Advogado de Adélio já trocou de celular 'mais de 20 vezes' e diz que não teme análise da PF
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sexta-feira, 26 de novembro de 2021
MÔNICA BERGAMO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior, que defendeu Adélio Bispo, o autor da facada em Jair Bolsonaro em 2018, revela que já trocou de celular "mais de 20 vezes" desde o episódio. E diz não temer a retomada de investigações sobre seu aparelho.
Zanone, no entanto, vai acionar o STF (Supremo Tribunal Federal) para tentar bloquear a devassa. "Ela é uma agressão a todos os advogados do país. Em meu celular estão conversas com todos os meus clientes, que têm direito à confidencialidade. É uma cláusula absoluta da democracia", afirma.
A Polícia Federal reabriu na quinta-feira (25) o inquérito que vista descobrir se houve um mandante do atentado contra Bolsonaro. A informação foi antecipada pelo jornal Folha de S.Paulo.
Os policiais pretendem analisar dados do celular do advogado de Adélio, além de dados bancários, para tentar descobrir quem pagou os honorários da defesa, já que Bispo não tinha condições de arcar com os custos. "Eu acredito que não vão encontrar nada", afirma Zanone. "Eu troco de telefone a cada dois meses", afirma ele.
O advogado classifica a medida de quebra de seu sigilo como "absurda" e um atentado não apenas à advocacia, mas à cidadania.
O segredo de conversas entre defensores e seus clientes é considerado um pilar do direito de defesa e, portanto, do Estado Democrático de Direito. "Tenho conversado com advogados do Brasil inteiro, e todos eles, mesmo os mais bolsonaristas, se sentem agredidos", diz Zanone.
Ele afirma que não vai, em hipótese alguma, revelar quem o contratou para defender Adélio Bispo. "Eu já avisei [a quem pagou] que, quanto à confidencialidade, ela está garantida", diz ele.
O defensor sustenta que uma pessoa ligada a uma igreja frequentada por Adélio Bispo o procurou para defender o autor da facada.
Houve um acerto para o pagamento de R$ 25 mil reais de honorários. Mas apenas R$ 5 mil foram desembolsados. "Com a confusão que se criou, eu disse na época à pessoa que nem precisava pagar o restante", afirma ele.
Caso a PF descubra o nome de quem financiou a defesa, diz o advogado, caberá à pessoa dar explicações.
A investigação sobre a atuação do advogado estava parada desde março de 2019, quando o TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) acatou liminarmente um pedido da OAB cujo argumento era a suposta violação do sigilo funcional da defesa.
No último dia 3 de novembro, a 2ª seção do tribunal suspendeu a liminar por 3 votos a 1, o que permitiu a reabertura do inquérito.