BARCELONA, ESPANHA (FOLHAPRESS) - Soluções em 5G podem revolucionar o aprendizado virtual e, por tabela, a educação. A forma como a tecnologia se espalha pelo mundo, no entanto, é desigual.

Esse foi o tema de um dos debates realizados nesta quinta-feira (2) no Mobile World Congress, principal feira de tecnologia do mundo, focada no setor das telecomunicações, que acontece nesta semana em Barcelona.

A pandemia foi um bom demonstrativo disso com países do mundo todo fechando suas escolas e precisando organizar às pressas um esquema para estudantes aprenderem remotamente. "Foi um desafio enorme nos mercados emergentes", afirmou Rob Shuter, CEO da BT Enterprise, empresa britânica de telecomunicações.

"São três problema para resolver. A pessoas precisam das habilidades necessárias para usar a tecnologia, falta a conectividade -algo que a gente toma como certo nos mercados desenvolvidos-, e precisavam das soluções e serviços, como Zoom ou tecnologia de nuvem", analisou.

Shuter comparou o mercado africano e asiático, onde um terço da população tem acesso à internet móvel (e, por lá, quase todo acesso acontece pela rede celular) a países europeus, onde bate 90%.

"Acho que o 5G pode ser transformador, mas a indústria precisa trabalhar nessas questões", afirmou.

APLICAÇÕES

Mazen Mroue, chefe de tecnologia do grupo MTN, tele da África do Sul, elencou alguns benefícios da tecnologia para resolver problemas em mercados emergentes. Um deles é a possibilidade de conectar alunos a professores melhores por meio da internet. A medida, avalia, serviria para atacar a falta de profissionais qualificados em determinados mercados. Além disso, o 5G pode ser uma alternativa mais fácil em locais onde a escola é de difícil acesso, ou insegura.

Nesses casos, o que aparece como diferencial para o 5G é a velocidade e estabilidade das conexões, que permitem assistir aulas remotamente mesmo em local sem telefonia fixa.

As possibilidades com o 5G, no entanto, não param por aí. Suas maiores velocidades permitem o uso de tecnologias imersivas, como realidade virtual e realidade aumentada.

Na realidade virtual, usuários são totalmente imersos em um mundo digital. Para isso podem, por exemplo, usar óculos específicos. Na realidade aumentada, elementos digitais são adicionados ao mundo real. Pode ser com óculos ou até mesmo pela tela do celular -tipo no jogo "Pokémon Go", no qual os monstrinhos aparecem pela câmera como se estivessem ali fisicamente.

Tecnologias do tipo exigem muito das conexões de internet, por isso os padrões atuais podem não dar conta da demanda. Aí, o 5G aparece como potencial solução.

Uma sala de aula poderia ser equipada para levar estudantes de um local remoto a uma experiência imersiva que permita ver animais de uma região distante em tamanho real, por exemplo.

Rob Shuter, da BT Enterprise, citou estudo da Universidade Stanford em parceria com a Universidade Técnica da Dinamarca que aponta um ganho de 76% na eficiência para lembrar dos conteúdos ao usar tecnologia imersiva.

Ou seja, as aplicações da tecnologia não ficam restritas a conectar os alunos às aulas, fator que teve sua importância catapultada pela pandemia, mas também ao que pode ser feito dentro das escolas.

"Eu ainda imagino ver 20 crianças numa sala interagindo. Não é colocar cada uma na sua bolha com um óculos de realidade virtual", diz Irene Pipola, da consultoria EY. "Um diferencial da tecnologia é, por exemplo, ao estudar geografia, ver um país em uma tela imersiva de 360 graus em vez de ler a respeito dele -mas com todos os alunos juntos."

E esses benefícios não aparecem apenas no ensino tradicional. Para ilustrar, Pipola cita um técnico prestando uma manutenção no meio de uma ferrovia. Uma solução de realidade aumentada pode ajuda-lo a visualizar os procedimentos necessários para a operação -objetos 3D mostrando qual parafuso apertar, por exemplo. "Nesse caso, a única alternativa é o 5G, já que essa pessoa estaria no meio de uma estrada de ferro", avalia.

Leilani DeLeon, da Qualcomm, empresa que produz chips, cita também benefícios para a operação da escola. O 5G promete conectar muitos outros tipos de dispositivos, como câmeras e sensores.

Uma câmera inteligente na escola, por exemplo, poderia verificar se os alunos estão faltando as aulas e tirar a necessidade de fazer a chamada das mãos do profissional.

ACESSO

O Brasil aparece como exemplo dos países em que falta internet para os estudantes. O país entrou na pandemia com 4,3 milhões de estudantes sem acesso à internet.

Essa é uma das questões a serem atacadas nos próximos anos com a implementação do 5G no Brasil. O leilão das frequências da quinta geração da telefonia no Brasil arrecadou R$ 3,1 bi para levar conexão a escolas públicas. Segundo estimativa do Ministério das Comunicações, a quinta geração da internet móvel deve chegar a 85% das escolas até 2028.

Estudo da GSMA, entidade que congrega as teles, divulgado nesta segunda-feira (28) aponta que total de conexões 5G realizadas no mundo deve atingir a marca simbólica de 1 bilhão no fim deste ano, dobrando a marca atingida em 2021, e chegando a 1,8 bi em 2025, valor que equivale a um quinto das conexões globais.

Há grande desigualdade na distribuição da tecnologia, no entanto, que aparece com força na Coreia do Sul, China e EUA. Só atingiu a todas as regiões do agora, após três anos do começo da implementação, com a com a chegada à América Latina e à África subsaariana.

As diferenças acontecem mesmo dentro das áreas geográficas. Em 2025, a GSMA estima que 64% das conexões móveis na área desenvolvida da Ásia serão por 5G, 63% da América do Norte. Para comparação, as taxas devem ser de 8% no restante da Ásia e 11% na América Latina.

O buraco não é tanto na cobertura. Das 3,7 bilhões de pessoas desconectadas, apenas 500 milhões estão em áreas em que o sinal não chega, aponta Mats Granryd, diretor-geral da GSMA. O restante está offline por outros motivos, como o custo -tanto na compra de aparelhos móveis capazes de se conectar à rede quanto nos planos em si.

No Brasil, a expectativa é que o 5G "puro" (em redes construídas exclusivamente para essa tecnologia) custe R$ 250 por mês na chegada, em 2023.

Até agora, doze capitais estão prontas para receber o 5G, segundo o Ministério das Comunicações. A cobertura já chega a 15 cidades com a Claro e a 8 com a Vivo, aponta o relatório da GSMA.

*O jornalista viajou a convite da Huawei