'Vivemos uma pandemia de esteatose'
Também conhecida como doença hepática gordurosa não alcoólica, a incidência tem crescido muito porque está relacionado a um estilo de vida não saudável
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 07 de dezembro de 2020
Também conhecida como doença hepática gordurosa não alcoólica, a incidência tem crescido muito porque está relacionado a um estilo de vida não saudável
Mariana Freire - Folhapress
São Paulo - Presente em mais de 25% da população mundial, a doença hepática gordurosa não alcoólica é o agravo mais comum do fígado. Segundo especialistas, a incidência da condição, também conhecida como esteatose hepática, tem crescido de forma relevante porque está relacionada a um estilo de vida não saudável – característica muito forte da vida ocidental moderna.
Sedentarismo, alimentação inadequada e baseada em alimentos ultraprocessados e estresse contribuem para doenças como obesidade, diabetes e hipertensão, que, combinados, são fatores de risco para a esteatose. A doença ocorre quando as células do fígado acumulam triglicerídeos em excesso e o volume do órgão passa a ser formado por mais que 5% de gordura.
"Hoje vivemos uma pandemia de esteatose porque temos uma epidemia de obesidade", afirma Amélio Godoy Matos, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Segundo ele, 88% das pessoas com alto índice de gordura no fígado têm sobrepeso ou obesidade.
A doença hepática gordurosa representa um espectro. Ela começa com a esteatose e pode evoluir para esteato-hepatite (inflamação do fígado que, em nível mais avançado, pode apresentar fibrose), cirrose e até câncer. Cerca de 2% dos que têm a doença evoluem para o carcinoma.
De acordo com Claudia Oliveira, professora da Faculdade de Medicina da USP e membro da Sociedade Brasileira de Hepatologia, essa é uma doença silenciosa: nas fases iniciais, não apresenta sintomas, e leva, em média, mais de uma década para chegar ao estágio de esteato-hepatite. Apesar de não apresentar sintomas, o aumento a gordura no fígado está associado a riscos cardiovasculares, como infarto e AVC. Nas fases mais graves (a partir da fibrose ou cirrose), o paciente pode apresentar: sangramentos, cansaço, desânimo, cor da pele amarelada, inchaço nas pernas.
ESTILO SAUDÁVEL
Manter um estilo de vida saudável é a principal forma de prevenção e tratamento da doença, segundo os especialistas. Praticar atividade física e ter uma alimentação rica em frutas, verduras, legumes, carnes magras, cereais e bastante água são passos iniciais para isso, afirma Liliana Paula Bricarello, colaboradora federal do Conselho Federal de Nutricionistas.
"Essa é uma recomendação para toda a população, mas, para quem tem esteatose, é essencial que tire da dieta os alimentos cheios de açúcares, sal e gordura, especialmente gordura trans."
Quando detectada em estados iniciais, a esteatose tem cura baseada especialmente nesses cuidados de estilo de vida. Segundo Matos, já há melhora significativa do quadro da doença quando a pessoa perde de 7% a 10% do peso. Em casos mais graves de comprometimento do fígado, contudo, pode ser necessário até um transplante do órgão.