SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Na esteira da recuperação do petróleo no mercado internacional, as ações da Petrobras vêm em uma firme trajetória de valorização na Bolsa de Valores.

Na janela de 12 meses encerrada na sexta-feira (25), as ações preferenciais da estatal petroleira acumulam uma alta de 80,4% na B3, enquanto as ordinárias chegam a avançar 95%.

O índice amplo de ações Ibovespa sobe cerca de 0,8% no mesmo intervalo.

Para analistas de investimento, o aumento no preço da commodity, que ganhou novo impulso com a invasão da Ucrânia pela Rússia, com a cotação ultrapassando a marca de US$ 100 (R$ 515,63) o barril, tende a seguir favorecendo os resultados da empresa nos próximos balanços trimestrais.

E, consequentemente, o bolso dos investidores. Junto com o lucro recorde anual de R$ 106,6 bilhões anunciado na quarta-feira (23), a Petrobras informou que irá pagar R$ 37,3 bilhões em dividendos referentes ao quarto trimestre, levando para R$ 101,4 bilhões o valor pago aos acionistas pelo resultado de 2021.

Análises de mercado apontam que os números apresentados se devem em grande medida à forte geração de caixa da empresa, com o preço médio da commodity ao redor de US$ 80 (R$ 412,50) no último trimestre do ano passado.

Com a disparada recente da matéria-prima, analistas preveem um impacto positivo para os resultados da Petrobras, com a estatal provavelmente anunciando novos reajustes dos combustíveis -o último anúncio nesse sentido ocorreu no dia 12 de janeiro.

"Ainda vemos o estatuto social da Petrobras protegendo a empresa de subsidiar combustíveis como no passado, sendo o repasse da escalada internacional no preço do Brent uma questão de tempo", afirmam os analistas da XP, em relatório.

A Petrobras disse na quinta-feira (24) que irá aguardar a evolução do cenário internacional antes de decidir por novos repasses de preço.

Se a escalada das tensões entre Rússia e Ucrânia persistir por mais algum tempo, projeções de mercado indicam que a commodity pode experimentar níveis ainda mais esticados, colocando uma pressão adicional sobre a estatal.

Os analistas do banco americano Goldman Sachs não descartam o barril do petróleo Brent testando a barreira dos US$ 125 (R$ 644,53) nos próximos meses, a depender da evolução do cenário na Ucrânia.

"A incerteza a respeito de potenciais sanções [à Rússia] começa a criar um choque de oferta em potencial. E até que as incertezas sobre a rápida escalada dos conflitos na região sejam resolvidas, a tendência é que o preço do petróleo siga em alta", afirmam os especialistas.

Além da dinâmica própria do setor, a reestruturação pela qual a Petrobras passou nos últimos anos, com a venda de ativos não essenciais e um foco maior no pré-sal, tornou a operação bem mais eficiente e rentável do que era em gestões passadas, afirma Lucas Ribeiro, analista de ações da Kínitro Capital.

"As mudanças foram muito drásticas, com uma forte redução do endividamento", diz Ribeiro, que afirma que a Petrobras é uma aposta importante nos fundos da Kínitro.

Sócio da gestora Finacap Investimentos, Alexandre Brito acrescenta que a busca por novas fontes renováveis de energia e a redução nos financiamentos para o aumento da produção de petróleo, combinadas com uma demanda que se mantém aquecida, já tem e deve seguir contribuindo para sustentar os preços altos do petróleo em escala global.

"Continuamos com uma visão bastante construtiva para a Petrobras no médio e longo prazo", afirma Brito, que conta ter na empresa a principal posição dos fundos de ações da Finacap, representando entre 10% e 15% do total nos portfólios.

Sócio-fundador da casa de análise Nord Research, Bruce Barbosa reconhece que, em comparação aos principais pares internacionais, a Petrobras negocia sob múltiplos que podem ser considerados bastante baratos.

No entanto, esse desconto imposto pelos investidores, assinala o especialista, deve-se justamente ao fato de a estatal estar sujeita ao risco de ser usada para fins políticos e eleitoreiros.

"Acho que existe um risco grande de o governo usar a Petrobras para financiar uma redução no preço do petróleo", afirma Barbosa, que faz menção à PEC dos Combustíveis no Congresso.

Por conta disso, ele diz que prefere as ações da petroleira de capital privado PetroRio dentro do setor de óleo e gás na Bolsa brasileira.

"Até por ser muito menor, com cerca de 1% do volume de produção em relação à Petrobras, a PetroRio tem um potencial de crescimento muito maior", diz.

"Continuamos com uma visão positiva em relação à Petrobras, dado seu novo patamar de lucratividade, o que nos leva a projetar um retorno via dividendos [dividend yields] entre 15% e 25% [sobre o valor de mercado] por ano para a companhia", afirmam os analistas do UBS BB.

Contudo, eles dizem também que uma eventual mudança do acionista controlador pode limitar a expectativa de lucro no médio e longo prazo, "uma vez que o direcionamento da companhia pode mudar de uma alocação de capital eficiente para uma estratégia mais dedicada ao desenvolvimento do país".

"A Petrobras é uma empresa que negocia sob múltiplos muito descontados frente aos pares na Bolsa, que está gerando muito fluxo de caixa e com o pagamento de dividendos extraordinários. Por conta disso, temos conforto de ter Petrobras na carteira dos fundos, apesar de ser uma estatal", diz Renan Vieira, sócio e diretor de investimentos da gestora Taruá Capital.

Mesmo que o preço do petróleo passe por algum ajuste e volte para níveis ao redor de US$ 80, ainda assim, a avaliação do especialista é que o investimento na empresa continua sendo um bom negócio, frente ao atual momento operacional em que a companhia se encontra.

De toda forma, o gestor reconhece que a defasagem de preços com o mercado internacional, que ele calcula atualmente próxima de 15%, gera algum desconforto sobre a política da estatal entre os investidores.

"As ações da Petrobras devem ter muita volatilidade ao longo do ano, mas com um valuation descontado e pagando altos dividendos que chamam a atenção do investidor e atraem compra", diz Vieira.