser novela. É uma novela que quer ser novela."

Não que a forma como a história é contada não tenha atualizações. "Ela não imagina o clichê como algo repetido e velho, mas inconsciente e próximo. Tem uma interpretação moderna do passado."

Poggi faz sua estreia como autora principal de uma novela. Antes, dividiu com Ângela Chaves os créditos de "Os Dias Eram Assim", de 2017, uma minissérie, e colaborou com Miguel Falabella em "Pé na Cova", de 2013 a 2016, e "Sexo e as Negas", de 2014, entre outros.

"Sou espectadora de novelas há anos", ela diz. A autora se inspira em outras histórias, mas não sabe "de onde saiu o que". "O ponto de partida foi um livro sobre os cem anos da Fábrica de Tecidos Bangu, que contava como uma fazenda de algodão se transformou em uma fábrica e depois em um bairro."

A industrialização é o pano de fundo de uma história de amor cheia de reviravoltas. Começa nos anos 1930, quando a jovem Elisa, vivida por Larissa Manoela, sua estreia na Globo, conhece o mágico de rua Davi, papel de Rafael Vitti. Eles se apaixonam, mas a relação não é aprovada pelo pai dela, o juiz Matias Tapajós, vivido por Antonio Calloni.

"Elisa é uma filha muito querida pelo pai, que até então é a figura masculina que ela tem dentro de casa e o amor de sua vida", diz Manoela. "Ele acaba ficando descontrolado e vai ter bastante conflito, porque ela não vai compreender a reação dele --a pessoa que sempre atendeu seus pedidos."

Na tentativa de afastar o casal, o magistrado acaba sendo responsável pela morte da filha. Ele consegue pôr a culpa em Davi, que passa dez anos preso, até fugir e tomar a identidade de outra pessoa --aí, a novela salta até os anos 1940.

"Pelo que indica o comportamento do Matias, ele sempre foi um juiz correto, justo e ético", diz Antonio Calloni. "A partir dessa tragédia, ele perde a razão. O Matias não tem o hábito de cometer crimes, mas vira um criminoso. Isso é fundamental para a compreensão do personagem, que é fascinante, com muitas camadas."

Ao sair da prisão, sem saber, Davi vai trabalhar na fábrica comandada por Violeta, papel de Malu Galli, mãe de sua amada morta. Lá, encontra Isadora, irmã de Elisa --também vivida por Manoela--, com quem tem uma semelhança física impressionante.

"Deve ser bem difícil para o Davi", diz Rafael Vitti. "Ele se depara com essa menina, que conheceu criança e está parecida com a irmã. Isso gera uma confusão mental. No começo, ele não queria se envolver, mas ninguém manda no coração."

Poggi decidiu centrar a ação nos anos 1930 e 1940 por ser um período rico na história do país. "Teve o fim da era Vargas, os movimentos feministas começaram a crescer. Muita coisa aconteceu. Usamos esse universo, mas não é a intenção fazer um documentário."

O diretor artístico diz que "o tempo não é limitante". "É um registro colorido, um passado mais encantador. Quisemos um passado livre, próximo do presente. Diria que é uma fábula temporal."

Isso explica uma trilha sonora que não corresponde ao período retratado, com músicas regravadas em outra roupagem --o que remete a uma das referências da novela, a série "Bridgerton", da Netflix.

Mas não é só na trilha que passado e presente conversam. Na trama, Violeta é uma "mulher à frente do tempo". Feminista, tenta passar seus ideais para as filhas Isadora e Elisa.

Ela comanda a tecelagem fundada na antiga fazenda da família tendo como sócio Eugênio, papel de Marcello Novaes, com quem tem um romance, ainda que esteja casada.

"A Violeta condensa lutas da mulher no mercado de trabalho", diz Malu Galli. "Eles brigam porque são sócios, e ela considera que isso tem que ser em igualdade. Mas não é o que acontece, porque o homem tem sempre aquela coisa de querer falar primeiro."

Marcello Novaes diz que a trama aborda preconceitos "que ainda existem hoje". "A Violeta ensina muito ao Eugênio porque, apesar desse lado machista, ele sempre a escuta."

Além da Ilusão

Brasil, 2022. Estreia nesta segunda (7), às 18h, na TV Globo. Autor: Alessandra Poggi. Com: Antonio Calloni, Bárbara Paz, Larissa Manoela, Malu Galli, Rafael Vitti