Copa do Mundo 2018
PUBLICAÇÃO
sábado, 14 de julho de 2018
Patricia Maria Alves - Grupo Folha
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Copa do Mundo 2018
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A festa do futebol
A cada quatro anos, o planeta se mobiliza para acompanhar o Mundial, torcer pelo seu país e viver todas as emoções que o futebol pode proporcionar
Não tem para ninguém. Quer ver o mundo se juntar para ver, ouvir, discutir um único tema? É só falar em Copa do Mundo. Os Jogos Olímpicos envolvem mais esportistas, modalidades e países, mas não atinge as cifras e engajamento que o mundial de futebol, o esporte mais popular do planeta, atinge. O patrocinador, os profissionais do futebol, os jogadores, os torcedores, os jornalistas, todo mundo quer estar na Copa. É o auge na carreira de qualquer profissional que vive o futebol.
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A cada quatro anos, famílias, amigos e até quem não se conhece, se junta para torcer pelo seu país. Uns comemoram vitórias e o título, outros celebram o simples fato de sua humilde nação estar lá, nem que seja para ser o saco de pancadas. Ou você não viu o choro de emoção dos panamenhos quando o zagueiro Baloy marcou o primeiro gol do Panamá na história das Copas? Eles perdiam por 6 a 0 para a Inglaterra e mesmo assim comemoraram como se fosse o gol do título. Copa é isso.
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É a festa do futebol e das nações. É choro de alegria e de tristeza. É gente que ignora futebol por quatro anos enrolado na bandeira ajoelhado, sofrendo e dando pitaco como se fosse entendido no assunto.
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Copa é Copa e é assim porque sim. Não tem explicação, não tem lógica. Simplesmente é porque é.
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E é esse sentimento único que tentamos retratar neste material produzido a várias mãos, vários corações e muita emoção.
(BETA: Este é um projeto da FOLHA DE LONDRINA com novos formatos e experiências em jornalismo imersivo. Uma melhor performance foi verificada em desktop e recomenda-se o acesso com conexões de alta velocidade. Algumas mídias podem ter o funcionamento comprometido em aparelhos móveis. Se encontrar algum erro durante sua experiência, deixe-nos saber [email protected] e BOA LEITURA!)
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A Copa no ‘país do futebol’
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Falar que o brasileiro é apaixonado por futebol é um clichê. Afinal, diz a lenda que “somos o país do futebol”, não é?
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Nestas terras brazucas, os times tem multidões de torcedores, que sofrem xingam, vibram, festejam suas conquistas e choram suas derrotas.
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É a rivalidade que sustenta essa paixão de cada dia. Mas a cada quatro anos, um fenômeno junta essa galera com aquele povo que vive alheio a esse amor pelo futebol.
A Copa do Mundo coloca na mesma torcida os fanáticos e os “nem aí”. Todo mundo de verde amarelo torcendo pela seleção brasileira. A paixão pelo clube é maior, mas em período de Copa tudo se transforma. Quem não gosta de futebol vira torcedor-palpiteiro-entendido-corneteiro. São todos pela amarelinha.
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Em dia de jogo do Brasil na Copa, o País para. É feriado nacional, ‘Dia do Churrasco’, ‘Dia da Confraternização’, ‘Dia de Torcer’, ‘Dia de Sei Lá O Quê’.
Enfim, é ‘Dia de Brasil Em Campo’. Bandeira na janela do carro e do apartamento, cobrindo os ombros, pendurada nas fachadas.
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É metrô tomado em Moscou, com milhares de brasileiros cantando a nova e boa música da torcida. Mas tinha também aquele povo mal-humorado, que queria politizar a Copa e a seleção. Que achava que se não tivesse o Mundial, brotariam hospitais e escolas Brasil afora.
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A Copa da Rússia, para o brasileiro, tinha um sentimento diferente. Nós vínhamos de uma dor muito grande, do maior vexame da história do futebol tupiniquim. Vínhamos de uma Copa em que a Alemanha entrou na nossa casa, fez o que quis e nos largou estatelados no chão. Vínhamos do 7 a 1, que virou sinônimo para tudo o que acontece de ruim na nossa vida desde então.
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Vínhamos de um começo de Eliminatórias ridículo, igualmente vexatório, com um grupo rachado e que era nitidamente contrário ao técnico que estava no comando, Dunga. Vínhamos de duas edições seguidas de Copa América em que ficamos pelo caminho, com pífio futebol e muita pressão.
Tínhamos motivos de sobra para querer a virada, para querer voltar a ser o dono da bola no mundo. E tínhamos motivos para sonhar com isso.
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No meio desse caminho entre Brasil e Rússia, um “enviado dos céus” assumiu o lugar do capitão do tetra. A CBF trocou Dunga por Tite e os 200 milhões de torcedores em ação trocaram o desespero pela esperança. “Salvaram a Seleção”, pensavam.
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Jogo após jogo, desde então, a Seleção mostrava que o hexa era possível, se encaminhava. A “Titebilidade” havia botado o Brasil nos eixos. Os brasileiros já sonhavam com o menino Ney ganhando a bola de ouro da Copa como artilheiro e melhor jogador, sendo ovacionado com a namorada Bruna Marquezine, os ‘parças’ e Neymar Pai a tiracolo.

Sonhavam com o Márcio Canuto – Copa sem ele não é Copa – ao vivo e aos berros no Anhangabaú, em São Paulo, no meio do povão e comentando a festa do torcedor. Sonhavam com o Galvão Bueno abraçado ao Arnaldo, Casagrande e Ronaldo gritando: “É heeexa!!! É heeexa!!!”. Já viam o Canarinho Pistola mandando os argentinos e o Maradona para aquele lugar. O time empolgava, ganhava de todo mundo.
Mas a Copa foi se aproximando e os problemas chegando. Contusões, questionamentos. Com a bola rolando, Neymar virou meme e não foi nem sombra do jogador de antes.
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O hexa já não era certeza. O time já não enchia os olhos. Até que veio a “ótima geração belga” - sim, você já ouviu trocentas vezes esse clichê, só que agora era ótima mesmo – e atropelou-nos.
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Brasil fora da Copa do Mundo e hexa adiado. Assim, muita gente virou o celular para a horizontal e deu o play para dizer que o Brasil que eles querem para o futuro é um Brasil com mais vontade de ser campeão e que o hexa ficou para 2022, no Catar.
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A água no chope em Londrina
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Para quem depositou todas as esperanças em festar noite adentro ao som dos gritos, buzinas e fogos de artifício restou a timidez da conversa de bar com os amigos cujo o tema não poderia ter sido outro: a atuação diante da Bélgica e a consequente eliminação da Seleção da Copa do Mundo.
Para o publicitário Leonardo Abelha, o futebol é a “coisa mais importante dentre as menos importantes”, filosofou. Ao lado dos mais chegados em um tradicional bar do centro de Londrina, Leonardo estava conformado com a derrota, uma possibilidade aventada por precaução, ainda mais depois dos resultados dos últimos três mundiais.
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“O Brasil só consegue ganhar em Copa do Mundo quando tem dois, três craques né. Agora quando tem que depender de um só, no caso o Neymar, acho que o time acaba sucumbindo porque coletivamente sempre tem dificuldades, além do fator psicológico né, tomou um gol hoje e decaiu no jogo completamente”, lamentou.
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No grupo ao lado e pouco preocupada com o resultado, Gabriele Aparecida Batista confessou que é uma torcedora “mais ou menos” fanática. “Daqui quatro anos tem de novo”, respondeu em meio às brincadeiras do grupo.

Sentimento bem diferente era o do técnico de informática Ricardo Manoel dos Santos. Vestindo a camisa verde e amarela e na companhia da bicicleta esportiva, o “atleta” nas horas vagas sentiu que a entrega do time da Bélgica em campo foi digna da vitória.
“É claro que eu torço para o Brasil, mas nós temos muito mais coisas importantes para que o Brasil vença, o jogo é só mais um item. E houve mesmo uma entrega do time da Bélgica assim como contra o Japão que buscou a vitória”, lembrou.
A concentração de torcedores foi intensa mesmo na rua Paranaguá, conhecida via gastronômica na rota dos londrinenses mais boêmios. Foi por ali que o estudante do primeiro ano de economia da UEL, Giovani Pedote Fracalossi, torceu pelo Brasil. Para ele esta foi uma Copa em que o população brasileira, em geral, torceu muito pelo time. Após a derrota, confessa que vai torcer pela França, deixando de lado o fantasma de duas décadas atrás. “Cara eu acho que o povo brasileiro vai curtir a ressaca torcendo para que a Bélgica perca”, riu.
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Para manter a tradição
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Basta entrar por uma pequena porta no centro de Rolândia para encontrar um pedacinho da Alemanha. Este é o objetivo dos proprietários do Oma’s Kaffee Haus, cafeteria aberta há três anos. O ambiente não é amplo, mas é confortável e se destaca pelas saborosas tortas e geleias, além da cerveja artesanal.
Quem se atenta aos detalhes logo nota traços que remetem ao país campeão da Copa do Mundo no Brasil: seja pelas placas indicando banheiro e caixa escritas em alemão e com a tradução logo abaixo, ou pela decoração, que busca reproduzir o estilo da arquitetura alemã, como as hastes de madeira encaixadas entre si.


Karin Schultz Kronenberg é dona da cafeteria. Gaúcha, já viveu em Santa Catarina e está há sete anos em Rolândia, depois de passar outros 15 em Minas Gerais. Neta de alemães, é casada com Roland Kronenberg, alemão nascido na cidade de Eschweiler, próximo a Colônia.
“O nosso objetivo mesmo foi trazer a culinária e os costumes de lá e mostrar às pessoas o que é um pouco do País”, comenta. “O nome (Oma’s) significa avó em alemão, então a gente trouxe coisa dos nossos avós e da minha sogra. Também temos família na Alemanha, então a gente pergunta muita coisa e tentamos fazer aqui”, completa.
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O carro-chefe da casa, segundo ela, é composto por dois pratos. “O prato doce é o strudel de maçã. O pessoal gosta muito. Não pode faltar. No ‘lado’ salgado, é o pão com linguiça artesanal – bratwurst ou currywurst - feita pela minha cunhada. Servimos em um pão pequeno e com raiz forte. Quem vem, mesmo não sendo descendente de alemão, adora.”
A paixão pela cerveja também não pode ficar de fora, como diz Ricardo Forster, neto de alemães que ajudaram a colonizar Rolândia na década de 1930.
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Ele é membro do Grupo Folclórico Alemão Rotkappen há dez anos e cliente de carteirinha do Oma’s. “A cultura cervejeira é muito antiga e os alemães, de uma certa forma, refinaram a questão da bebida com a lei da pureza criada lá, que deu um padrão para as cervejas”, aponta Forster, segurando uma caneca de cerveja artesanal batizada com o mesmo nome do grupo.

O Grupo Folclórico Alemão Rotkappen (cujo nome vem de um cogumelo com o formato dos tradicionais chapéus alemães) foi criado em 1988, na primeira edição da Oktoberfest de Rolândia. Atualmente com cerca de 50 membros, o Rotkappen tem como foco a dança, mas também atua em festivais gastronômicos, beneficentes e filantrópicos, nos quais contribui para a arrecadação de alimentos e roupas para doação a entidades assistenciais. Os ensaios são realizados semanalmente, aos sábados, e são divididos entre as categorias adulto e infantil.
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IDIOMA INDISPENSÁVEL
Também nascida na Alemanha, Heidrun Kronenberg conta que ela e o irmão Roland têm em comum a língua portuguesa.
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Mas que, perto da mãe, Relinda, de 84 anos, a conversa é em alemão. “A minha mãe nasceu em Rio do Sul, Santa Catarina, mas passou muito tempo na Alemanha, para onde foi aos três anos, em 1937, e só voltou para cá em 1981. Lá conheceu o meu pai, Engelert, e teve dois filhos. Quando viemos para o Brasil, em 1981, ficamos em Rolândia. Desde então, sempre foi muito forte a insistência para se falar alemão em casa. Não era uma coisa que nós gostávamos. Inclusive o Roland e eu começamos a falar em português entre nós para os meus pais não entenderem. Mas claro que tudo o que eles deviam entender eles entendiam”, relata.
Heidrun, no entanto, busca passar para as filhas, Sophia, sete anos, e Joana, quatro, o idioma de origem da família. “Na minha casa, só falamos em alemão, porque eu acho que agrega valor demais elas crescerem com dois idiomas. A Sophia já se interessa pelo inglês e está fazendo aulas. No mundo de hoje, você falar dois idiomas com fluência é uma riqueza que, se os pais não tiverem tempo e condições de dar, como eu tenho, você está deixando de dar muita coisa para o seu filho”, justifica.
Mãe de Alexsander, 11, e Helena, sete, Karin também se mostra comprometida em seguir a tradição da família do marido. “O Alexsander já fala bem o alemão, a Helena muito pouco, mas ambos entendem bem porque a avó fala muito em alemão com eles, então quando ela diz alguma coisa, eles já respondem”, acrescenta.
Avó de quatro netos e responsável pela rigidez no diálogo em alemão, Relinda Kronenberg se divide entre o Brasil e a Alemanha. “Minha educação e influências foram na Alemanha. Então vejo lá como minha origem, mas a minha tendência foi sempre ao Brasil devido à liberdade, grandeza, possibilidades. Em tudo os dois lados tem vantagens e desvantagens. Se o Brasil tivesse menos corrupção, seria o melhor país do mundo”, confessa Relinda, com sotaque arrastado.
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NA HORA CERTA
Pontualidade. Essa é a palavra mais lembrada quando os entrevistados são perguntados sobre quais são as características do povo alemão. “Tem muito essa exigência de você cumprir os seus horários, seus compromissos, ter essa responsabilidade. Então a gente procura passar isso para os filhos, para que sejam adultos responsáveis”, diz Karin. Heidrun fala de um contato sem papas na língua. “Muitas pessoas têm dificuldade de lidar com esse jeito direto de ser do alemão. O brasileiro também fala (o que precisa), mas de um jeito mais gentil, com jogo de cintura. O alemão simplesmente vai lá e fala”, brinca. Esposa de Ricardo, Kátia Dias Forster fala sobre o respeito: “É o que mais me chama a atenção”.
Descendente de portugueses e italianos, Kátia comenta que, quando conheceu o marido, descendente de alemães, se aprofundou na cultura do País, o que a fez admirar a união do povo germânico. “A união é bem forte. Vejo pela parte da família dele. Toda e qualquer data comemorativa, tem que estar todo mundo ali reunido.” Ricardo Forster reforça o costume de se reunir em eventos como a Copa do Mundo. “Sempre que tem jogo assim o pessoal costuma sentar e torcer para a Alemanha, mesmo sendo brasileiro. A nossa nacionalidade fala mais alto, e falou mais alto ainda no 7 a 1. Naquele jogo, estávamos torcendo para o Brasil e infelizmente foi aquele fiasco, vamos falar a verdade. Aquela derrota não engolimos até hoje!”, lembra, aos risos.
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Com o Oma’s como ponto de encontro dos integrantes do Rotkappen, Heidrun comenta que ex-membros também frequentam o local. “Antes era mais a nossa família. Mas sempre um ou outro aparece, como ex-integrantes, que vieram assistir à estreia do Brasil conosco. Sempre tem alguma reunião”, explica.
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TRADIÇÃO
Mesmo vivendo em uma cidade que foi colonizada por alemães, os entrevistados expõem as dificuldades para se manter acesa a chama da tradição alemã.
“Eu acho que infelizmente a cidade não vem mais valorizando isso. Nas décadas de 1980 e 1990, tivemos uma onda muito forte, com Oktoberfest bem feitas. O comércio entrava com decorações. Mercados mandavam fazer camisetas da festa. Era uma coisa bem legal. Mas isso foi morrendo, infelizmente. Sim, muitos ainda buscam manter a tradição, mas teria que haver um esforço de todos. Não adianta colocar a culpa na política, na prefeitura que não ajuda. É fácil reclamar do que não está acontecendo e não fazer nada para melhorar”, afirma Heidrun.
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“A Oktoberfest teve uma mudança de uns anos para cá, então acredito que, independente de quem for assumir a organização, ela tem que ser voltada à questão da tradição, da família, e parece que nos últimos anos não tem sido assim. Talvez a questão política, social e econômica tenha desanimado o pessoal, mas acredito que daqui a uns anos isso volte a melhorar”, diz Ricardo Forster, esperançoso.
Karin busca reforçar os eventos que, assim como a Oktobefest, tentam preservar a cultura alemã. “Tem o Maifest, os corais de canto alemão e os grupos folclóricos. Nesse aspecto, vejo a cidade forte.”
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DESINTERESSE
Na era da tecnologia, reviver a tradição das gerações passadas pode não ser motivo de interesse para parte dos mais jovens, como apontam os entrevistados. “Acredito que a tecnologia tenha ajudado nisso, sim. Vejo o desinteresse e não é de hoje. O grupo está tentando buscar bastante as crianças agora, para incentivar a gostar da cultura, para, quando crescerem, ajudarem a perpetuar a tradição alemã”, relata Ricardo Forster.
“Se meus filhos estiverem com um celular na mão, eles esquecem da vida”, completa Karin. “Tem tantos lugares como o nosso, que buscam manter um ambiente que lembre a Alemanha, mas que não são visitados porque as famílias não saem para passear porque pedem tudo para entrega em casa”, explica. “As gerações antigas, o pessoal mais velho, chega uma hora que eles se vão. E se a gente não passar para os nossos filhos, isso vai morrer”, conclui.
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Enquanto isso, após a vitória suada da Alemanha sobre a Suécia, o Oma’s Kaffee Haus é tomado pela música alemã, com sorrisos estampados e muita boemia. A tradição ainda respira.
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Um reduto colombiano no centro de Londrina
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Existem poucos eventos que agregam tanto as pessoas como uma Copa do Mundo. E torcer à distância – longe do país de origem – sem dúvida gera um sentimento de união, de partilha, uma busca pelos conterrâneos que só o futebol é capaz de proporcionar.
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Nos meses de junho e julho, a esquina das ruas Guararapes com Paranaguá, no centro de Londrina, se tornou um reduto para colombianos e mexicanos se encontrarem e viverem juntos a emoção da Copa na Rússia.
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O restaurante Mexicolombia está aberto na cidade há pouco mais de um ano. O espaço mescla decorações e cardápios típicos que remetem às duas nações. Se tornou natural que os torcedores de ambas as seleções procurassem o local para torcer, uma espécie de congregação instantânea, quase uma religião, enquanto a bola rolou na Rússia para as equipes. Foram dias intensos, que para ambas as seleções durou até as oitavas de final.
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O colombiano proprietário do restaurante, Juan Sebastian Silva Gutierrez, recebe a reportagem da FOLHA com buñuelos – bolinhos fritos feitos de amido de milho recheados com três queijos – e chocolate quente amargo. Com alguns jogos pela manhã, no caso a partida era a estreia contra o Japão, ele apostou num café da manhã típico colombiano, que ainda contava com arepas, uma espécie de tapioca, e ovos mexidos, ou, “huevos pericos”.
Aproximadamente 15 pessoas se reuniram para lembrar um pouco dos sabores da terra natal. Nacionalismo mesclado com comida típica e futebol: não há nada melhor para quem está longe de casa.
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Com experiência em restaurantes há mais de dez anos, Sebastian é um apaixonado pela América do Sul. Já morou na Venezuela, Peru, Chile e, em 2014, veio para a Copa do Brasil, quando rodou o Paraná e viu algumas partidas da competição em Curitiba. Gostou tanto do clima paranaense que ficou até sem ressentimentos pela derrota da Colômbia para o Brasil nas quartas de final (cá pra nós, era melhor que não tivesse acontecido: evitaria o assombroso 7 a 1 na fase seguinte). “Já moramos em Curitiba, Maringá e gostamos tanto de Londrina que resolvi apostar no restaurante aqui. Decidi abrir o espaço para torcer durante a Copa do Mundo, nem que não aparecesse ninguém. Sou muito arraigado ao futebol”, relata o torcedor do Tolima, todo empolgado.
Bem, só pelos familiares, a esposa Cláudia e os filhos Camilo, 17, e Maria José, 11, e os funcionários do restaurante – ele contratou seis colombianos – a torcida já faria um barulho durante a competição. Naturalmente, foram aparecendo outros torcedores clientes para engrossar o coro por Falcão Garcia e James Rodrigues, os craques do time. “Abrimos o restaurante para atender os brasileiros, mas começou a chegar colombianos, mexicanos, peruanos e fomos formando uma família, fazendo novas amizades. Estamos muito alegres que as pessoas vieram aqui durante a Copa, tanto colombianos como mexicanos.”
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PRIMEIRA COPA LONGE DE CASA
Sem dúvida a estreia da Colômbia na Copa da Rússia foi um dos dias mais nervosos para os torcedores durante a competição. A derrota inesperada para o Japão por 2 a 1 – logo esquecida ao longo da competição - não tirou a empolgação dos colombianos em contar suas histórias para a reportagem.
O motoboy Elkin Alexander mora em Arapongas e chegou no País há dois anos e meio. Ele vivia em Medellín e veio à convite do irmão. “O trabalho na Colômbia estava fraco e resolvi vir para cá, pois a cultura é parecida. Aqui as pessoas se ajudam e, na minha primeira Copa do Mundo torcendo longe do País, é bom conhecer um lugar que os colombianos frequentam.”
Torcedor do Nacional, ele relata que quando chegou na região ficava procurando os sotaques pela rua. Apaixonado por futebol, foi jogando peladas nas noites que foi se aproximando dos conterrâneos. “Agora tenho vários colegas que estudam na UEL. Consegui uma folga para assistir a Colômbia na Copa. Quero me reunir sempre com a torcida colombiana e relembrar os sabores da nossa terra. O torneio vai ser difícil, porque logo nas oitavas pegaremos Bélgica ou Inglaterra”, disse ele, quase como uma premonição que a Copa encerraria por ali mesmo diante dos ingleses. Não deu outra.
Garçom do restaurante e estudante de inglês, Diego Allejandro, veio de Cali e está há nove meses em Londrina. Ele diz que a união dos colombianos durante a Copa foi importante não apenas para celebrar a seleção, mas também unir os conterrâneos na cidade. “Lá na Colômbia sempre assistia a Copa com meus familiares. Estar junto com outros torcedores aqui é bacana, pois trocamos ideias e fortalecemos a amizade. Quando o assunto é futebol, tenho fé nesse time.”
Mesma opinião de Wilder Adolfo Tuberquia, de 18 anos, há cinco meses em Londrina. “Lá em Medellín costumava assistir a Copa igual fizemos aqui no restaurante. Sinto saudades dos meus familiares, mas ainda estou tranquilo em relação a isso.”
Se James Rodriguez não tivesse s machucado, talvez a jornada na Rússia fosse adiante para os colombianos. Que venha o Catar, em 2022.
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Muito mais que um jogo
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Samuel, Junior e Rabel estão sentados no sofá e assistem atentamente à TV, enquanto o Brasil enfrenta a Bélgica pelas quartas de final da Copa do Mundo da Rússia. O trio haitiano chegou há pouco tempo no País em busca de melhores oportunidades de vida.
Tímidos, falam entre si em crioulo e francês, línguas oficiais do país caribenho. Com a anfitriã, Maria José da Mata, os questionamentos são em português, ainda que ditos com certa dificuldade. As expressões, sejam de decepção ou alegria, também mostram certo acanhamento.
Moradores do Jardim Ana Rosa, em Cambé, Charite Samuel, Saint Rape Eliassant Junior Ronó e Rabel Sylverain têm os mesmos 26 anos de vida e fazem parte de um projeto da Cáritas – entidade de promoção e atuação social – que tem como objetivo atender aos imigrantes de diversas nacionalidades que chegam ao Brasil. Maria José é voluntária da Pastoral do Migrante da Paróquia Nossa Senhora de Fátima de Cambé e dá aulas de português, mesmo não tendo formação específica na área de pedagogia. Ela é assistente social em Londrina e uma vez por semana reúne o trio em uma das salas de catequese da paróquia. O material de aprendizado é fornecido pela própria Pastoral.
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“Cheguei até eles (haitianos) através de uma irmã da Igreja. Me pediram para trabalhar a questão do idioma. No início, um haitiano que está há mais tempo no Brasil me ajudou, mas ficou apenas cinco meses”, comenta. Sozinha, Maria disse que pensou em parar, mas uniu forças e seguiu em frente. “Disse para eles o seguinte: ‘Eu não falo crioulo nem francês, e vocês não falam o português. Mas a gente tem que se entender’”, completa ela, que presta o serviço há cerca de um ano. “Muitos vêm e vão. Estamos sempre ajudando alguém. O olho no olho faz a gente compreender muita coisa.”
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UM LUGAR MELHOR
No Brasil há cinco meses, Junior e Rabel destacam as dificuldades do país de origem. “O Haiti tem muitos problemas políticos, econômicos e sociais. Eu gosto do Brasil, quero trabalhar aqui, aprender uma profissão e entrar na universidade”, diz Junior, que estudava administração em sua terra natal e o que melhor fala português do trio.
Rabel, que era alfaiate, afirmou que o seu país vem de uma instabilidade política desde o golpe de Estado em 2004. “O Brasil é um país tranquilo. Tem muita segurança. Espero aprender uma profissão, trabalhar, alguns anos para a frente entrar na faculdade. Casar também. Acho que todos (os refugiados) queremos isso”, confessa Rabel.
Samuel é o mais “novo” do trio, com três meses de Brasil. Seu português não é dos melhores, o que dificulta a comunicação. Junior e Rabel trabalham como tradutores nas perguntas da reportagem. No Haiti, Samuel trabalhava como mecânico e soldador. “Vim sozinho para o Brasil. Prefiro ficar aqui, aprender português e começar a trabalhar.” Para matar a saudade da família, recorre ao celular. “Converso no WhatsApp todo dia com eles.”
De acordo com Maria, a ajuda não fica apenas no idioma. Ela também elabora currículos para os haitianos, que somente no início deste mês receberam a carteira de trabalho. “Nas aulas, também auxilio na hora que eles forem procurar emprego. Nessa dificuldade, a gente procura dar um pouco de conforto. Nos jogos do Brasil, eles vieram em casa, comeram e beberam. Me perguntavam o que significava cada coisa da partida em português. Sinto que devo acolhê-los bem e me sinto acolhida por eles. Nos tornamos amigos. É muito gratificante”, conclui.
O sonho do hexa acabou naquela tarde de sexta-feira para os brasileiros, e também para Junior, Rabel e Samuel. Os olhares não escondiam uma certa tristeza, mas também carregavam a esperança de um amanhã melhor, que ultrapassa o limite das quatro linhas. Assim, também, nós.
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- A COPA DO MUNDO - Paixão, Pátria e Saudades
- DATA DE PUBLICAÇÃO:
- 14 de Julho de 2018
- TEXTOS:
- Victor Lopes, Vitor Struck, Thiago Mossini, Edson Neves
- IMAGENS:
- Anderson Coelho, Edson Neves, Gina Mardones, Gustavo Carneiro, Marcos Zanutto, Patrícia Maria Alves, Ricardo Chicarelli e Vitor Struck
- IMAGENS RÚSSIA:
- AFP
- EDIÇÃO E PRODUÇÃO MULTIMÍDIA:
- Patrícia Maria Alves
- EDIÇÃO DE TEXTOS:
- Thiago Mossini e Fábio Galão
- EDIÇÃO DE FOTOGRAFIA:
- Sergio Ranalli
- ARTE:
- Fernanda Pardini, Patrícia Sagae e José Marcos da Silva
- APOIO LOGÍSTICO:
- Sérgio Fávaro, Zenil Costa, Vander de Silvio Martins, Jenes de Almeida
- DIAGRAMAÇÃO/IMPRESSO:
- Gustavo Andrade DESIGN/WEB Patrícia Maria Alves
- EDIÇÃO SITE:
- Erick Rodrigues
- SUPERVISÃO DE PROJETO:
- Adriana De Cunto (Chefe de Redação)
- 14 de Julho de 2018
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