BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Deputados do PSL, partido que se fundirá ao DEM para criar a União Brasil, pressionam para que a futura sigla apoie o ex-juiz Sergio Moro (Podemos) na disputa pela Presidência da República no ano que vem. Um grupo desses parlamentares jantou com o pré-candidato na quarta-feira (24).

No DEM, embora haja resistências de políticos ao ex-juiz, a própria cúpula do partido também não descarta apoiá-lo caso ele cresça nas pesquisas.

Em paralelo, enquanto a cúpula do partido discute se terá candidato próprio ou apoiará outro nome, o presidente do PSL, Luciano Bivar (PE), afirmou, em reunião com dirigentes na terça (23), que ele mesmo pode ser pré-candidato pela União Brasil caso não haja uma opção melhor.

Nos bastidores, Bivar está sendo pressionado a apoiar Moro e foi estimulado a buscar compor uma chapa com ele, como alternativa.

Atualmente, a União Brasil tem apenas um nome apontado como presidenciável: o do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Mas mesmo internamente aliados dele reconhecem a dificuldade de ele se viabilizar e defendem que o partido apoie alguém competitivo.

Nesta quinta (25), Bivar chegou a dizer que Mandetta havia retirado a própria pré-candidatura para disputar um cargo no Congresso por Mato Grosso, o que foi negado pelo ex-ministro.

"Eu sempre disse que posso ser candidato ou posso apoiar outro candidato. Mas jamais desistirei do Brasil. MÉDICO NÃO ABANDONA PACIENTE. Meu nome continua à disposição. A fusão de DEM/PSL vai amadurecer. O que realmente precisamos debater são ideias, com transparência e humildade", disse Mandetta, nas redes sociais.

A divergência de versões foi atribuída nos bastidores por dirigentes da União Brasil a um mal-entendido com Bivar, que teria entendido erroneamente a declaração de Mandetta na reunião de terça.

Na ocasião, segundo o ex-ministro relatou em entrevista à Globonews e foi confirmado por outro participante, foram discutidos os cenários para as eleições de 2022, entre eles os nomes mais viáveis.

À Folha de S.Paulo ACM Neto, presidente do DEM e futuro secretario-geral da União Brasil, afirmou que nenhuma decisão foi tomada na terça.

"Nós vamos analisar os cenários. Não tomamos ainda nenhuma decisão sobre ter candidatura própria ou não", disse.

A União Brasil defende uma terceira via que rompa a polarização entre Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

No encontro, do qual participaram futuros dirigentes da União Brasil, ACM Neto, Mandetta e outros defenderam que o partido apoie um nome que tenha viabilidade eleitoral.

Dirigentes disseram que o ideal era a União ter um candidato próprio, mas que, se isso não fosse possível, seria necessário analisar alianças.

Na reunião, a cúpula da União Brasil discutiu até a possibilidade de atrair Eduardo Leite (PSDB) para o partido, caso ele perca as prévias tucanas, para que se candidate. Leite é considerado por ala do DEM o melhor nome da chamada terceira via.

Bivar também disse, segundo relatos, que, se não houver opção, ele topa ser o candidato.

O nome de Sergio Moro foi apontado como uma alternativa que tem ganhado peso no cenário eleitoral.

Internamente, um grupo do PSL pressiona para que a legenda apoie o candidato. A divisão pode gerar até uma debandada na legenda caso a sigla não apoie o ex-magistrado oficialmente.

No DEM, apesar de uma ala resistir a Moro, o próprio Mandetta e o presidente da legenda, ACM Neto, não descartam a possibilidade de apoiá-lo.

Neste cenário, Bivar tem sido estimulado a colocar o próprio nome na corrida pelo Palácio do Planalto na tentativa de se viabilizar como candidato a vice-presidente de Moro.

Um dos principais entusiastas da candidatura de Moro é Júnior Bozzella (SP). Ele esteve entre os que jantaram com Moro na quarta.

"Hoje, quem tem melhores condições, quem tem densidade, num cenário nacional, é o Moro. Se amanhã aparecer outra figura que nas pesquisas supere o Moro, vamos ter grandeza e desprendimento para apoiar. Hoje, fotografia do momento não tem outra alternativa", disse.

"Eu considero o Mandetta desde que ele consiga crescer, o mesmo a [Simone] Tebet [do MDB], mas estamos há um ano discutindo terceira via. Se Mandetta crescer eleitoralmente, acho que ele tem condições, mas por ora o Moro está maior", disse.

Sobre a possibilidade de Bivar ser candidato, Bozella disse que este cenário ainda não foi colocado pelo presidente do PSL em discussão com os filiados.

Além de Bozella, outros seis deputados jantaram com Moro na quarta em gesto de apoio ao pré-candidato, segundo o parlamentar.

O ex-juiz deixou o governo Bolsonaro em abril do ano passado e disparou críticas ao presidente, acusando-o de ter tentado interferir na Polícia Federal.

Neste ano, o Supremo considerou Moro parcial nos processos contra Lula. Com isso, foram anuladas ações dos casos tríplex de Guarujá, sítio de Atibaia e Instituto Lula pela Lava Jato. Esta é uma das razões pela qual Moro é rejeitado pela classe política.

Além de Moro, estão colocados como opção para opção à polarização Bolsonaro-Lula os dois canddatos do PSDB que disputam as prévias no partido -Eduardo Leite (RS) e João Doria- e a senadora Simone Tebet (MDB-MS), que será lançada em breve pré-candidata à Presidência.

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) também se lançou na disputa, mas já disse que pode abrir mão da corrida para apoiar um nome viável. Ele é simpático a Moro.